Capitais brasileiras se transformam em palco contra a PEC da Blindagem

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Em São Paulo, a manifestação aconteceu na avenida Paulista, em frente ao MASP e reuniu 42,3 mil pessoas segundo aponta monitor da USP. (foto Amanda Perobelli/Reuters)

Daniela Mercury, Wagner Moura, Fernanda Takai, Caetano Veloso, Chico Buarque, Gilberto Gil e Djavan, dentre outros, se unem a multidões em manifestações, no último domingo (21), em defesa da democracia

 

 

Caetano, Djavan, Chico e Gil durante manifestação no Rio de Janeiro, na orla de Copacabana. No pico das 16h15, quando o ato musical teve início, levantamento da USP estima a concentração de 41,8 mil pessoas. (foto Instagram Gilberto Gil)

 

@caroline_leidiane

No último domingo (21), as ruas das capitais brasileiras foram tomadas por milhares de pessoas em protestos contra a PEC da Blindagem e o projeto de anistia em debate no Congresso Nacional.

A mobilização, que reuniu manifestantes em 33 cidades, transformou-se em um ato de cultura e cidadania, onde a música e as diversas expressões artísticas de criatividade popular se tornaram protagonistas na defesa da democracia.

A chamada PEC da Blindagem, que prevê restrições em rigor da investigação e prisão de parlamentares sem aval do próprio Legislativo, e a proposta de anistiar condenados por atos golpistas recentes, foram vistas como ameaças ao Estado Democrático de Direito.

Em Salvador (BA), a cantora Daniela Mercury foi categórica ao afirmar: “Bandidagem não é com a gente”. Seu show improvisado diante da multidão uniu festa e indignação, em um gesto de quem sempre associou música e posicionamento político.

O ator Wagner Moura também subiu ao palco e celebrou a força da democracia brasileira.

“Eu fiquei com vontade de falar só do momento extraordinário pelo qual passa a democracia, que é exemplo para o mundo inteiro. A gente que sempre cresceu dizendo que nossa democracia é frágil, que ela é jovem. Nossa democracia botou para ‘lenhar’ [para quebrar]”, disse ele.

Em Belo Horizonte (MG), a Praça Raul Soares foi tomada por vozes e instrumentos, com a presença da cantora Fernanda Takai, vocalista da banda Pato Fu, que se somou ao coro da multidão contra a anistia.

No Recife (PE), a cultura popular ganhou corpo com o frevo do bloco Eu Acho é Pouco e com grupos de maracatu, que levaram música e dança ao protesto, transformando-o em um desfile de cores e ritmos.

No Rio de Janeiro, na praia de Copacabana, e em São Paulo, na avenida Paulista, a cena foi marcada pela presença de políticos e artistas, como Caetano Veloso, Chico Buarque, Gilberto Gil e Djavan, dentre outros.

Alguns desses nomes, são ícones da Tropicália e da resistência cultural durante a ditadura militar, eles relembraram, com letras como “Cálice”, cantada pela multidão em coro, que a música popular brasileira já enfrentou censura e perseguição e que continua sendo trincheira contra qualquer ameaça autoritária.

Essas vozes da MPB somadas às dos milhares de manifestantes, mostraram um encontro de gerações em torno de uma mesma causa: preservar a democracia.

A imprensa internacional destacou o caráter pacífico e plural dos atos. Para além de protestos, foram celebrações da vida democrática, em que batuques, cordas de violão, frevos e sambas compuseram uma sinfonia coletiva de resistência.

Ao final da jornada, a presença dos artistas foi interpretada como continuidade de um legado histórico cuja arte brasileira tem desempenhado papel relevante em momentos de tensão política.

Neste domingo, as diversas expressões sociais, políticas e culturais se uniram com os manifestantes, reforçando a dimensão simbólica da cultura na defesa da democracia.