O aposentado Carlos Roberto Alves, aos 55 anos, morador do bairro Pozzobon, possuía histórico de cardiopatia grave e ao passar mal procurou atendimento no Mini-Hospital, onde foi liberado sem exames específicos e falecendo em casa, quatro dias depois. O caso foi registrado na Polícia Civil.
Jorge Honorio
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A família do aposentado Carlos Roberto Alves, aos 55 anos, que faleceu em decorrência de um infarto na madrugada do dia 6 de setembro, dentro de casa, no bairro Pozzobon, em Votuporanga/SP, acusa falha no protocolo de atendimento e negligência médica que resultaram na morte do patriarca.
Ao Diário, Joselaine Alves Carneiro, filha de Carlos Roberto, contou em detalhes a batalha pelo atendimento médico especializado que não chegou a tempo: “Ele morreu em meus braços na madrugada daquele sábado, na sala da nossa casa, mas a história não começa ali. A revolta é por isso, é por justiça, e para que outras famílias não passem por isso. A gente precisa falar sobre essas coisas.”
Uma vasta documentação enviada ao Diário demonstra que Carlos Roberto Alves, paciente com histórico de cardiopatia grave, portador de stent há cerca de 14 anos – quando sofreu o primeiro infarto, obeso, dentre outras comorbidades, era um paciente que demandava atenção.
“Ele passou por atendimento de um cardiologista no AME há três anos e não conseguiu mais retornar, as agentes aqui do Postinho do Pró-Povo, área que atendia ele, perguntou se ele estava sentindo-se mal, porque se tivesse, aí tentaria marcar uma consulta. A gente sabe que pacientes com esse histórico não podem ficar todo esse tempo sem retorno, sem uma avaliação. E não pode esperar um novo infarto, passar mal, beirar a morte para tentar agendar uma consulta”, contou.
Joselaine afirmou que, assim como a mãe Lucinéia Carneiro Alves, enfermeira por formação, notou, quatro dias antes que Carlos Roberto não estava bem. Com edemas inferiores, mal-estar e apresentando cansaço aos mínimos esforços, decidiram que era hora que procurar ajuda médica no Pronto Atendimento Fortunata Germana Pozzobon, o conhecido Mini-Hospital do Pozzobon.
O primeiro estranhamento dos familiares veio com o protocolo de atendimento, quando a médica pediu um raio X de tórax e exame de sangue, além de observação enquanto chegavam os resultados. Segundo a profissional de saúde, os exames de sangue constataram alterações, mas foram consideradas normais, já o raio X constatou um aumento considerável do coração, porém, Carlos Roberto recebeu alta médica e uma carta, a qual o Diário teve acesso, sugerindo seguimento ambulatorial para otimização das medicações, “tratamento para insuficiência venosa periférica. Sugiro verificar a possibilidade de canetas emagrecedoras ou Dapaglifozina via Alto Custo, devido quadro de cardiopatia DM Obesidade.”
“Estranhamos muito ela não encaminhar para a Santa Casa, pedir um eletrocardiograma ou qualquer outro exame mais específico, entender melhor a causa desse aumento de coração e de todos aqueles sintomas que indicavam um problema mais sério. A pressão dele estava 9 por 5 e mesmo assim, após umas quatro horas de atendimento ele recebeu alta e foi mandado para casa”, relembra Joselaine.
De volta para casa, Carlos Roberto não apresentou melhoras e os sintomas persistiram e evoluíram até a madrugada de sábado: “Era madrugada, estávamos só eu e ele, minha mãe estava de plantão. Eu dormia e ele foi ao meu quarto e me acordou, vi que ele não conseguia respirar direito. Chamei o Corpo de Bombeiros que demorou uns 14 minutos para chegar. Quando chegaram ele estava na cozinha e fizeram ele subir os degraus da escada da sala, momento em que ele já não aguentava mais e falei: ‘gente, pelo amor de Deus, ele não consegue nem respirar, quanto mais andar.’ Cadê o oxigênio? Não tem uma maca? Tenho câmeras pela casa que registraram toda essa movimentação e o desespero. Um bombeiro foi lá na viatura e trouxe o oxigênio, mas ele caiu no chão da sala. Ficaram por uns 40 minutos tentando trazê-lo de volta, mas não deu certo. Veio o SAMU, mas o médico só constatou o óbito”, relembra Joselaine.
“Em seguida, todos foram embora. Ficamos eu, minha mãe e ele caído ali no chão por quase uma hora até que o carro da funerária viesse. É muito desrespeitoso, o valor que dão às pessoas. Eu sei que nada vai trazer meu pai de volta. Minha avó tem o mesmo problema dele e está sendo tratada do mesmo jeito. A luta é para que meu pai tenha sido o último, mas infelizmente sabemos que pode não ser, pela demora no atendimento, pela negligência médica, pela falta de cuidado com as pessoas”, emendou.
O caso foi registrado na Polícia Civil e na Ouvidoria da Prefeitura Municipal de Votuporanga.
“Foi um conjunto de negligências médicas, desde o Postinho do Pró-Povo até o Mini-Hospital do Pozzobon. A médica não seguiu o protocolo, não solicitou um eletrocardiograma para um paciente com grave histórico cardíaco e que apresentava indícios claros de que algo não estava certo. Sequer manteve ele sob observação, mandou para casa sem se aprofundar”, afirmou.
“No caso ele, ele era obeso, então as pessoas focam no sobrepeso e esquecem de investigar o resto. A gente sabia da insuficiência cardíaca, do sobrepeso, de todos os problemas, mas um pouquinho de atenção e cuidado, talvez, pudesse ter garantido meu pai aqui comigo agora e, sabe-se lá quantos outras famílias já passaram e ainda vão ter que passar por isso”, emendou.
“Só buscamos Justiça! Só buscamos atendimento digno, não é pedir muito. No Postinho do Pró-Povo não tinha médico disponível, tendo sido agendado retorno apenas para a próxima terça-feira, dia 23, mas ele não vai, ele não está mais aqui. Então, só queremos Justiça”, concluiu Joselaine.
O que diz a Prefeitura de Votuporanga?
Procurada pelo Diário, a Prefeitura de Votuporanga respondeu em nota que: “O paciente citado foi atendido no Pronto Atendimento do Pozzobon, passou por exames e, embora apresentasse comorbidades, os sinais vitais estavam bons e os resultados dos exames não indicavam conduta médica diferente da que foi adotada. Portanto, todos os exames e procedimentos foram realizados corretamente. Considerando que o PA do Pozzobon é uma unidade de urgência e emergência, o paciente recebeu alta com orientações para seguir com acompanhamento de suas comorbidades.”