Por Andrea Anciaes
Em tempos de pandemia são vários “memes” compartilhados em redes sociais que falam da incompatibilidade do homeschooling.
São muitas as mães, assoberbadas com o isolamento social tendo que dar conta das compras, comida dentro de casa, demandas do trabalho remoto, lidar com as notícias diárias de infectados e mortos e ser tutora EAD dos filhos.
A verdade é que ninguém estava preparado para a educação domiciliar: nem escolas, nem crianças, nem famílias. As escolas não são mágicas para tirarem das cartolas aulas e atividades EAD para todos os anos em todas as disciplinas. Os alunos, também estressados pelo isolamento, não possuem experiência com aulas EAD e não compreendem que estar em casa não significa férias.
Ensino a Distância exclui milhares de alunos e não tem efetividade
Atualmente, as novas tecnologias, especialmente as que estão ligadas às chamadas “mídias interativas”, estão promovendo mudanças na Educação, num processo que parece estar apenas começando. Para a maioria dos educadores elas são absolutamente desconhecidas. Uma parcela muito pequena teve algum contato ou usa com alguma frequência estas tecnologias. E, mesmo para estes, elas representam uma imensa novidade o que acarreta muitas dúvidas e questionamentos sobre a eficácia do ensino à distância (EAD).
Com a chegada destas novas tecnologias, chega também um novo tempo (desconhecido para muitos) e um grande desafio para a prática educativa que vem utilizando essa tecnologia, pois é preciso promover a ambientação de professores e alunos no espaço virtual dos sistemas on-line de educação a distância. Existe ainda por parte de alguns alunos a aversão e difícil adaptação ao espaço virtual o que gera ainda mais dificuldades para alcançar os objetivos traçados para esse período de pandemia. Falta de energia elétrica e acesso à internet são outros agravantes que evidenciam às dificuldades que muitos alunos estão enfrentando nesse período complicado onde à diferença econômica e social é notória é incontestável.
O fato é que tem muitas pessoas irritadas, ansiosas, frustradas com a sua “incompetência pedagógica” questionando como os conteúdos serão recuperados, discutindo a necessidade de turnos inversos para dar conta do que está “atrasado”, são muitas as solicitações via e-mails e telefonemas para as escolas perguntando quais serão as estratégias de “recuperação”.
As escolas precisam falar sobre a necropolítica, que resolve quem vale à pena viver ou morrer. Não queremos ver alunos confinados, novamente, nas escolas em turno inverso para “recuperar” locuções adverbiais. Se é que eles terão que ficar no turno inverso, é para que aprendam a ser mais humanos, menos egoístas e mais sensíveis. Psicólogos conhecidos comentam que ninguém imagina o impacto que essa pandemia terá, em longo prazo, nas subjetividades das crianças e jovens que a estão enfrentando.
Aluna da rede pública de ensino estudando pelo ensino remoto
Entende-se que o governo deve investir em tecnologia nas escolas, especialmente nas escolas públicas, haja vista para as grandes “desigualdades sociais e regionais” que ainda persistem em nosso país.
Urgentemente precisa-se adotar políticas públicas diferenciadas por região e contar com a participação de toda a sociedade, para que o Brasil figure entre países com tecnologia de ponta, principalmente advinda de uma “educação inclusiva”.
Que a gente possa, agora, pensar nesses efeitos e repensar o papel da escola na volta às aulas. Nesse momento, acredito, é mais importante preocupar-se com a saúde mental das crianças e jovens do que com o conteúdo a ser “vencido”.
Profissional da área fala sobre a difícil situação
Rosa Helena Luiz
Rosa Helena, mesmo estando aposentada há 4 anos, tem acompanhado o trabalho dos colegas que ainda estão na ativa. “Falar de escola hoje é uma situação difícil de abordar, pois já estive dos 3 lados: como aluna, professora e mãe, e ouço muitos relatos de ambas as partes, entristecedor. Os desafios enfrentados hoje pelos professores são imensos, estão trabalhando triplicado para planejarem suas aulas, transmitir de maneira competente e ainda dar atenção para filhos e familiares pois muitos têm pais que necessitam de cuidados. Mesmo estando na era digital muitos têm enfrentado dificuldades a nossa formação foi voltada para aulas presenciais e não a distância.
Com a pandemia os reflexos da desigualdade social tornaram-se legíveis. Muitas crianças não tem em seus lares o conforto e a estrutura familiar fundamental, esperam a mãe chegar do trabalho após um dia exaustivo para ajudar a realizar as atividades escolares.
De acordo com o artigo 3° da LDB alguns princípios precisam ser revistos, entre eles a valorização dos profissionais da educação escolar que vão ter um trabalho imenso no retorno das aulas presenciais. “Professores seres abençoados responsáveis pela formação da nossa nação.”