Fernando Calubri e sua esposa Néia Anjos
Estância FC propriedade de Fernando Calubri e sua esposa Néia Anjos
Néia Anjos mantendo até hoje à tradição das comidas típicas da safra do milho
É tempo de safra do milho aqui na região de Votuporanga. Estamos numa das regiões onde a época representa, historicamente, colheita e celebração. Muitas famílias se reúnem e ainda mantém o costume de fazer comidas e doces todos derivados do milho. Pamonhas, curau, bolo de milho, suco de milho, etc. Quem não gosta ao menos de uma dessas guloseimas?
Segundo Néia Anjos proprietária da Estância FC localizada no município de Votuporanga manter a tradição de reunir a família para fazer pamonhas e outras comidas na época de safra é um ato de amor, “Tudo isso me remete ao passado, o carinho da família, o abraço da minha mãe, um sentimento indescritível”.
“Eu e meu marido Fernando Calubri não colhemos simplesmente o milho. A gente planta, colhe e depois fazemos com amor, o bolo, o curau, pamonhas e outras comidas que levam o cereal”, explica Néia.
“Ver um descascando, outros ralando, as mulheres cozinhando, sentir o cheiro da pamonha fresquinha é poder recordar com saudades um momento de união de nossa família. Relembrar velhos momentos de um passado cheio de muito amor, isso não tem dinheiro que pague”, relata com entusiasmo.
“Manter essa cultura de reunir à família e amigos ainda hoje é para mim, lembrança afetiva, saudade e estima, um momento ímpar e de extrema importância para a minha família principalmente nos dias atuais, onde à maioria das pessoas não dão valor a união”.
A família Pelissari também mantém o costume
Dona Etelvina Rodriguez Munhoz Pelissari com o neto
Família Pelissari
“A gente costuma comemorar muito. Antigamente, a minha família plantava milho, para colher na época da safra e juntos em festa preparávamos tudo em casa, era sempre uma festa”, diz dona Etelvina Rodriguez Munhoz Pelissari que é de origem espanhola e dona do mercado “Da Roça Quitanda” que fica aqui na cidade.
“Hoje em dia, a gente passou a comprar o milho porque é mais prático, mas ainda tenho muitos amigos que cultivam e colhem para cozinhar os pratos desta época. Este ano, muitas outras coisas estão diferentes”, afirma ela.
“A mudança por conta do novo coronavírus alterou os planos de muitas famílias que mantém essa tradição, esse ano, como não pode ter aglomeração com mais de 10 pessoas, eu e meu marido vamos fazer somente com nossos filhos e netos, infelizmente não podemos chamar nossos amigos, mas faço questão de presenteá-los e assim cada casal amigo poderá fazer uma reunião na sua casa.”
“Sempre gostei de cozinhar, todo mundo da família gosta. Modéstia à parte, tudo o que eu faço, o pessoal elogia. As comidas típicas derivadas do milho sempre estiveram presentes na minha vida, porque minha mãe amava e eu aprendi com ela a maioria dos pratos. Antes mesmo de me casar eu já sabia fazer pamonha, curau e bolo” relembra com um olhar saudoso.
“Adoro o cheiro do fogão a lenha, de milho assado, da pamonha fresquinha… Tudo isso remete muito à minha infância. Isso fortaleceu meus laços com esses costumes”, conta.
“Ao longo do tempo e hoje com tantas facilidades, o costume vai se perdendo, mas se mantém muito forte na minha família e muito viva essa tradição no meu coração, um momento único de união com meu marido Geraldo Pelissari, meus filhos Gílson, Mariela e Sandra e agora com meus netinhos”. finaliza dona Etelvina.
Há pratos feitos de milho que variam conforme a região, como a pamonha, muito comum em Goiás e em Minas Gerais, e a polenta, tradicional entre os gaúchos. Já os nordestinos costumam usar o milho para fazer cuscuz, que pode ser consumido com ovo ou carne-seca.
Como se sabe, ao lado da tragédia humana, que já ceifou a vida de milhares de brasileiros e da obrigação sanitária e civilizatória de mantermos a quarentena e o isolamento social por conta da transmissão invisível do coronavírus, todo o clima pesaroso e os cuidados que o momento exige impossibilita logicamente qualquer tipo de reunião ou comemoração, mas isso não impede, porém, que se possa sentir o gostinho daqueles encontros felizes e de confraternização vividos em família.
No período de colonização do Brasil, os portugueses trouxeram para cá essa tradição. Os costumes se misturaram com os rituais dos nossos índios, que por sua vez introduziram e incorporaram à mesa preparações culinárias à base de mandioca e milho, dois de seus alimentos basilares.
Presente em todas as culturas e civilizações do nosso continente e base da alimentação das antigas populações indígenas, dos Incas aos Maias e dos índios norte-americanos aos tupis-guaranis brasileiros, o milho é uma das maiores contribuições das Américas para a alimentação e culinária mundiais!