“O DILEMA DAS REDES” – Saiba as verdades do que acontece por trás das redes sociais

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Por Andrea Anciães

Por Andrea Anciães

“Mas nos deram espelhos e vimos um mundo doente”  –  Renato Russo, 1986.

O Facebook foi um erro. Esses monólogos coletivos são muito frustrantes para quem acompanhou o sonho de uma Sociedade da Informação, lá em 1996. Nós meio que estamos na Fase II da Internet, aquela em que os fumantes descobrem que o tabaco causa câncer e que a indústria de cigarros já sabia. Imaginávamos – eu imaginava – que o rápido acesso a uma infinita quantidade de informação iria mudar positivamente o mundo, mas foi uma trágica tolice.

Primeiro, eu pensava que éramos nós que não sabíamos utilizar uma ferramenta fenomenal de comunicação, mas começo a entender que pode ter algo na dinâmica intrínseca da sua lógica que nos torna piores. Assim têm dito os especialistas que apontam o código de programação das redes sociais (os tais “algoritmos”) como os vilões desse processo de desconstrução da informação. Mas o que, basicamente, fazem os algoritmos? Duas coisas: a) nos relacionam com o conteúdo que costumamos consumir (reforçando um circuito fechado em nós mesmos) e b) impulsionam o conteúdo que todos costumam consumir (reforçando esse circuito de forma social). E daí? Daí que a humanidade é ignorante. Ponto.

Por definição, as pessoas comuns no Brasil (e no mundo) ignoram quase todos os assuntos tratados por especialistas e cientistas. Não se aprofundam em temas complexos, por tratarem das coisas que dizem respeito às suas rotinas e às suas vidas. Somam-se a isso uma penca de crendices, machismo enraizado, simplificações grosseiras, fanatismo religioso, culto à personalidade, anticientificismo e outras doenças do intelecto nacional (e mundial). Olhando agora, era inevitável que a ignorância e a falsa informação inundassem as redes sociais. Exatamente lá onde imaginávamos – eu imaginei – que a grande quantidade de informação liberada transformaria o mundo, fomos soterrados por um mar de inverdades. Passados 25 anos, é sintomático que a Era da Informação desse lugar à Era da Pós-verdade.

Os gênios do mal de plantão na política rapidamente aprenderam a usar a ignorância disseminada maciçamente contra nós. A verdade é uma ameaça aos promotores das diferenças e das desigualdades. Nada melhor para os donos do mundo do que nos enforcarmos nas mentiras que interessam a eles e que ajudamos a disseminar, a ponto de defendê-las.

O pobre agora se espanta porque a retirada de direitos sociais está aumentando a desigualdade?! E o que se esperava? Que a retirada de direitos proposta pela classe dominante fosse atuar a favor da classe explorada? É preciso estar completamente enganado para cair nessa. E as redes sociais servem perfeitamente a esse fim. Antes de perder a verdade, o mundo perdeu primeiro a lucidez.

O que sentimos é resultado do que pensamos, e o que pensamos é resultado das informações que consumimos diariamente.