Com quase 40ºC, professores levam ventiladores para escolas de Votuporanga 

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Com quase 40ºC, professores levam ventiladores para escolas de Votuporanga – Foto: Reprodução

O sucateamento de aparelhos de ar-condicionado e até de ventiladores em algumas unidades escolares do município tem causado sofrimento em alunos e funcionários. Problema se arrasta há pelo menos dois anos.


Jorge Honorio 
jorgehonoriojornalista@gmail.com 

O Brasil está finalizando a terceira onda de calor de 2025, situação relativamente comum para os moradores da região noroeste paulista. No entanto, aparelhos de ar-condicionado e ventiladores têm sido a ferramenta ideal para o enfrentamento e diminuição nos efeitos dos quase 40ºC nos ambientes confinados, como as escolas, por exemplo. Contudo, a falta de manutenção em aparelhos de climatização e problemas em transformadores de energia tem impossibilitado o funcionamento de dezenas de equipamentos, assim como de ventiladores.

O problema não é recente, conforme noticiado pelo Diário, algumas escolas municipais de Votuporanga enfrentam a situação há pelo menos dois anos, e vem se agravando, segundo pais, responsáveis por alunos e até servidores da educação.

Na última segunda-feira (17.fev), durante os protestos de profissionais da educação na Câmara Municipal, o assunto foi trazido à tona. Na oportunidade, uma professora classificou o problema dos aparelhos de ar-condicionado como ‘sucateamento’.

De acordo com o apurado, 8.031 crianças estão matriculadas na Rede Municipal, uma vez que, Votuporanga é responsável por aproximadamente 33 unidades de ensino infantil, fundamental e da modalidade EJA (Educação de Jovens e Adultos).

Nos últimos meses, as reclamações sobre o tema têm explodido nas redes sociais, inclusive, questionando o impacto do calor no aprendizado e a falta de estrutura de muitas escolas para lidar com essa situação.

Especialistas afirmam que a partir de 38ºC de temperatura ambiente, a capacidade de aprendizagem dos alunos fica comprometida. Raciocínio, memorização dos conteúdos, compreensão do que está sendo passado em sala de aula diminuem muito. E se a temperatura for ainda maior do que esta, as sequelas podem ser ainda mais graves. 

“Se forem temperaturas muito altas, aí sim, aí você pode ter comprometimento irreversível e a longo prazo. Você pode ter morte até de neurônios se as temperaturas forem extremas, forem muito altas, acima de 42ºC, 45ºC. Isso pode ser em torno de uma hora, duas horas, você já pode ter comprometimento dessas células nervosas”, afirma Luiz Gustavo Dubois, coordenador do Programa de Neurociência do ICB/UFRJ. 

As altas temperaturas degradam os neurotransmissores, que são responsáveis pela comunicação entre os neurônios. Essa comunicação é o que dá origem à sinapse – a ferramenta que permite o acesso a novos conhecimentos. 

Contudo, apesar da gravidade do caso em Votuporanga, que chegou a ser tema de uma representação de vereadores junto Ministério Público do Estado de São Paulo (MP-SP), em setembro do ano passado, não há manifestação de prazo para resolução do problema por parte da Prefeitura e da Secretaria Municipal da Educação.

Solidariedade de profissionais da educação 

Enquanto a Prefeitura não efetua os consertos necessários, profissionais da educação tem tomado a frente para tentar minorar os efeitos do calor. Os atos virtuosos não fugiram aos olhares de pais e responsáveis mais atentos, como Aparecida Maciel que compartilhou: “Todas as escolas caindo e padecendo, faltando tudo, e gostaria de agradecer a professora Flávia pelo lado humano de levar ventilador para a sala de aula as crianças. Estão sem água gelada e passando calor demais no Duarte [Cem ‘Prof. Benedito Israel Duarte’, na zona norte].” 

Relatos tomam conta de grupos locais nas redes sociais. Em outra publicação, um desabafo anônimo: “Venho aqui expor minha indignação e a de muitas pessoas aqui. Posto anonimamente para minha segurança. Hoje à tarde, dia 20, meus alunos reclamaram muito da temperatura na sala de aula, muito quente, pois o ar-condicionado não funciona e, detalhe desde o ano passado. O suor escorria pelos rostinhos deles e do meu também. É impossível trabalhar com qualidade nessa situação e, também é impossível que a aprendizagem e disciplina ocorram com excelência, pois o desconforto é imenso. Quase todos me disseram que estavam com dor de cabeça e que iam desmaiar ou com ânsia de vômito, o dia todo só ouvi reclamações. Fiquei com pena, porém não tenho o que fazer, não depende de mim. A gestão está cobrando todos os dias dos responsáveis, no entanto não resolvem. Isso não é de agora, as ondas de calor vêm se intensificando a cada ano e mesmo assim chegamos em 2025 sem resolução. Por que só agora estamos ouvindo rumores dos nobres vereadores que o problema será sanado?! O problema não é de agora é de anos…”