Um homem da região contra a mancha de óleo

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O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles (esq.), e Olivaldi Azevedo (verde escuro) em praia do Sergipe (Arquivo Pessoal)

Diretor do Ibama, que é nascido em Votuporanga, é policial ambiental de Rio Preto e coordena contenção de vazamento de óleo no litoral

 

Vinte e cinco animais mortos, 900 toneladas de óleo já retirados do litoral nordestino e nove Estados afetados. Esse é o saldo parcial do “maior desastre ambiental num incidente na costa brasileira”. A afirmação é de quem lida pessoalmente com a mancha de óleo que tomou conta das praias do Nordeste, o major da Polícia Ambiental Olivaldi Alves Borges de Azevedo, que nasceu e cresceu na região e atualmente é diretor de proteção ambiental do Ibama.

“Como diretor, estou trabalhando muito fortemente, desde 2 de setembro, quando surgiram as primeiras manchas, no litoral de Pernambuco, no monitoramento e retirada deste produto das praias”, diz Olivaldi, que também é professor de direito ambiental.

Nesta quinta-feira, 24, Olivaldi completa  52 dias na coordenação de 90 técnicos ambientais. E enfrenta um desafio: conter o avanço da mancha de óleo nas praias e resguardar a fauna marinha. “Este é o maior desafio ambiental na costa brasileira enfrentado pelo governo federal, num incidente mesmo. Os nossos planos de contingenciamento, equipamentos, barreiras de contenção são todos projetados para conter petróleo fabricado no Brasil, que são mais finos. Se fosse óleo cru brasileiro, já teríamos contido as manchas em alto mar ou na própria costa, antes de atingir as praias. Acontece que estamos lidando com um óleo muito denso, que só aparece na arrebentação da maré”, explica o diretor.

Segundo Olivaldi, o avanço das manchas chegou até as praias de Salvador, capital da Bahia, mas por enquanto sem risco de avançar para o litoral do Sudeste.

As investigações conjuntas de técnicos do Ibama, Marinha e da Petrobras chegaram à conclusão que o petróleo cru é de origem venezuelana, mas ainda não se sabe como chegou à costa brasileira. A maior suspeita é que o produto venha do naufrágio de um algum navio petroleiro pirata que passava por águas internacionais, mas perto da costa do Brasil.

“Infelizmente, tivemos 18 tartarugas que morreram, mas conseguimos salvar mais de 2.814 filhotes no litoral. A investigação da Marinha procura por meio de radar um navio que possa ter atravessado os mares próximos à nossa costa, mas que navegam com transponder desligado (equipamento náutico), o que acontece com os navios clandestinos”, explica o diretor.

O trabalho dos técnicos do Ibama, do Exército, da Petrobras e de voluntários tem sido basicamente a limpeza manual das praias, com luvas e pás para retirada das manchas de óleo das praias. Azevedo afirma que o Ibama não tem autorizado o uso de máquinas pá carregadeira porque há risco de causar mais danos ambientais. “Contamos com apoio de técnicos do mundo todo, que já acompanharam mais de 800 acidentes ambientais deste tipo.”

 

 

Queimadas

 

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A diretoria de proteção ambiental do Ibama enfrentou outro grande desafio no mês passado, que foi o combate às queimadas na floresta amazônica. Segundo Olivaldi, a tarefa teve articulação entre os ministros do Meio Ambiente, Ricardo Salles, e da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, com coordenação do presidente, Jair Bolsonaro, que deu poder de polícia ao Exército para punir os crimes ambientais.

“Foi expressiva a ajuda das Forças Armadas no combate aos incêndios, que resultou na diminuição no combate aos focos. Isso surtiu efeito”, afirma o diretor. As queimadas começaram na floresta, mas atingiram também áreas verdes da caatinga e do cerrado.

Durante as investigações sobre as causas, Olivaldi afirma que ocorreram diversas prisões de suspeitos. “Tinha um pessoal que fez convocação por meio de grupo de WhatsApp para promover queimadas. A PF conseguiu levantar todas as pessoas que estavam ateando fogo na floresta. Isso mostra a força do governo. Não é você promover algo pelo WhatsApp que vai ficar imune à Lei”, diz o diretor.

Planos para 2020

O diretor adianta que, após o fim do combate às manchas, o Ibama vai iniciar o planejamento das ações para o ano que vem. Ele afirma que até o momento trabalha com as metas estabelecidas no órgão durante o último ano da gestão de Michel Temer.

“Quando eu cheguei no Ibama em fevereiro deste ano, dei continuidade a este plano. Nada do que foi programado foi desvirtuado. Mas em 2020 vamos propor ações voltadas para o que gente pensa ser ideal”, afirma. O foco principal deve ser na prevenção contra desmatamento na região amazônica.

Policial ambiental

Nascido em Votuporanga, Olivaldi Azevedo foi para Rio Preto aos 9 anos. Toda família foi morar no bairro Cecap, onde ele viveu boa parte de sua juventude. Em 1989, ingressou na Polícia Militar e escolheu trabalhar na Polícia Ambiental em Rio Preto, onde ficou até 1991. Após passar pela Academia de Oficiais do Barro Branco, em São Paulo, foi para o Batalhão de Choque de São Paulo, para depois retornar para a Polícia Ambiental.

Olivaldi, que é pai do advogado Olivaldi Rodrigues Azevedo, diz que o trabalho faz com que raramente tenha tempo de visitar Rio Preto, mas estará naquela cidade neste sábado, 26, para o aniversário de Lucinda Mezzanini, mãe de sua esposa, Meire Azevedo.

 

Demora na resposta

O Plano Nacional de Contingência do governo federal, um documento criado em 2013 para lidar com situações de emergência como a do vazamento de petróleo que suja todo o Nordeste brasileiro, só foi oficialmente formalizado pelo ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, no dia 11 de outubro, 41 dias depois de terem surgido as primeiras manchas de petróleo no litoral.

Naquela data, o ofício circular assinado por Salles e enviado à Casa Civil da Presidência da República tratava, na realidade, de apenas designar a Marinha do Brasil como “coordenadora operacional” das ações, para prosseguimento no combate às manchas de óleo.

Cópias do ofício foram encaminhadas a 12 ministros, ao Ibama, ICMBio e à Agência Nacional do Petróleo. Na prática, tratou-se de um ato formal do governo, uma vez que a Marinha já vinha atuando nas operações. O que membros do governo e especialistas no setor de meio ambiente apontam, no entanto, é que trata-se de mais uma evidência de que, na realidade, o próprio governo desconhecia que havia um plano de contingência para lidar com esse tipo específico de situação.

O Ministério nega lentidão nas respostas e diz que, desde o começo, todos os órgãos já estariam em ação, independentemente de o plano ter sido acionado logo de início. Segundo o MMA, desde 2 de setembro houve ação do Grupo de Acompanhamento e Avaliação (GAA), composto por Marinha, Ibama e ANP. (Agência Estado) – (Marco Antonio Santos – Diário Web)