Presidente sofre pressão cada vez maior nos bastidores e viu a principal organizada dizer que “não irá se opor a nenhuma reunião que paute a proposta de impeachment”
Augusto Melo está pressionado e em rota de colisão direta com os poderes fiscalizadores do Corinthians e agora também com a principal torcida organizada do clube. O presidente teve as contas reprovadas pelo Conselho Deliberativo e insiste no discurso de reabertura do balanço de 2023 para defender os números apresentados aos conselheiros na semana passada.
A derrota da gestão, confirmada por votação da maioria dos integrantes do Conselho Deliberativo, ocorreu depois de duas recomendações de reprovação por parte do CORI (Conselho de Orientação Fiscal) e do Conselho Fiscal corintiano.
Na análise da diretoria, o parecer, especialmente do CORI, saiu de um resultado de viés mais político do que técnico. No placar, as contas de Augusto tiveram recomendação de reprovação por 16 a 1; inclusive apoiadores do presidente durante parte da gestão votaram contra as contas.
Mudança de rota
Outro apoio fundamental perdido por Augusto Melo vem do portão para fora do clube, mas que se reflete diretamente no jogo político do Parque São Jorge.
Principal organizada do clube, a Gaviões da Fiel emitiu novo posicionamento sobre Augusto Melo. Se no passado, a torcida convocou membros para acusar conselheiros de “golpe” contra o presidente, agora a situação mudou, conforme comunicado divulgado na segunda-feira.
“Diferentemente de momentos anteriores, quando o Corinthians lutava contra o rebaixamento e buscávamos um fim de ano em paz entre todos os corinthianos, e diante do cenário crítico atual, o Gaviões da Fiel não irá se opor a nenhuma reunião que paute a proposta de impeachment do atual presidente”, diz a nota.
A organizada, inclusive, justificou o porquê da retirada do apoio a Augusto Melo, em decisão tomada a partir de reunião de diretores da torcida com associados no sábado passado.
- “A repetição de erros de gestões anteriores, como problemas recorrentes na base e nomeações com viés político, mostra falta de aprendizado e compromisso com o clube”;
- “A gestão está em desmanche, com alto rodízio em cargos importantes e retorno de figuras antes opositoras, o que levanta dúvidas sobre os reais interesses por trás dessas movimentações;
- “A falta de transparência e de respostas a questionamentos feitos em reuniões do Conselho e em outras instâncias é inaceitável”.
Novo pedido de impeachment
Essa falta de respostas citada pela torcida é um dos pontos que levaram Augusto Melo a sofrer o terceiro pedido de impeachment no Corinthians.
O CORI reclamou da falta de documentação para realizar o trabalho de estudo com mais clareza. A diretoria nega falta de acesso aos materiais.
Membro do órgão e conselheiro trienal (eleito para o mandato de 2024 a 2026), Paulo Roberto Bastos Pedro formalizou no clube um novo pedido para a destituição de Augusto Melo.
Entre os pontos está a reclamação da falta de transparência e do envio de documentos, assim como a ausência da revisão orçamentária no meio do ano passado.
A diretoria calcula que a dívida aumentou R$ 407 milhões no total, que resultaria em um passivo de R$ 599 milhões. O CORI, no parecer, apontou um passivo de R$ 829 mi.
Finanças em xeque
Augusto Melo e membros da diretoria insistem na reabertura das contas de 2023 por apresentarem “provisões de contingência” na casa de R$ 191 milhões no último ano da gestão Duilio Monteiro Alves.
A atual diretoria alega ter herdado essa dívida da gestão anterior, em valores divididos entre apropriação de juros Profut (R$ 30,2 mi), contingências em processos que não foram classificados como “perda provável” em balanços anteriores (R$ 56,2 mi), parcelamentos de ISS da prefeitura (R$ 76 mi) e contingências de dívidas passadas (R$ 28,8 mi).
Há divergências no clube sobre o processo para a inserção de itens apresentados nas contas já fechadas, auditadas e votadas pelo mesmo Conselho Deliberativo no ano passado. O ex-diretor financeiro Pedro Silveira, por exemplo, era contrário à ideia de reabrir o balanço de 2023.
A questão financeira se tornou o novo ponto da tensão política no Corinthians. Augusto Melo enfrenta pressão nos bastidores e contesta os pareceres.
Há uma visão de que tudo tem sido “orquestrado” para derrubá-lo da presidência. Em paralelo, a Polícia Civil de São Paulo deve finalizar nas próximas semanas o inquérito do caso VaideBet, no qual Augusto Melo depôs sob condição de investigado.
*Com informações do ge