Por Camila Ferraz
Ela marcou a época, divertiu gerações, foi considerada um ícone da história dos quadrinhos e, mesmo após 50 anos, ainda continua atual. Mafalda foi uma personagem criada pelo cartunista argentino Joaquín Lavado “Quino”. Ela é uma menina de 6 anos, simpática, extrovertida, divertida, sonhadora, idealista e pensadora. Por meio de suas histórias, nos convida a adentrar na cultura e no espírito da Argentina e do mundo dos anos 60 e 70 e, dali, pergunta-nos sobre a vida, as instituições, as pessoas e as emoções. Pode ser entendida como uma “heroína zangada” que não quer ser responsabilizada por um mundo modificado pelos adultos. É uma garota rebelde, inconformada diante do contexto mundial recente e que se tornou extremamente popular em todo o continente europeu e na América Latina. Os questionamentos de Mafalda faz a gente refletir sobre quem somos, que mundo estamos vivendo e o que estamos fazendo de nossas próprias vidas.
Esta personagem foi criada para atender à uma campanha publicitária de eletrodomésticos, mas o projeto acabou não saindo do papel. Um tempo depois, um jornal argentino publicou a tirinha, que acabou fazendo grande sucesso. Mafalda foi publicada por cerca de uma década, entre os anos de 1963 a 1973. É interessante pensar no contexto em que ela foi criada, ou seja, um período histórico muito conturbado. Mafalda cresceu em plena ditadura militar na Argentina, passou por momentos difíceis como a Guerra Fria, que abalou o psicológico de todo o mundo, Guerra do Vietnã, assassinato de líderes como Martin Luther King e Che Guevara, o início do movimento hippie e o florescer do Movimento Feminista. Todos estes acontecimentos históricos, de certa forma, estão relacionados ao enredo da história da personagem, de sua família e de seus amigos.
Quem conhece Mafalda, já sabe que ela odeia sopa! Na verdade, a sopa é uma referência aos regimes ditatoriais, em especial ao argentino.
Seus amigos também são muito representativos. Um deles, Manolito, é o exemplo clássico de um liberal capitalista. Filho do dono da mercearia, está sempre atento à entrada e saída de dinheiro da loja, é tosco, ambicioso e materialista. Susanita, apesar de ser a melhor amiga de Mafalda, é justamente o contrário do estereótipo de mulher que ela idealiza. É fútil, fofoqueira e, em alguns momentos, racista. Liberdade é uma minúscula garotinha, filha de pais idealizadores, e representa o novo modelo feminino que surgiu após a Revolução feminista. É pequena, justamente para lembrar que a conquista dos direitos das mulheres ainda teria muito para crescer. Mafalda também tinha uma tartaruga, a Burocracia. Ela tem esse nome por ser lenta, indiferente e voluntariosa.
Mafalda tornou-se símbolo da campanha da Unicef pelos direitos das crianças, fazendo alusão à Declaração Universal dos Direitos das Crianças e, até hoje, é referenciada em campanhas em prol da educação em todo o mundo.
No entanto, um dia após o aniversário de 56 anos da questionadora menininha, fã de Beatles, que ficou famosa pela preocupação em combater os problemas sociais e que odiava sopa no jantar, morreu seu idealizador. O cartunista argentino “Quino” faleceu aos 88 anos, em consequência de um acidente vascular cerebral. Mafalda, com certeza, ficaria muito triste por isso e por perceber que, apesar de ter sido criada há mais de cinco décadas, suas tirinhas ainda continuam atuais, mas não somente pela ironia. Infelizmente o mundo permanece com sérios problemas! Os ricos continuam em ascensão, os pobres em situação calamitosa e aqueles que têm o poder de mudar a situação, comportam-se indevidamente, cometendo os mesmos erros e sendo, inclusive, muito cruéis. O mundo não mudou muito, pequenina garota…