Votuporanga tem passeatas e aulas públicas

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Manifestações contra a Reforma da Previdência e contra os cortes das verbas para a Educação aconteceram em Votuporanga e em todo o Brasil

 

Aconteceu ontem (14) em Votuporanga, às 9h, uma passeata contra a Reforma da Previdência do Governo Jair Bolsonaro, concomitante a outras manifestações em diversas cidades do país. Uma greve geral foi convocada, e trabalhadores de todos os estados cruzaram os braços em forma de protesto.

Nas cidades do Rio de Janeiro e em São Paulo houve bloqueio de vias, e a polícia fez uso de bombas de gás para dispersar os protestos. Pneus queimados e fogo também foram registrados em Florianópolis, Porto Alegre, João Pessoa, e diversas outras cidades. Alguns ônibus foram apedrejados em Salvador e uma mulher foi internada em estado grave por inalar fumaça em Belo Horizonte.

Em Votuporanga o evento pela manhã foi tranquilo e com caráter educativo, assim como sua continuação pela tarde com aulas expositivas no Parque da Cultura. A pauta foi a Reforma da Previdência. A presidente do PT Votuporanga e membro do Coletivo Resistência, Rosa Chiquetto, discursou durante a passeata: “nós não podemos nos basear apenas na grande mídia, que diz que essa reforma vai resolver o problema do país, e esquecer de verificar a nossa posição pessoal, o que vai acontecer com a nossa vida daqui a 15 anos”.

Voluntários dos coletivos que apoiavam a passeata espalhavam panfletos e adesivos sobre o tema. “não é um panfleto político, ele foi copiado do jornal Folha de São Paulo, onde mostra claramente as novas regras da aposentadora. Se você é a favor dela tudo bem, nós respeitamos, mas você precisa saber exatamente o que vai ser modificado”, disse Rosa Chiquetto.

Sobre a previdência, ela comentou que não se trata apenas de aposentadoria, mas de um sistema de seguridade social. “Com a verba da previdência muitas obras sociais são financiadas. A partir do momento em que passarmos isso para os bancos, esse dinheiro será aplicado única e exclusivamente no tesouro nacional. Quer dizer, o governo vai pagar os juros pra nós, e esse dinheiro vai deixar de ser aplicado nos benefícios sociais, nas obras sociais, nas construções de pontes e rodovias, no programa Minha Casa, Minha Vida”.

As passeatas de sexta-feira também serviram de continuidade dos protestos contra o contingenciamento da verba para a educação do Governo Federal. O professor Carlos Eduardo, do Instituto Federal, explica o motivo dessa terceira manifestação: “as últimas passeatas não tiveram efeito nenhum por parte do governo, o contingenciamento ainda continua, e é por isso que uma das pautas dessa passeata também é, e continua sendo, contra os cortes e contingenciamentos na educação federal, além da reforma da previdência”. Alguns alunos do IF também participaram da passeata.

Sobre as propostas alternativas, ainda há divergência sobre quais as melhores, ou mesmo se é necessária uma reforma. Carlos Eduardo acha que as reformas são necessárias, mas não essa. “Até por conta do aspecto demográfico, as pessoas estão vivendo mais, a população aumentou, tudo bem, ninguém é contra uma reforma da previdência, todos os países assim fazem. Mas como ela está sendo proposta, caindo só sobre os ombros dos trabalhadores, só a gente pagar o pato, essa reforma todos nós somos contra”, diz.

Um dos pontos da reforma que o professor é contra é o sistema de capitalização, proposto por Guedes em fevereiro desse ano. A capitalização é uma espécie de poupança que o trabalhador faz para garantir a aposentadoria no futuro, na qual o dinheiro é investido individualmente, ou seja, não ‘se mistura’ com o dos demais trabalhadores. A quantidade de dinheiro guardado pelo trabalhador será a que ele receberá no futuro. Já o modelo atual é o de repartição, no qual quem contribui hoje paga os benefícios de quem já está aposentado.

A ideia é que a capitalização substitua gradualmente o atual sistema, chamado de “esquema pirâmide” pelos apoiadores do governo. A modificação, inclusive, foi uma das promessas de campanha de Bolsonaro.

Para Guedes, o envelhecimento da população brasileira torna o atual modelo de repartição insustentável. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a relação de dependência no Brasil vai saltar dos 11% atuais para 36% até 2050. Ou seja, para cada 100 adultos aptos a contribuir, o país terá 36 idosos para receber aposentadoria.

Carlos Eduardo não acha uma boa ideia. “O sistema de capitalização não deu certo no Chile, na verdade a própria Organização Internacional do Trabalho publicou uma pesquisa recentemente dizendo que 60% dos países que adotaram esse sistema tiveram que revisá-lo mais tarde. E se a pessoa ficar doente, e se a pessoa ficar desempregada, como vai ser no final da vida dela?”, diz.