Presidente da Fifa rebate críticas à Copa do Mundo do Catar: “Não assista”

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Gianni Infantino, presidente da Fifa, em entrevista coletiva na véspera do começo da Copa do Mundo — Foto: Matthew Childs/Reuters

Gianni Infantino, presidente da Fifa, responde a questões sobre a política do Catar antes da Copa do Mundo: “Hoje me sinto catari. Hoje me sinto africano. Hoje me sinto gay”


O presidente da Fifa concedeu uma entrevista coletiva, na manhã deste sábado (19.nov), em Doha, no Catar. A um dia da abertura da Copa do Mundo, Gianni Infantino foi questionado sobre a política do país sede e discursou a favor das minorias. O governo catari vem sendo criticado por conta do tratamento dado às minorias ao longo de sua história.

“Não assista. É como essas pesquisas que mostram alguns candidatos na frente, e depois eles não ganham. Pega bem para alguns dizer que não vão assistir, porque o Catar isso, porque a Fifa aquilo… mas a gente sabe que essas pessoas vão assistir, talvez escondidos. Porque nada é maior do que a Copa do Mundo. Para estas pessoas, as que vão ver escondidas, eu digo que vai ser a melhor Copa do Mundo da história.”

Em uma fala em que tenta se aproximar das minorias, Infantino fez um discurso a favor da população que enfrenta dificuldades no Catar.

“Hoje estou com sentimentos muito fortes. Hoje me sinto catari. Hoje me sinto árabe. Hoje me sinto africano. Hoje me sinto gay. Hoje me sinto deficiente. Hoje me sinto como um trabalhador imigrante”, disse o mandatário da Fifa.

O país do Oriente Médio recebe críticas por seu histórico de direitos humanos, incluindo sua posição sobre os direitos das mulheres e LGBTQIA+. O Código Penal do Catar proíbe a atividade homossexual para homens e mulheres e prevê, como pena máxima, até o apedrejamento.

Infantino também citou sua experiência pessoal para dizer que entende as dificuldades enfrentadas pelas minorias. O dirigente lembrou de sua infância na Suíça e diz ter enfrentado discriminação por ser estrangeiro, ter cabelo ruivo e sardas.

“Claro que eu não catari, nem árabe, nem africano, nem gay, nem deficiente, nem um trabalhador imigrante. Mas eu sinto, eu sei como é ser discriminado, como é ser tratado como um estrangeiro. Como criança na escola eu sofria bullying, porque eu tinha cabelo ruivo e sardas. Eu era italiano, então imagine, eu não falava bom alemão. O que você faz? Você vai para o seu quarto, fica mal, chora. E então tenta fazer amigos, tenta convencer os amigos a se relacionar com outros e outros. Não acusa, não insulta. Você começa a se engajar. E isso é o que nós deveríamos fazer.”

Infantino comentou as críticas ao tratamento aos trabalhadores migrantes no país.

“Quem está realmente se importando com os trabalhadores? A FIFA se importa, o futebol se importa, a Copa do Mundo se importa e, para ser justo com eles, o Catar também. Eu estive em um evento alguns dias atrás, onde explicamos o que estávamos fazendo nesta Copa para pessoas com deficiência… 400 jornalistas estão aqui (na coletiva de hoje) aquele evento foi coberto por 4 jornalistas. Há 1 bilhão de pessoas com deficiência no mundo. Ninguém se importa. Ninguém se importa. Quatro jornalistas”, concluiu o presidente da Fifa.

Na longa entrevista, Infantino disse que torcedores podem apoiar qualquer seleção e criticou um possível racismo a quem aponta razões para o contrário.

“Esta cidade é linda, as pessoas estão felizes. “Eles não podem torcer para a Inglaterra porque eles parecem indianos”. Eles não podem? Não podem torcer para Inglaterra ou Espanha? Isso é racismo. É puro racismo. Todo mundo tem o direito de torcer para quem quiser.”

*Com informações do ge