Da Redação
Durante a pandemia, os profissionais de saúde têm sido as principais vítimas do coronavírus. Em Rio Preto, já foram 656 trabalhadores da área diagnosticados com a doença, número que representa 19% dos casos no município. O pediatra Antônio Augusto Cais dos Santos, 68 anos, de São Jose do Rio Preto, foi um dos que contraíram o vírus durante a pandemia e que conseguiu se recuperar.
“Comecei a sentir os primeiros sintomas como dor de cabeça, dor de garganta e uma tosse seca. Realizei o exame PCR e fui diagnosticado. No começo, fiquei apreensivo, mas não me desesperei. A Hidroxicloroquina e a ivermectina, além de outros medicamentos, me ajudaram no começo do tratamento, quando tive uma melhora significativa. Já havia me consultado com colegas sobre o uso destes medicamentos e acredito foram graças a eles que não precisei ir para uma UTI”, contou o pediatra, que não chegou a ser internado e ficou em quarentena durante o período com a doença.
De acordo com Santos, o período mais difícil foi após o 9° dia. “Não conseguia sentir o sabor da comida e tinha calafrios. Fiz muitas orações e graças a Deus hoje já me sinto melhor”, afirmou. De acordo com ele, outros membros de sua família também tiveram a doença e estão recuperados.
Segundo o médico, ele ainda tem dificuldades em sentir o sabor, mas não sente mais os calafrios. “Tive que trabalhar durante esse período, pois meus pacientes precisavam de mim, então aceitei correr o risco. Hoje não sinto mais falta de ar e estou fazendo fisioterapia. Só não voltei a trabalhar ainda pois fui recomendado a ficar mais um tempo de repouso”, comentou.
Na terça-feira (7), o presidente Jair Bolsonaro foi diagnosticado com Covid-19 e afirmou estar usando a Hidroxicloroquina em seu tratamento. “Tomei a cloroquina e a azitromicina. O primeiro comprimido ontem (segunda-feira), foi ministrado e confesso que depois da 0h eu consegui sentir uma melhora. Às 5h, tomei o segundo comprimido de cloroquina e estou perfeitamente bem”, afirmou o presidente.
Em Rio Preto, o Sindicato dos Médicos já disse não se opor ao uso do medicamento. O Conselho Federal de Medicina (CFM) não recomenda o uso da droga, mas autorizou a prescrição em situações específicas, inclusive em casos leves, a critério do médico e em decisão compartilhada com o paciente.
Em live da última quarta-feira (1), o secretário de saúde Aldenis Borim falou especificamente sobre o uso da ivermectina. “Esse comitê, desde o primeiro dia, se baseia sempre em dados científicos. A ivermectina não tem nenhum trabalho científico consistente publicado que leva a cidade a fazer um protocolo específico para ela. Gostaríamos de esclarecer que não proibimos o uso da ivermectina. Se o médico entender que deve receitar e se tiver disponibilidade na Secretaria de Saúde, nós iremos atender”, comentou. (DL News)
A polêmica sobre o tratamento precoce para a Covid-19, criticado por entidades médicas
Enquanto alguns médicos e estudos apontam que não há medicação específica para evitar agravamento da Covid-19, outros profissionais da saúde defendem tratamento preventivo contra o novo coronavírus.
Nas últimas semanas, ivermectina se tornou uma das medicações mais citadas por aqueles que defendem tratamento precoce ou profilaxia contra a Covid-19 — Foto: Getty Images via BBC
Um assunto tem ganhado cada vez mais espaço em discussões sobre o combate ao novo coronavírus: o tratamento precoce à Covid-19. Aqueles que defendem essa medida afirmam que se trata da única forma de diminuir, neste momento, os óbitos pela doença no país. No entanto, muitos especialistas e entidades médicas criticam duramente essas publicações sobre tratamentos precoces, e ressaltam que não há comprovações científicas da eficácia de medicamentos contra a Covid-19.
Os principais medicamentos citados em discussões sobre tratamento precoce contra a Covid-19 são cloroquina, hidroxicloroquina, ivermectina e azitromicina.
O Ministério da Saúde, a pedido do presidente Jair Bolsonaro, recomenda o tratamento precoce contra a Covid-19. Um protocolo da pasta defende o uso de cloroquina ou hidroxicloroquina para todos os casos, dos mais leves aos mais graves, mesmo sem comprovação científica. Semanas atrás, Bolsonaro também se mostrou favorável ao uso da ivermectina em tratamento precoce contra o novo coronavírus.
Nas redes, inúmeras publicações defendem o uso desses remédios logo nos primeiros sintomas da doença. Há ainda conteúdos que aconselham que essas medicações sejam usadas de modo profilático, para evitar que o paciente seja infectado pelo Sars-Cov-2, nome oficial do novo coronavírus. Os inúmeros compartilhamentos de informações sobre esses tratamentos precoces contra a Covid-19 são vistos com preocupação por sociedades brasileiras de saúde, como a de bioética, a de cardiologia, a de imunologia e a de Medicina da família. Em 30 de junho, a da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) divulgou uma nota para alertar sobre os riscos de tratamentos precoces. “Nos últimos dias, muito tem se divulgado nas redes sociais a respeito do uso de medicamentos para a Covid-19. Várias destas divulgações que circulam nas mídias sociais são inadequadas, sem evidência científica e desinformam o público”, diz o comunicado.
A SBI, assim como as outras sociedades brasileiras da área da saúde, defende que os tratamentos contra a Covid-19 sejam decididos pelos médicos de forma individual, conforme a necessidade de cada paciente. A entidade considera que a publicidade de remédios como cloroquina ou ivermectina nas redes sociais, feita por diversos médicos ou pessoas que não são da área da saúde, é extremamente prejudicial.
A Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT) também emitiu nota contra essas publicações. “Redes sociais não são textos médicos e, com frequência, transmitem informações infundadas, impulsionadas por interesses obscuros”, destaca comunicado da SBPT, divulgado em 29 de junho.
Entidades, como a Organização Mundial de Saúde (OMS), esclarecem que não existem opções para tratamentos profiláticos, ou seja, medicamentos que usados precocemente impeçam o desenvolvimento de formas graves da Covid-19. Por ora, não há comprovação científica de que uma medicação possa prevenir a doença ou evitar, se usada no início dos sintomas, que o quadro de um paciente infectado se agrave.
‘Tratamento individualizado’
Mesmo sem comprovação científica de sua eficácia no combate ao novo coronavírus, diversos médicos afirmam que tratamento precoce com determinados remédios podem ajudar pacientes — Foto: Getty Images via BBC
Por não haver nenhum remédio comprovadamente eficaz contra a Covid-19 até o momento, a principal orientação das sociedades brasileiras da área da saúde é que o médico decida individualmente o tratamento que adotará, sempre citando os benefícios e riscos para o paciente. As medidas terapêuticas devem ser definidas conforme as necessidades e respostas de cada caso.
O Código de Ética Médica proíbe a divulgação fora do meio científico de tratamentos ou descobertas que não sejam reconhecidas cientificamente por órgão competente. Desta forma, a SBI pontua que médicos que fazem publicidade de tratamentos contra a Covid-19 podem estar infringindo as normas da profissão.
“Vivemos uma séria crise de saúde pública. Não podemos colocar em risco a saúde da população brasileira com orientações sem evidência científica”, diz nota assinada pelo presidente da SBI, o infectologista Clóvis Arns da Cunha, em parceria com outros membros da entidade.
Especialistas consideram que a propagação desse tipo de informação pode culminar em automedicação, induzir alguns médicos a receitarem determinado medicamento mesmo sem a comprovação científica e trazer a falsa sensação de segurança àqueles que adotam determinadas medicações de modo profilático.
Os especialistas contrários ao tratamento considerado preventivo destacam que ainda não é possível atestar que qualquer medicação é eficaz contra a doença porque não houve tempo hábil para os testes necessários, que precisam ser feitos em laboratório e em humanos. Eles apontam ainda que muitas pessoas podem alegar que se recuperaram do coronavírus com determinada medicação, porém ressaltam que a taxa de letalidade da doença mostra que a imensa maioria dos infectados vai sobreviver ao Sars-Cov-2.No Brasil, que já registrou 1,6 milhão de casos e mais de 65 mil mortes por Covid-19, a taxa de letalidade da doença é de, aproximadamente, 4%, segundo dados do Ministério da Saúde.
Já os profissionais de saúde que defendem o tratamento preventivo, com medicações como a hidroxicloroquina ou ivermectina, afirmam que têm tido bons resultados nos hospitais em que trabalham ao adotar tal medida. Eles afirmam que têm evitado que muitos casos leves se agravem por meio de medicações como a cloroquina e hidroxicloroquina.
Muitos desses profissionais acreditam que é questão de tempo para que haja evidência científica sobre medicamentos como ivermectina e cloroquina no combate à covid-19. Eles costumam dizer que não é possível esperar que esses estudos fiquem prontos para que os medicamentos comecem a ser usados, pois argumentam que se trata de uma questão urgente.
Enquanto diversos profissionais de saúde usam as redes sociais para defender o tratamento precoce ou profilático, o Conselho Federal de Medicina (CFM) informa que não é recomendável que um médico ou qualquer outra pessoa distribua informações sem que as fontes sejam confiáveis. A entidade afirma que se alguém considerar que um médico cometeu algum ato irregular, deve denunciar ao Conselho Regional de Medicina (CRM) do Estado em que o profissional atua, para que a situação seja apurada.
O CFM, porém, não informa se há alguma apuração do conselho sobre o tema desde o início da pandemia.
Diante da polêmica sobre os medicamentos associados ao tratamento precoce contra a covid-19, surge o questionamento: afinal, o que a ciência diz até o momento sobre os remédios mais citados nas discussões sobre o assunto?
Anticoagulação
De acordo com a SBI e a SBPT, não há qualquer evidência de benefícios do uso de anticoagulação para pacientes com formas menos graves da doença.
Corticoides
Conforme a SBI, um relatório preliminar de um grande estudo coordenado pela Universidade de Oxford, na Inglaterra, apontou que o corticoide dexametasona, na dose de 6 mg por 10 dias, aumenta a sobrevida em pacientes com a Covid-19 em estado grave, que necessitam de oxigênio suplementar ou ventilação mecânica.
Os estudos apontaram que o corticoide é eficaz para a Covid-19 apenas nos casos graves.
Não há evidências científicas que apontam que o corticoide possa ser usado por pacientes em quadros leves da Covid-19 ou para evitar que uma pessoa seja infectada pelo novo coronavírus.
Medidas para combater a Covid-19
As entidades que representam os médicos ressaltam que diante do Sars-Cov-2, um vírus até então desconhecido, é natural que as orientações mudem ao longo do tempo. “A medicina e a ciência são processos dinâmicos e, a qualquer momento, poderão surgir novidades concretas”, pontua a nota da SBPT.
Enquanto não há uma vacina ou um remédio comprovadamente eficaz contra o novo coronavírus, as entidades de saúde apontam que a melhor forma de combater a pandemia é adotar medidas como a higienização frequente das mãos, o isolamento social e o uso de máscaras. (G1)