Vários municípios relatam escassez de relaxantes e anestésicos essenciais para pacientes mais graves. Santa Casa aponta dificuldades para encontrar os medicamentos e, quando encontram, estão atrelados à preços abusivos; estoque deve durar mais 3 ou 4 dias.
Em meio ao risco de colapso hospitalar no estado de São Paulo em decorrência da pandemia do novo coronavírus, o sistema de saúde também está em alerta quanto aos estoques de medicamentos. Votuporanga/SP está de olho nos níveis de estoque de anestésicos e relaxantes musculares, que são fundamentais para cirurgias em geral e também para pacientes com COVID-19 que necessitem do auxílio de respiradores – medicações necessárias ao ‘kit intubação’.
A Santa Casa local, que atende ainda 16 cidades da região no enfrentamento ao coronavírus, afirma que o estado do seu estoque é crítico: “A Santa Casa de Votuporanga encontra com seus níveis críticos de estoque, principalmente de kits para tratamento COVID-19, como relaxantes musculares, sedativos, além de antimicrobianos e anticoagulantes”, explicou a instituição em nota.
As substâncias estão em falta no mercado, sendo vendidas a preços altos, atingindo um aumento de até 300%, quando disponíveis; logo, dificulta bastante o reabastecimento dos estoques. Contudo, o centro médico salienta que o problema aflige todo o Brasil: “Assim como todo mercado nacional, temos dificuldades ao encontrar estes medicamentos e, quando existem, os preços são extremamente abusivos. A elevação de preços extrapola o índice inflacionário”.
Diante da situação, pessoas com familiares hospitalizados sentem medo e insegurança, como é o caso de F.M.S., de 48 anos, que tem o pai internado na Santa Casa, diagnosticado com Covid-19. Por telefone, ela falou à reportagem do Diário de Votuporanga: “Vi na televisão que tem pouco medicamento e isso não é bom, a gente já está com medo e fica mais assustada ainda quando sai essas notícias. Torço para que chegue mais [medicamentos] para acabar com esse pesadelo (…) essa doença é cruel com remédio, se não tiver o que dá para as pessoas vai ser pior”.
Informações dão conta de que no hospital, os remédios do “kit intubação”, assim como anticoagulantes e antimicrobianos podem acabar nos próximos três ou quatro dias; e para fazer frente a esse quadro de risco, à Santa Casa elaborou um plano de contingenciamento médico “com readequação de prescrições médicas sem que haja risco ao paciente”, afirmou a nota que ainda salientou que devido à situação, as cirurgias eletivas seguem suspensas.
Hospital concluiu a nota enviada ao Diário de Votuporanga explicando que “são feitas substituições de determinados medicamentos, enquanto aguardamos a entrega de fornecedores”.
O governo de São Paulo cobrou o envio até esta quinta-feira (15), de novas remessas. O ministro Marcelo Queiroga disse na quarta-feira (12), que deve receber mais lotes em até dez dias. Esses remédios garantem que o paciente seja intubado sem sentir dor e sem tentar arrancar o tubo em reação involuntária.
O Ministério da Saúde informou que está com dificuldades para refazer a reserva técnica de remédios do kit intubação, que está praticamente zerada. O estoque federal de nove medicamentos do kit acabou, e as reservas de outros dez estão quase no fim. A responsabilidade de comprá-los costuma ser de Estados, municípios e hospitais. No entanto, o próprio documento determina que, com o risco de desabastecimento nacional, o ministério tem o papel de facilitar as compras. A pasta vem recebendo alertas a respeito há mais de um mês.
O governo estadual disse também estar em curso a negociação com hospitais estaduais e municipais sobre a possibilidade de aderir a uma compra internacional. Segundo a gestão João Doria (PSDB), a última entrega federal para São Paulo foi no fim de março – 6% do necessário para atender à demanda mensal.
A Prefeitura de Votuporanga foi procurada para comentar sobre o estoque deste tipo de medicação, já que administra o Hospital de Campanha e respondeu em nota: “A Secretaria Municipal da Saúde de Votuporanga também vem enfrentando muita dificuldade na compra das medicações do kit intubação. As equipes estão empenhadas, diariamente, para manter os estoques e, com acompanhamento da equipe médica, realiza substituições de algumas medicações, quando necessário, para atender aos pacientes”.