Brasil supera Argentina e EUA e lidera ranking global de supersalários

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Brasil supera Argentina e EUA e lidera ranking global de supersalários - Foto: Reprodução

País pagou um total de R$ 20 bilhões acima do teto salarial do funcionalismo entre agosto de 2024 e julho de 2025.


O Brasil aparece no topo de um levantamento internacional sobre supersalários no serviço público. Entre dez países analisados, incluindo Alemanha, Estados Unidos, Itália e Reino Unido, o Brasil é o que concentra o maior número de servidores que recebem salários acima do teto constitucional de R$ 46.366,19.

Enquanto o país registra 53,5 mil servidores ativos e inativos nessa condição, a Argentina (segunda colocada no ranking) soma 27 mil.

Nos Estados Unidos, pouco mais de 4 mil funcionários ultrapassam o limite do teto. Nos demais países avaliados (Alemanha, Chile, Colômbia, França, Itália, México, Portugal e Reino Unido), nenhum supera 2 mil casos; a Alemanha não registrou nenhum.

O levantamento foi encomendado pelo Movimento Pessoas à Frente e pela República.org ao pesquisador Sergio Guedes-Reis, da Universidade da Califórnia em San Diego (UCSD).

Os números dos supersalários no Brasil

Entre agosto de 2024 e julho de 2025, o Brasil registrou R$ 20 bilhões em pagamentos acima do teto — o maior valor já estimado. O montante é 21 vezes superior ao da Argentina, segunda no ranking de gastos.

Do total de 4 milhões de servidores brasileiros analisados, 53,5 mil recebem remunerações acima do teto. Isso representa 1,34% do conjunto.

A magistratura concentra a maior fatia: cerca de 21 mil juízes receberam remunerações que somam R$ 11,5 bilhões. No Ministério Público, o adicional alcança R$ 3,2 bilhões, envolvendo 10,3 mil integrantes.

No Executivo federal, são 12,2 mil servidores com supersalários, totalizando R$ 4,33 bilhões, com 82,4% desse valor ligado a carreiras da Advocacia-Geral da União e de procuradores federais.

Outros órgãos têm impacto menor. A Câmara dos Deputados é a única que ultrapassa mil servidores nessa situação. Todos os demais desembolsam menos de R$ 70 milhões por ano com os pagamentos acima do limite.

40 mil servidores estão no 1% mais rico da população

O estudo aponta que o valor gasto no Brasil equivale a quase 716 mil vezes a mediana da renda anual da população, estimada em R$ 28 mil. Na Argentina, onde há metade do número de servidores com supersalários, o gasto corresponde a 25 mil vezes a mediana nacional.

Quase 40 mil servidores analisados fazem parte do 1% mais rico da população brasileira, com renda anual acima de R$ 685 mil em 2025. A maioria está na magistratura (49,8%) e no Ministério Público (21,1%). No Executivo federal, 10,2 mil servidores integram esse grupo, sendo 74% das remunerações vinculadas às carreiras da AGU.

O levantamento também identifica mais de 9 mil servidores com renda superior a R$ 1,2 milhão ao ano — faixa correspondente ao top 0,4% do país. Quase todos são juízes ou membros do Ministério Público.

Os supersalários da magistratura

A magistratura concentra algumas das maiores discrepâncias identificadas pelo estudo. Quase 11 mil juízes receberam mais de US$ 400 mil em paridade de poder de compra entre agosto de 2024 e julho de 2025. O valor supera o pago a qualquer magistrado em sete dos dez países avaliados.

A remuneração inicial da carreira também chama atenção: é a quarta maior entre os países analisados, ficando muito próxima à do Reino Unido e abaixo apenas dos salários iniciais oferecidos nos Estados Unidos e no México.

No topo da hierarquia salarial, mesmo sem funções de comando ou assentos em tribunais superiores, um juiz no Brasil pode receber até seis vezes mais do que as autoridades máximas do Judiciário em Portugal.

Esse valor também é quatro vezes superior ao teto pago a ministros das cortes constitucionais da Alemanha, França, Argentina e Estados Unidos; três vezes maior do que os maiores salários do Judiciário de Chile e Colômbia; e supera mais que o dobro do pago aos presidentes dos tribunais superiores do Reino Unido, Itália e México.

*Com informações da Exame