Exemplo para Thiago Silva, veterano enfrenta momento turbulento no São Paulo, mas impressiona preparador, médico, Bruno Guimarães e Jardine com cuidados em Tóquio 2020.
Daniel Alves tem tudo para ser o jogador mais velho a disputar uma partida de Copa do Mundo do Brasil – e superar a marca de outro lateral, Djalma Santos, que atuou em 1966 com 37 anos. Se a concorrência é dura com Danilo, titular e bem em todas seis partidas das Eliminatórias até aqui, o veterano lateral do São Paulo, que completa 38 dia 22 de setembro, faz de tudo e mais um pouco para chegar em plena forma no Catar.
Se não passa por momento de leveza no São Paulo, com questionamentos desde que foi para Tóquio 2020 dar mais uma volta olímpica na carreira, o jogador está perto de bater mais esse recorde na Copa que será disputada em novembro do ano que vem, quando ele terá 39 anos.
Quem conhece esse baiano garante que a idade e a distância até o próximo Mundial não há de ser nada. Dani Alves é obcecado pelos cuidados com o corpo. Em entrevista ao ge, Thiago Silva contou que começou processo de mudança na alimentação ao observar a rotina de Daniel.
A Seleção enfrenta o Chile nesta quinta-feira, em Santiago, às 22h. No domingo e na próxima quinta, novamente com cobertura completa do grupo Globo, o Brasil enfrenta a Argentina, em São Paulo, e o Peru, no Recife, respectivamente nos dias 5 e 9 de setembro.
– Foi um dos caras que me motivou a mudar a minha alimentação. Não que ele falasse “Thiago, está errado isso, isso está certo”. Mas só a maneira de ver como ele se alimenta, você vê porque ele está rendendo e você pensa que isso não pode ser um problema – contou Thiago Silva.
Dois Marcos têm boas histórias sobre a forma e o cuidado de Daniel Alves com o corpo. Marcos Seixas e Marco Azizi, preparador físico e médico do Fluminense, respectivamente, tiveram as mesmas funções na olimpíada de Tóquio. Saíram de lá impressionados.
Daniel Alves foi convocado pela primeira vez em outubro de 2006. Tem 119 jogos pela Seleção, fez oito gols e deu 21 assistências. O Chile, adversário de quinta, é um dos três que mais enfrentou. Argentina e Peru, completam a lista da trinca que mais vezes jogou contra com a amarelinha. Justamente os adversários dessa rodada tripla das Eliminatórias.
– Tudo dele é no superlativo – conta o médico Marco Azizi, que era quem fazia controle nutritivo dos atletas.
Seixas dá um exemplo prático que foi compartilhado por Bruno Guimarães em entrevista recente ao ge. O meio-campista do Lyon de 23 anos, campeão olímpico e também convocado para jogar a rodada tripla das Eliminatórias, brincou e contou que a garotada precisou pegar no pé dele depois da medalha de ouro no bolso.
– Era impressionante o cuidado que ele tinha com a alimentação – conta Marquinhos, como é conhecido o preparador físico tricolor.
– É comum depois dos jogos, das vitórias, das classificações, a gente permitir uma relaxada nos cuidados dos atletas. Para beber refrigerante, cervejinha, batata frita, hambúrguer, pizza. Mas, mesmo assim, ele ia para a salada, fazia aquele momento inicial cuidando bem dos nutrientes para depois dar uma relaxada, tomar cervejinha e comer um hambúrguer – conta o preparador do Fluminense.
Resistência x potência
Existe um ponto de atenção que é inerente à idade avançada do atleta Daniel Alves. Apesar da definição do preparador físico da seleção brasileira principal, Fabio Mahseradjan, que comentou dos níveis de resistência excelentes do jogador, o que lhe permite 90 a 120 minutos de partidas sem dificuldade aos 37 anos, a força e a potência variam.
Na coletiva da convocação no dia 13 de agosto, Mahseradjan definiu como “regulares” os níveis de força e potência. Tem a ver também com a própria compleição física de Daniel, um jogador que nunca foi de tanta força e velocidade, por exemplo. Sempre se sobressaiu pela técnica.
O técnico da seleção brasileira olímpica André Jardine revelou, em entrevista ao “Sexta Estrela”, que termia queda física de Daniel num torneio de jogadores de 23 e 24 anos, mas se surpreendeu.
– Eu tinha esse receio de que talvez pudesse lhe faltar alguma coisa de parte física, porque às vezes esses jogos são até mais corridos do que da principal, mas fiquei muito impressionado com a capacidade que ele tem de jogar, de “atalhar”, de esta sempre muito bem posicionado. Ele é atleta do mais alto nível que eu já conheci – comentou Jardine.
Além da alimentação, dos cuidados no dia a dia, o jogador mantém a rigidez com sono controlado. Os membros da seleção olímpica relatam que Daniel sempre era o primeiro a chegar no café da manhã – refeição que em alguns momentos da competição foi liberada aos atletas, para descansarem mais.
– Enquanto os outros dormiam mais, ele tinha uma rotina muito regrada, de acordar cedo. Então realmente acho que ele vai aguentar sim – disse o treinador da seleção sub-20.
Preparador em Tóquio, Marcos Seixas também aplaude Daniel Alves e aposta na capacidade cognitiva do jogador para compensar limitações físicas que a idade impõe a qualquer um.
– Essa questão da força e potência é algo que se perde ao longo do tempo. Não se suporta tanto essas constantes mudanças de direção, de esforço, os contatos físicos, os confrontos que ocorrem durante uma partida. Então vai ter um pouco de dificuldade de enfrentar o um para um em alguns momentos. Agora, tem outra variável, que é a capacidade cognitiva dele de ocupar melhor os espaços e suprir estes pontos. Ele é o tipo de atleta fantástico que consegue atenuar algumas capacidades físicas e potencializar outras – diz Marquinhos.
*Informações/ge