O Livro de Isa

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Por Antoninho Rapassi

O autor do Livro de Isa é o poeta Aristêo Seixas, que foi presidente da Academia Paulista de Letras. Em Dezembro de 1961 ele me recebeu em sua mansão no Bairro de Pinheiros, a propósito de apor sua assinatura nos Diplomas que seriam entregues aos membros da Academia Votuporanguense de Letras. E, à hora das despedidas, coroando o bom encontro, o anfitrião nonagenário ofereceu 4 livros: dois seriam para o acervo da nova Instituição e dois para mim. “Pôr do Sol” e o “Livro de Isa” eram os nomes dos volumes ofertados e que me sensibilizaram.

No ano de 2001 eu vivia no apogeu do comércio das minhas artesanais Cachaças temáticas. Nesta época já haviam sido lançadas as marcas “Getúlio Vargas” e a “Nonô do Tijuco”. Tag é o nome que se dá ao livrinho que vem enlaçado no gargalo da garrafa. Todas as minhas marcas têm um Tag exclusivo, onde procuro fazer a melhor apologia do personagem homenageado, bem como a exaltação das peculiaridades organolépticas do produto etílico.

Desta forma, chegou o dia e a hora em que tive a ideia de criar a marca “São Paulo da Garoa” e rotular mais uma Cachaça temática. Porém, faltava o desenho ou a imagem que pudesse ser associada ao nome do produto. Este produto era o nome da cidade pela qual tenho uma paixão fanática: eu amo São Paulo, eu adoro São Paulo. Então, qual seria a logomarca ideal? Debrucei-me neste assunto e a solução não vinha. Finalmente, ocorreu-me a lembrança da atraente capa do livro que ganhei no longínquo 1961 e de cuja localização não tinha nenhuma pista, em razão das incontáveis mudanças que periodicamente eu fazia. “O Mundo Gira e a Lusitana Transporta” era o lema bem humorado de uma empresa e ao qual o meu indefectível bom humor recorria nos momentos daquelas atrapalhações inevitáveis “das caixas pra cá, embrulhos pra lá”. Mas, tive sorte e o “Livro de Isa” surgiu à minha frente! E lá estava a figura de uma mulher paulistana com traços e cores vivas, usados pela Art Nouveau, uma vez que a obra literária e o trabalho plástico foram feitos para a Semana de Arte Moderna de 1922.

Feita a conta impressionou-me concluir que, após 40 anos aquele livro vinha em meu socorro e solucionava um problema. E tem mais: no decorrer das promoções comerciais este rótulo foi sempre um sucesso, considerado como o mais bonito e o que mais agradava a clientela.

A seguir, vou fazer a transcrição “ipsis-litteris” do texto do Tag:

“Fundada em 25 de Janeiro de 1554 pelo jesuíta José de Anchieta, São Paulo foi marcada como grande centro romântico e depois econômico, mercê de sua privilegiada geografia, ponto de partida para a busca de riquezas que jaziam no sertão. Sertão que era rico e todo mistério ao aguardo das aventuras e dos heroísmos. Com o bandeirismo paulista, essa “raça de gigantes”, no dizer de Antonil, movimentou-se o comércio, vieram as conquistas territoriais e a escravização de indígenas.

Enquanto isso, o burgo de São Paulo de Piratininga ia vivendo a sua vida. Do Imperador D. Pedro I recebeu em 11 de Agosto de 1827, a criação e instalação da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco. A estudantada das Arcadas espantou o sossego provinciano e pôs em pânico os pais de família, como alertava o poeta Castro Alves.

Quando a sombra da noite principiava a enegrecer o poente, acendia-se a luz mortiça dos lampiões e após tocarem os sinos das igrejas, todos se recolhiam. Menos os que moravam em repúblicas, membros das confrarias de boêmios e de sonhadores. Eram jovens inspirados que ficaram célebres pelo talento lírico. Bebiam cachaça na São Paulo da garoa e se permitiam às sensibilidades da Imaginação sobre às da Razão, não é mesmo Professor Goffredo Telles Júnior?

São Paulo cresceu com a chegada dos imigrantes. E tudo mudou para melhor nesta convivência cosmopolita, principalmente quando o ciclo do café sucedeu ao da cana-de-açúcar, trazendo a opulência, a força política e a industrialização. Hoje, ao cair da garoa nas suas tardes de vento sul, a maior cidade da América Latina se transforma para o congraçamento diário em torno da boa bebida, da boa comida e do bate-papo restaurador da fé e da disposição para vencer.

Por isso, não se exagera quando se diz: “São Paulo é a capital mundial da gastronomia”. E agora que a Cachaça se tornou a bebida oficial do Brasil, é com justo orgulho que se pode oferecer uma joia preciosa como é a

Cachaça São Paulo da Garoa.”

Antoninho Rapassi