Marcha do Acampamento Vale do Amanhecer termina na Rodovia Euclides da Cunha 

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Marcha do Acampamento Vale do Amanhecer termina na Rodovia Euclides da Cunha – Foto: Reprodução

Ignorados órgãos públicos e lideranças e políticas, o grupo que aguarda decisão Incra e o Ministério do Desenvolvimento Agrário dá indícios de que pode fechar uma das principais rodovias do interior paulista.


Jorge Honorio
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A marcha do Acampamento Vale do Amanhecer foi realizada na tarde desta quinta-feira (12.jun), começando na Praça São Bento, área central de Votuporanga/SP, e terminando na Rodovia Euclides da Cunha (SP-320), próximo ao Posto Trevão, local marcado por fechamento de pistas recentemente após a derrota de Jair Bolsonaro (PL) nas eleições presidenciais de 2022.

Ao Diário, a coordenadora Alessandra Moreno, explicou que 400 pessoas participaram do ato pacífico: “A intenção é só uma, chamar a atenção das autoridades competentes para o nosso problema. Nós não temos mais tempo, essas famílias estão sendo ignoradas há 12 anos, e agora, com a reintegração de posse pedida pela Prefeitura de Álvares Florence, não temos para onde ir.”

“Tudo transcorreu como tem que ser, de forma pacífica e ordeira. Por isso, até, quero agradecer a Polícia Militar, Polícia Civil, Polícia Ambiental e, claro, a Polícia Rodoviária que esteve com a gente aqui na pista”, emendou a coordenadora.

Vale relembrar que o Acampamento Vale do Amanhecer está situado às margens da estrada vicinal José Pinto Sobral, que liga Álvares Florence/SP à Américo de Campos/SP, há mais de uma década. Os acampados buscam as terras da ‘Fazenda dos Ingleses’. Contudo, a burocracia e a falta de interesse governamental têm não só procrastinado uma decisão sobre o tema, como também mantido famílias em risco à beira da rodovia.

Marcha percorreu a área central de Votuporanga – Foto: Reprodução

“Nós estamos nos posicionando para chamar a atenção do ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, do presidente nacional do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária, César Aldrighi, da diretora do Departamento de Mediação e Conciliação de Conflitos Agrários, Claudia Dadico, da superintendente regional do Incra/SP, Sabrina Diniz, enfim, de todos que podem olhar para esse povo e tomar uma decisão. Nossa situação está cada dia mais complicada e a falta de respostas é o pior dos males”, ressaltou. 

Questionada sobre um suposto fechamento da rodovia, a coordenadora negou essa ação em primeiro momento, mas não descartou uma possível ocupação: “Nós não viemos fechar a rodovia ou ocupar a rodovia, nós viemos fazer um ato para despertar a atenção das autoridades para o qual sensível é o nosso caso. Um fechamento de rodovia seria uma operação muito maior, com integrantes de outros acampamentos, não é esse o caso de hoje.” 

“O acampamento existe desde 2013 nas margens da vicinal e cabe lembrar que desde fevereiro de 2024 o acampamento vem sofrendo uma ação reintegração de posse movida pela Prefeitura de Álvares Florence. O processo foi julgado em primeira e segunda instâncias com decisões favoráveis à Prefeitura. Com essas decisões as famílias correm o risco de serem despejadas a qualquer momento. Estas famílias reivindicam reforma agrária digna e justa, que é fundamental para garantir uma distribuição mais equitativa da terra, promovendo a justiça social e o desenvolvimento rural sustentável, assegurando o acesso à terra para aqueles que dela dependem para a produção de alimentos e para garantir uma vida digna. A reforma agrária é uma ferramenta para corrigir desigualdades históricas e garantir que todos tenham acesso aos meios de produção, como a terra”, concluiu Alessandra Moreno. 

Esse não é o primeiro movimento dos acampados do Vale do Amanhecer. Cada vez mais impacientes e sob ameaça iminente de reintegração de posse, na tarde do último dia 30 de maio, um grupo de mais de 250 pessoas lotaram o plenário da Câmara Municipal de Votuporanga. No encontro eram esperadas figuras como o ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, que não marcou presença. Irritados com o descaso, manifestantes classificaram o gestor da pasta como “ministro promessinha” e “omisso” ganhando repercussão na mídia nacional.