Operação cumpre mandados em imóveis ligados a médico apontado como chefe de esquema que desviou milhões da saúde

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Foto: reprodução

Cleudson Montali é investigado na operação Raio X, que apura desvio de verba em contratos fraudulentos da Saúde por meio de OSs. Quatro mandados de busca foram cumpridos no noroeste paulista; entre os alvos desta fase da operação está o ex-governador de SP, Márcio França (PSB).


Policiais civis cumpriram quatro mandados de busca e apreensão na região de Araçatuba/SP, nesta quarta-feira (5), durante desdobramento da Operação Raio X, que investiga uma organização criminosa acusada de desviar dinheiro público da Saúde.

Segundo a Polícia Civil, no total foram cumpridos 34 mandados de busca e apreensão domiciliar nas regiões de Araçatuba, Bauru, Baixada Santista, Campinas, Capital e Presidente Prudente. Não foram expedidos mandados de prisão nesta fase da operação.

No noroeste paulista, os mandados foram cumpridos em casas e unidades de saúde de Araçatuba, Bilac, Clementina e Birigui. Os locais são ligados ao médico anestesista Cleudson Garcia Montali, apontado como líder do esquema.

Cleudson foi preso na fase anterior da operação e está na penitenciária de São José dos Campos. Em agosto de 2021, o médico foi condenado a 104 anos de prisão em regime fechado.

Márcio Franca (PSB), tomando café na Padaria Gemel, na Vila Mariana, zona sul de São Paulo, durante ação de campanha eleitoral — Foto: ANANDA MIGLIANO/O FOTOGRÁFICO/ESTADÃO CONTEÚDO/ARQUIVO

O ex-governador de São Paulo, Márcio França (PSB), e o irmão dele, Cláudio França, também são alvos na investigação, que começou em Araçatuba e apura crimes de peculato, organização criminosa e lavagem de dinheiro.

Segundo a apuração realizada pela Polícia Civil e pela Controladoria Geral do Estado, membros de uma organização criminosa desviaram dos cofres públicos aproximadamente R$ 500 milhões, valores estes que tinham por destino a utilização em aparelhos públicos prestadores de serviços de saúde.

Márcio França publicou nas redes sociais que a operação se deu a partir de falsas alegações de cunho político eleitoral.

A imprensa procurou a defesa do médico Cleudson Garcia Montali, mas não houve retorno até a publicação desta reportagem.

Médico Cleudson Garcia Montali na delegacia de Araçatuba — Foto: Lázaro Jr./Arquivo

Líder do esquema

Investigações realizadas pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) e pela Polícia Civil apontaram que a organização criminosa era liderada pelo médico Cleudson Garcia Montali. O anestesista, que foi diretor em várias unidades de saúde, chegou a ser homenageado com o título de cidadão Emérito nos municípios de Birigui e Agudos.

Por meio da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Birigui e Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Pacaembu, Montali celebrou contratos de gestão mediante licitações fraudulentas com o poder público para administrar a saúde de diversos municípios e desviando parte do dinheiro repassado por força do contrato de gestão às referidas Organizações Sociais.

Cleudson Montali recebeu título de cidadão Emérito da Câmara de Birigui em 2016 — Foto: Reprodução

O Gaeco e a Polícia Civil descobriram um esquema de desvio de dinheiro público extremamente orquestrado e sofisticado por meio de contratos de gestão não apenas em Birigui, mas em diversas cidades paulistas, além de outros estados.

Segundo o g1 apurou, as investigações mostraram que a organização criminosa, mediante acordos previamente firmados com as prestadoras de serviços contratadas, desviou grande parte das quantias repassadas às Organizações Sociais (OS), ora por meio de superfaturamentos, ora por meio de serviços não executados, sempre mediante emissão de notas frias.

Os atos criminosos ocorreram de maneira reiterada, sendo que parte do dinheiro desviado foi objeto de lavagem de dinheiro. Além dos crimes citados, as investigações apontaram também que os alvos da operação teriam praticado crimes de corrupção ativa e passiva, além de falsidades ideológicas.

As investigações também demonstraram que a organização, que viu o atual cenário da pandemia como uma oportunidade única para desviar dinheiro, contava com uma vasta rede de contatos criminosos em diversas localidades.

No caso de Cleudson, por exemplo, ele conseguia efetuar o crime por meio de pessoas interpostas, dirigindo as OSs nas quais efetuava desvios milionários. Embora Cleudson já estivesse sendo investigado e alegado que iria se afastar das Organizações Sociais, o mesmo não ocorreu.

g1 apurou também que as investigações ainda apontaram que Cleudson adquiriu outras duas novas OSs justamente como forma de ampliar seus horizontes.

Polícia Civil em frente à Santa Casa de Birigui — Foto: Márcio Zeni/TV TEM/Arquivo

Segundo o Ministério Público, Cleudson agia por meio das Organizações sociais de Birigui e Pacaembu, e chegou a agir em outros estados, desviando milhões em plena época de pandemia gerada pelo coronavírus.

O Gaeco e a Polícia Civil descobriram que alguns denunciados ocultaram, destruíram e até mesmo queimaram provas, enquanto outros falsificaram documentos para obstruir e dificultar a investigação envolvendo as Organizações Sociais.

O Fantástico apurou que alguns dos acusados de participar da quadrilha levavam uma vida de milionário, comprando mansões, carros importados, aviões e helicópteros.

Dois anos de investigação

A investigação, que durou mais de dois anos e culminou com a prisão de mais de 50 pessoas durante a Operação Raio X, apontou que as organizações sociais de Cleudson cresceram rapidamente e fecharam contratos em 27 cidades de quatro estados: Pará, Paraíba, Paraná e São Paulo.

Segundo o Fantástico apurou, a quadrilha, que tinha a participação de políticos, desviou R$ 500 milhões, que deveriam ter sido investidos em hospitais e no tratamento da Covid-19.

Em muitas das vezes, os políticos estavam envolvidos para ajudar na primeira fase do esquema, o fechamento de contratos com o poder público.

*Informações/tvtem/g1/Adrieli Fiorani e Janaína de Paula