A fala do vereador Daniel David (MDB) ocorreu durante os protestos de servidores da educação na última segunda-feira (17), na Câmara Municipal. Ao Diário, o parlamentar explicou que sua fala está sendo distorcida e, que foi direcionada a uma única pessoa que o chamou de covarde: “Eu jamais mandaria um professor ir se f#der.”
Jorge Honorio
jorgehonoriojornalista@gmail.com
A presença incisiva de manifestantes durante a 4ª sessão ordinária da Câmara Municipal de Votuporanga/SP, na última segunda-feira (17.fev), gerou ampla repercussão nas redes sociais, inclusive, com um recorte que passou despercebido por muitos, uma fala do presidente da Casa de Leis, vereador Daniel David (MDB), em resposta aos presentes que protestavam pacificamente contra a criação da Secretaria de Bem-Estar Animal e outros 28 cargos pela Prefeitura e por valorização dos profissionais da educação. Em um dos momentos de maior pressão e, em resposta ao coro de ‘covarde’, o parlamentar passa a reagir as falas de uma pessoa nas galerias e dispara: ‘covarde é você. Vai se f#der!’.
O fato que foi gravado na transmissão oficial da Casa de Leis, recortado em trechos curtos e difundidos em grupos locais nas redes sociais, mostra o momento exato, quando no ponto mais agudo da manifestação, Daniel David tentando acalmar os presentes que permaneciam sentados, e ameaçou suspender a sessão, o que causou efeito contrário, aumentando ainda mais a intensidade do protesto: “Se continuar assim, vou suspender a sessão. Podemos continuar? Podemos? Então, por favor, só peço respeito para a gente poder votar. A manifestação é válida.”
“Eu sei, com a média salarial de R$ 5 mil, com 2 mil horas de falta em 30 dias de salário. Parabéns! Parabéns! Parabéns! É isso aí, exemplo”, afirmou o presidente da Casa, dirigindo-se aos manifestantes, e em seguida, suspendeu a sessão por tempo indeterminado e deixou o plenário.
Minutos depois, Daniel David retorna trazendo uma garrafa de água, e ainda sem reabrir os trabalhos, o vereador se dirige aos presentes: “Eu só peço respeito para que a gente possa trabalhar, só isso. É direito de vocês se manifestarem. É direito de vocês se manifestarem. Covarde é você. Vai se f#der. Eu só peço respeito para a votação.”
A sessão segue paralisada e o vereador Cabo Renato Abdala (PRD) tenta intervir para acalmar os ânimos: “Vamos guardar um pouco de fôlego para a votação final, aí vocês tiram foto do telão, com quem votou e jogam nas redes sociais.”
Em seguida, a sessão é reaberta e segue o curso normalmente, ainda sob protesto dos presentes que só deixaram as galerias após a aprovação do projeto.
Procurado pela reportagem, Daniel David explicou que a fala está sendo distorcida: “Eu não estava falando com os professores, eu jamais mandaria um professor ir se f#der. Eu estava falando com uma pessoa que levantou lá e me ameaçou, me chamou de covarde. Ela era contrária a aprovação do projeto que criava a secretaria, e levantou lá e me chamou de covarde. No calor do momento, no tumulto, eu acabei respondendo que covarde era ela e ao voltar o corpo para a cadeira soltei a fala em tom de desabafo, que nem deveria ter soltado, porque agora está aí sendo distorcido.”
“Os professores estavam lá protestando por melhores condições de trabalho, pagamento do VAAR, que é um dinheiro de complementação para a educação básica, que deve ser direcionado a eles, e que o prefeito deve enviar para a Câmara autorizar. A sessão foi muito tumultuada, mas eu jamais ofenderia os professores, eu tenho muito respeito e amizade com muitos deles. Agora, recortaram o vídeo e estão distorcendo tudo, falando que eu me dirigi aos professores, causando uma confusão que não existe. Tenho mais de oito anos na política e nunca ninguém ouviu algo assim de mim, não é do meu perfil. Eu jamais faria isso contra os professores. Eu vou um registrar boletim de ocorrência para preservação de direitos. A gente fica triste com esse tipo de distorção, até porque, independente do que for, a verdade deve ser soberana”, emenda o vereador.
“Todo mundo sabe do respeito que tenho pelos professores, assim como por outras categorias do funcionalismo público. Eu errei em ter reagido daquela forma com aquela pessoa, mas daí a falar que eu ofendi uma classe é mentira, é distorção, não posso assumir uma coisa que não fiz”, desabafou Daniel David.
Reação imediata: Nota de Repúdio
Nas redes sociais, a reação dos professores aos acontecimentos da sessão da Câmara foi imediata e condensada em uma nota de repúdio amplamente compartilhada. Confira abaixo:
“No último dia 17/02, os servidores de Votuporanga – e diretamente a classe do Magistério – sofreram um ataque calunioso do nobre edil que preside a Casa Legislativa de nosso município. Presenciamos, estarrecidos, a postura desse senhor que, revestido de claro sarcasmo, pretendeu deslegitimar o propósito de valorização profissional buscado pelos docentes e demais profissionais neste dia. Deliberadamente expressou o que pensa dos professores de forma desrespeitosa e distorcida da realidade, principalmente em relação aos proventos e à carga horária.
Em resposta, prezado vereador, nós, profissionais da educação, gostaríamos de reiterar que nosso salário advém de trabalho duro somado a muitas horas de estudo e investimento do nosso próprio bolso. Nossos vencimentos são injustos considerando o exposto anteriormente e o grau de entrega, desgaste físico e psicológico de quem exerce o trabalho com responsabilidade.
Sabemos bem que a classe do magistério não é, nunca foi e tampouco será a grande responsável pela oneração dos cofres públicos.
Ser professor é abraçar a luta árdua e diária contra as sombras da manipulação, da alienação e, principalmente, daqueles que tentam a todo custo distorcer nosso papel social (como vislumbramos na referida data). Seguiremos firmes no propósito. Como disse Paulo Freire, educar é um ato político. Faremos questão de lembrar da postura extremamente desrespeitosa e, por vezes, debochada de quem é ou deveria ser o representante do povo no legislativo. Seria, no mínimo, de extremo bom tom uma retratação pública por parte de Vossa Senhoria, @danieldavidvereador.
Att. Professores da rede municipal”
