Os votuporanguenses Eliete Gallo Vilela (diretora de escola), Antonio Aparecido
Menechelli (médico veterinário) e Elidio de Campos Lima (caminhoneiro), todos na
casa dos 80, revelam que continuar trabalhando vai além da questão financeira.
@leidiane_vicente
A ideia de se aposentar perante benefício da previdência social ou privada e se
retirar, permanentemente, do mercado de trabalho é algo que está ficando, cada
vez mais, no passado.
Atualmente, no Brasil, e em outros países, como nos Estados Unidos, a parcela da
geração dos Baby Boomers, ajudando a compor o quadro de funcionários de
empresas, tem aumentado.
Pesquisa realizada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), em
2008, mostra que cerca de 22,5% das pessoas com 65 anos ou mais continuam
trabalhando, sendo que a grande maioria (74,7%) já é aposentada.
Esse crescimento da permanência ou reinserção dos idosos aposentados ao
mercado de trabalho tem diversas justificativas. Algumas dessas razões são: prazer
pelo trabalho, ocupação do tempo livre, continuidade pelo exercício de uma
atividade física e mental, além das necessidades financeiras, como os baixos
valores dos benefícios concedidos.
É o que acontece com a diretora de escola Eliete Gallo Vilela, 82 anos, moradora de
Votuporanga-SP. “Procuro continuar sendo produtiva, enquanto tenho condições
físicas, intelectuais, emocionais e mentais para tanto. E o que ajuda muitíssimo é o
relacionamento maravilhoso que tenho com as crianças, com os adolescentes e
com os jovens professores e funcionários com os quais convivo. Eles me dão vida”,
explica ela sobre seus motivos de continuar trabalhando.
Para o médico veterinário votuporanguense Antonio Aparecido Menechelli, 84
anos, tem relação com o amor e carinho que ele sente pelos animais e as amizades
que fez durante a carreira. Ele afirma que é uma profissão almejante. “Sinto-me
realizado por ter contatos muito promissores com pessoas, animais e saúde
pública”, diz.
Já o caminhoneiro, residente de Votuporanga-SP, Elidio de Campos Lima, 83 anos,
comenta que a maior parte do que recebe fica para pagar despesas de combustível,
mas mesmo assim gosta do que faz: viajar.
Conforme explana a psicóloga Larissa Belucci, os benefícios psicológicos de
continuar trabalhando após os 60 anos são muitos, desde o sentimento de
utilidade até a socialização.
“Ser útil, não deixa de ser benefício de saúde mental a toda espécie humana, afinal
faz sentido à vida e não seria diferente na terceira idade. Fato é que, nesta fase, há
perdas físicas e psicológicas, o que pode levar a sensação de inutilidade, tristeza,
ansiedade e até a depressão. Manter-se em um papel de trabalho, contribui na
preservação da autonomia, autoconfiança e autoestima dos idosos, além de
fortalecer a sua percepção de pertencimento. A oportunidade de socialização
promovidas por esses ambientes, também são agentes protetivos e
desencadeadores de qualidade de vida”, elucida ela.
Porém, é importante que o ambiente de trabalho dos idosos seja saudável e sem
discriminação. Livre de ofensivas como o etarismo, que é a prática discriminatória
realizada contra uma pessoa com base em sua idade.
“Nunca observei preconceito. Mas, possivelmente, preconceito velado deve haver”,
desconfia Eliete.
Ela não está sozinha, pelo menos 86% da população acima dos 60 anos afirma já
ter enfrentado algum tipo de preconceito em relação ao mercado de trabalho,
independentemente de suas habilidades e experiências. É o que indica uma
pesquisa realizada pelo Grupo Croma, com base em dados da Oldiversity.
Em algumas situações, o etarismo pode ser enquadrado como crime, por exemplo
chamar uma pessoa de velha de maneira pejorativa ou considerar que ela é incapaz
de fazer algo pela sua idade. Isso é o defende o Estatuto da Pessoa Idosa, também
conhecido como Lei nº 10.741, que foi sancionada em 6 de outubro de 2003,
durante o governo de Luiz Inácio Lula da Silva.
Belucci chama a atenção para essa questão: “Cuidados voltados a combinação de
vida social e trabalho, sendo favorecido com condições de ambiente seguro, de
liberdade, equidade e que não sofra discriminações e explorações de qualquer
cunho. É importante ressaltar, que o idoso tem por direito a adequação do
ambiente organizacional que venha a contribuir na promoção da inclusão e
permanência dele no trabalho”, alerta a psicóloga.
Quanto ao segredo dessa longevidade e energia para continuar trabalhando, eles
não escondem: ter boa saúde e muito amor pelo trabalho que realiza.
Apesar de já terem passado dos 80 anos, o único que declarou que está encerrando
suas atividades profissionais é o médico veterinário Menechelli. Enquanto isso,
Elidio, que começou a trabalhar aos oito anos na lavoura com o pai, alega que não
tem previsão de parar de trabalhar. E Eliete, que iniciou a carreira na Educação aos
20 anos, como professora de português e francês, expressa animada: “Acho que
devemos trabalhar até o último momento da nossa vida, porque trabalho é vida”.