Nostalgia na ponta da agulha

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O colecionador Maurício Movio com seu vinil mais raro, Tim Maia - Racional e um de seus top preferidos, Pink Floyd - The Dark Side of the Moon.

Com mais de 500 vinis na coleção, Maurício Movio, conta como se tornou um
colecionador de bolachões mesmo em meio a disseminação das plataformas de
streaming. Em entrevista, ele ainda afirma que o mercado é efervescente e pode se
tornar uma oportunidade de negócio.
 

A icônica capa de Clube da Esquina, a que Maurício mais gosta dentre
sua coleção.

@leidiane_vicente
Quem não se lembra de alguma cena de cinema, onde o casal começa a interação entre a
escolha de um vinil, colocado delicadamente no aparelho, e um tim tim de taças de vinho.
Algum tempo depois, a sedução e o apaixonamento entre os dois acontece. E, então, corta!
Eles já foram para o quarto, mas o toca disco roda calado da última música acabada.
É nesse clima de nostalgia total que vive o comerciante Maurício Móvio, 38 anos, morador
da cidade de Sebastianópolis do Sul, município de três mil habitantes, localizado no
interior de São Paulo. Todos os dias, ele seleciona um, entre os seus mais de 500 vinis, para
relaxar, sentir e curtir música. Dentre sua coleção, estão os mais variados estilos musicais,
como rock, mpb, reggae, hip hop, samba, blues e jazz. A escolha vai depender apenas do
seu humor.
“É quase uma terapia. É um momento de relaxar e prestar atenção só na música”, conta ele,
que começou a colecionar os bolachões na pandemia da Covid-19, por necessidade de ter
com o que se distrair.
A chegada do vinil, no Brasil, foi por volta dos anos 1950, mas seu auge durou até meados
de 1996. Foi só em 2010, que os LPs (Long Play) ressurgiram. Bem na contramão das
plataformas de streaming, onde as pessoas tem acesso, com apenas alguns cliques, a
praticamente todo o repertório musical mundial, seja pelo smartphone ou computador.
“A música se tornou muito descartável com toda essa facilidade dos streamings. Surgiu a
necessidade novamente do ritual de sentar e ouvir atentamente um álbum com começo,
meio e fim e todo seu contexto”, explica Maurício.
Mas não é só, além da sensação nostálgica, também tem a qualidade auditiva do vinil, que
nada tem a ver com os famosos “chiadinhos”. Muito pelo contrário. Com o disco limpo, sem
riscos, um bom aparelho e caixas de qualidade, não existe essa de ruídos. O som é limpo e
extremamente fiel.
Para não deixar a desejar na sonoridade, Movio conta com dois aparelhos. Uma eletrola
Phillips original da década de 1970, onde costuma ouvir os discos de jazz e blues. Já para
outros estilos, prefere o Audio Technica AtLp120, fabricado em 2022.
Nessa ampla coleção não poderia faltar algo raro: “Tim Maia – Racional. Que é um disco
que foi retirado das lojas na época, pois o cantor havia se decepcionado com a seita em que
fazia parte. Então essa versão original se tornou muito rara, chegando a valer mais de R$

1.000,00”, diz ele emocionado por ter essa obra. Quanto ao mais estimado em valor, é o
box do grupo musical Racionais MC's, que chega a custar até R$ 2.000,00.
Em se tratando do mais recente e o mais antigo, Maurício procura entre os de jazz. “Esses
de 1950 devem ser os mais antigos que eu tenho”, já o mais recente é da banda Black
Pantera – Perpétuo, lançado em maio, deste ano.
Sobre o seu top 5 favoritos ele selecionou: Titãs – Cabeça Dinossauro, Pink Floyd – Dark
Side of the Moon, Led Zeppelin – lV, Milton Nascimento – Clube da Esquina e Belchior –
Alucinação.
A vida de colecionador, assim como os seus discos, tem seu lado A e lado B. “Lado A é
chegar em casa, abrir uma cerveja e colocar algo pra tocar, o lado B talvez sejam os
cuidados: lavar os discos, limpar as capas, regular o equipamento, peso de agulha e tudo
mais”, desabafa ele, mas complementa que sempre vale a pena mergulhar nesse universo
que só uma mídia física proporciona.
Sobre ampliar a sua coleção, Maurício fala que a meta é mil discos, depois disso já se
sentiria meio acumulador. Para o futuro desse arsenal de LPs muito bem selecionados, ele
afirma que gostaria que seus filhos curtissem e cuidassem como uma herança.
Apesar de já ser comerciante do ramo alimentício, Movio também compra vinis para
revender. Perguntado sobre ser um bom negócio, ele fala: “Todo colecionador, em algum
momento acaba virando um vendedor. Aparecem boas oportunidades de negócios com
discos legais para serem revendidos e até trocados”. Ele revela que os grupos de
WhatsApp são uma grande fonte de compartilhamento de informações, tanto para vender,
como comprar novos ou usados.
Há seis anos imerso nessa atmosfera de música e mídia física, Maurício não poderia deixar
de dar um recado para quem está pensando em iniciar sua coleção: “Tenha paciência.
Pesquise muito bem sobre aparelhos, caixas de som, e tenha muito cuidado na compra de
discos usados, principalmente, no que diz respeito ao seu estado.”
Fabricação de vinil no Brasil
Atualmente, o Brasil conta com três fabricas de LPs. A Polysom, localizada na cidade do Rio
de Janeiro, também no Estado do Rio, em Petrópolis, se encontra a Rocinante e em São
Paulo, capital, a Vinil Brasil.
Todas elas se encontram em plena atividade.