TV: Identidade e Cultura

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Por Pérola Ferraz

Há 70 anos, a TV chagava ao Brasil. Em 1950, TV Tupi fez sua primeira transmissão com letras, números e imagens, tudo ao vivo, diferentemente do cinema. O primeiro telejornal da TV Tupi, “Imagens do Dia”, foi ao ar no dia 19 de setembro, na locução do radialista Ribeiro Filho. As reportagens chegavam em cima da hora, pois, dependendo de onde eram feitas, os filmes precisavam ser revelados e mandados de avião para São Paulo. Em 1963, chegaram as primeiras televisões coloridas importadas dos Estados Unidos. (B1)

Até os anos 1960, novas emissoras foram inauguradas, como TV Excelsior, a Globo, a Bandeirantes e a Rede Record. Nesse período, TV Tupi entrou em decadência por motivos financeiros.

A TV pode ser entendida como um instrumento de identidade e cultura. Faz parte da memória, não somente da nacional, mas também da individual, apesar de alcançar o coletivo. Algumas trilhas sonoras marcaram nossas vidas, condicionaram a hora do almoço, a hora de dormir, o início ou término do fim de semana e também momentos de maior atenção, como quando ouvimos a música do plantão de notícias da Rede Globo.  E os bordões? Quem nunca ouviu frases como: “Stop Salgadinho”, “Tô  certo ou tô errado?”, ”Cada mergulho é um flash”? Alguns apresentadores também marcaram a memória dos brasileiros. Um deles, Abelardo Barbosa, o famoso “Chacrinha”, mesmo quem não conheceu o programa dele, com certeza já deve ter ouvido algumas de suas célebres frases: “nada se cria, tudo se copia” ou “Terezinha…..uuuuuu!”. E na série de grandes apresentadores, ainda podemos destacar: Silvio Santos, Raul Gil, Gugu Liberato, Faustão, Hebe Camargo, Luciano Huck e Rodrigo Faro.  As novelas também marcaram época e serviram como forma de protesto e reivindicação. A novela “Rei do Gado”, por exemplo, tratou do tema da Reforma Agrária no Brasil, que, posteriormente, foi discutida pelo Planalto Central. Outras novelas com enredos mais marcantes suscitam até hoje o imaginário popular, como é o caso da novela Pantanal, de 1990, que ganhará uma nova versão em 2020.

Durante a Ditadura Militar (1964-1986), muitas emissoras de TV serviram aos interesses do governo. Ainda assim, muitos programas sofreram com a censura, uma das principais características da época.

Foi através da telinha que assistimos a muitos feitos históricos, como por exemplo, a chegada do homem à Lua, a vitória da seleção brasileira na copa de 70, a queda do muro de Berlim, o fim da URSS, a redemocratização do Brasil, as Diretas Já, o ataque às Torres Gêmeas e tantos outros acontecimentos importantes da história, não somente do Brasil, mas também internacional.

Nunca nenhum outro meio de comunicação foi mais presente ou influente que a TV. Mesmo famílias que vivem em moradias simples, sem acesso à infraestrutura básica, como água encanada e esgoto, possuem um aparelho de TV no qual assistem a telejornais, novelas e jogos de futebol.

A TV, ao longo da história, deixou de ser pura e simplesmente um eletrodoméstico e tornou-se  símbolo de identidade e memória da sociedade brasileira.

  • Pérola Ferraz é professora de História e vice diretora da Escola SAB