Justiça de São Paulo condena 11 pessoas a dez anos de prisão por manipulação de resultados 

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Organograma da quadrilha que adulterou resultados no futebol para favorecer apostadores asiáticos operação Game Over — Foto: Reprodução

Grupo agiu em clubes de pequena expressão entre 2015 e 2016 para fraudar partidas e beneficiar apostadores; eles poderão recorrer em liberdade.


A Justiça de São Paulo condenou nesta semana 11 pessoas a dez anos e oito meses de prisão pela manipulação de resultados em partidas de futebol durante 2015 e 2016. O grupo, que inclui empresários, atletas e treinadores, poderá recorrer da sentença em liberdade.

Segundo denúncia do Ministério Público paulista, os 11 acusados formaram uma organização criminosa com o intuito de fraudar placares de jogos para beneficiar apostadores asiáticos. Dois malaios foram identificados como sendo os chefes do grupo, mas eles jamais foram encontrados.

O grupo foi o primeiro de réus por manipulação esportiva no país desde a modificação do Estatuto do Torcedor, em 2010, para que o crime pudesse ser tipificado. 

Todos eles foram alvo da Operação Game Over, que em julho de 2016 prendeu sete pessoas em São Paulo, São José do Rio Preto, Bauru e Maracanaú/CE.

Segundo a sentença, proferida na última quinta-feira, os réus foram condenados por terem cometido quatro vezes o crime previsto no artigo 41-D do Estatuto do Torcedor – dar ou prometer vantagem patrimonial ou não patrimonial com o fim de alterar ou falsear o resultado de uma competição desportiva ou evento a ela associado, com pena de dois anos e seis meses.

As primeiras audiências do caso foram em 2018. A pandemia de Covid-19 arrastou o julgamento até agora.

De acordo com as investigações, Jawahir Bin Saliman e Zulfila Bin Mohd Sultan, malaios, eram os apostadores e financiadores do esquema. O processo contra eles corre separado da ação principal.

A polícia também identificou Anderson Silva Rodrigues e Márcio Souza da Silva como os líderes da quadrilha.

Outros nove homens foram descritos como aliciadores: Jefereson Cerqueira Teixeira, Carlos Henrique Franco Luna, Wanderley Santos Carneiro, Wanderley Santos Carneiro Júnior, Rodrigo Guerra do Bonfim, Marcos Danilo Ferrari, Carlos Eduardo Souza da Silva Rabelo, Francisco Jamison Gonçalves e Thiago de Souza Coutinho, que seriam os responsáveis pelos contatos com clubes e atletas.

Todos eles negam participação nos crimes e poderão recorrer, em liberdade, da sentença.

As investigações

As suspeitas começaram a partir de um relatório produzido por uma empresa austríaca de monitoramento de padrões de apostas que prestava serviços à Fifa. A partida que gerou a desconfiança foi a goleada de 9 a 0 do Santo André sobre o Atlético Sorocaba – posteriormente, o ge revelou que a taxa de arbitragem deste confronto foi paga por Anderson Silva Rodrigues, líder da quadrilha.

As investigações avançaram a partir de interceptações telefônicas que permitiram identificar outros envolvidos e a área de atuação – prioritariamente em jogos de equipes pequenas do interior de São Paulo e do Nordeste.

Os dois malaios foram identificados em seguida. Eles viajaram ao Rio de Janeiro, onde se encontraram com os líderes do grupo, antes de as prisões terem sido efetuadas.

Nas conversas telefônicas, reveladas pelo ge, a quadrilha combinava os jogos que seriam manipulados, o placar e celebravam as conquistas. Numa das ligações, Rodrigues exclamou a Francisco Jamison Gonçalves: “Porra, vamos ficar ricos!”

Em declaração ao Ministério Público, em 2017, numa tentativa de delação premiada, Rodrigues afirmou que a quadrilha cogitava arrendar um clube para facilitar as fraudes. O acordo proposto não foi aceito.

*Com informações do ge