Uso de ‘todes’ no Fliv gera moção de repúdio na Câmara 

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Uso de ‘todes’ no Fliv gera moção de repúdio na Câmara - Foto: Reprodução

A expressão que não abarca nem o gênero masculino ou feminino busca atingir pessoas trans e não-binárias, sendo usada amplamente pelo governo Lula (PT) em eventos oficiais. Procurada, a Prefeitura de Votuporanga se calou. Servidora foi exonerada.


Jorge Honorio
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Na 28ª sessão ordinária da Câmara Municipal de Votuporanga/SP, uma moção de repúdio impetrada pelo vereador Cabo Renato Abdala (PRD) chamou a atenção, um protesto contra “o uso de linguagem neutra durante a realização do 15° Festival Literário de Votuporanga (FLIV), desrespeitando a norma culta da Língua Portuguesa, definida pela Academia Brasileira de Letras (ABL), instituição responsável pela preservação e unificação da Língua Portuguesa no Brasil.”

O parlamentar pede que o documento seja encaminhado à secretária Municipal de Cultura e Turismo, Janaína Cristina da Silva.

De acordo com a justificativa do parlamentar: “Este posicionamento não se dirige contra o evento em si, que é, indiscutivelmente, um dos mais importantes do calendário cultural de Votuporanga. O FLIV atrai turistas, gera empregos, movimenta a economia local, possui estrutura de excelência e, a cada edição, supera-se na qualidade e diversidade de sua programação. É um patrimônio cultural que enriquece a cidade e valoriza nossos artistas e escritores. O repúdio ora manifestado diz respeito unicamente à utilização da linguagem neutra, que não possui reconhecimento oficial pelos órgãos normativos da Língua Portuguesa, tampouco integra as Diretrizes Curriculares Nacionais ou os parâmetros estabelecidos pelo Ministério da Educação (MEC) para uso em materiais didáticos e eventos educativos.”

“Em um ambiente que tem como pilar a preservação e promoção da herança cultural e literária brasileira, tal prática se mostra inadequada, podendo comprometer a clareza da comunicação, a acessibilidade e a própria fidelidade à tradição linguística que a literatura busca preservar. Reafirmamos que a inclusão e o respeito à diversidade devem ser buscados sem a descaracterização da nossa língua, elemento fundamental da identidade nacional. Em um país democrático, a pluralidade de opiniões é saudável, mas o uso de formas linguísticas não oficializadas em eventos públicos e educativos deve ser evitado, preservando-se o patrimônio linguístico e cultural que nos une”, prossegue Cabo Renato Abdala.

O termo ‘todes’, foi supostamente criado como uma expressão neutra, assim como um vocábulo específico, para que pessoas não binárias (que não se identificam nem com o gênero masculino nem com o feminino) ou intersexo se sintam representadas, esteve em evidência nos últimos anos, principalmente em período político, mas não encontrou ampla adesão e uso prático no linguajar do brasileiro e vem caindo no esquecimento.

Entretanto, o termo pode ser encontrado ainda durante eventos e cerimônias oficiais do governo Lula (PT), que passou a adotar o pronome neutro ‘todes’, além de utilizar como uma saudação tradicional a homens e mulheres. 

Na prática, assim como “todes”, “menine” e “amigues” são exemplos dessa linguagem relativamente comum nas redes sociais e entre membros da comunidade LGBTQIA+. A fala representa também um fenômeno político e de inclusão. 

Na Câmara, além do autor, a moção de repúdio recebeu o apoio dos vereadores Daniel David (MDB), Débora Romani (PL), Natielle Gama (Podemos) e Serginho da Farmácia (PP). Enquanto aguarda definição dos parlamentares: Carlim Despachante (Republicanos), Emerson Pereira (PSD), Marcão Braz (PP), Osmair Ferrari (PL) e Ricardo Bozo (Republicanos). 

Já os vereadores: Dr. Leandro (PSD), Wartão (União Brasil) e Vilmar da Farmácia (PSD) e Sargento Marcos Moreno (PL) optaram por não apoiar a moção de repúdio. 

Procurada pela reportagem, a Prefeitura de Votuporanga, apesar do prazo de uma semana, não se manifestou sobre o assunto. Nos bastidores, segundo apurado, a servidora envolvida no episódio, que ocupava função em comissão de assessor de saúde pública, teve exoneração, a pedido, publicada no Diário Oficial durante a última sexta-feira (22).