Juros altos aumentam número de endividados; entenda 

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Foto: Reprodução

Pesquisa mostra que quase 86% das famílias têm dívida com cartão de crédito, modalidade com um dos juros mais altos do mercado.


A Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) divulgou nesta quarta-feira (8.mar) que a proporção de famílias brasileiras endividadas em fevereiro chegou a 78,3%.

Dados da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic) indicam aumento de 0,03 ponto percentual em relação à janeiro e de 1,7 p.p. na comparação com fevereiro de 2022.

Embora tenha atingido, em 2022, uma média anual recorde na série histórica da Peic, iniciada em 2010, o endividamento – que considera qualquer tipo de dívida, incluindo o uso de cartão de crédito, mesmo que pago em dia – “vinha apontando perda de fôlego desde outubro” do ano passado, diz o relatório divulgado pela CNC.

Segundo a Peic, entre as famílias endividadas, 29,8% delas têm pagamentos atrasados, sendo que 11,6% declararam que não vão conseguir pagar esse atraso.

O cartão de crédito – tradicional vilão do endividamento – segue como a principal dívida para 85,7% das famílias endividadas. Na sequência está o carnê de loja, apontado por 18,3%. Outros 8,6% têm dívida de financiamento de veículo, 7,3% de financiamento imobiliário e 5,1% no crédito consignado.

O juro médio total cobrado pelos bancos no rotativo do cartão de crédito subiu 13,9 pontos porcentuais de novembro para dezembro, de acordo com último levantamento divulgado pelo Banco Central. A taxa passou de 395,4% (dado revisado) para 409,3% ao ano. No fim de 2021, era de 347,4% – salto de 61,9 pontos porcentuais no ano.

O rotativo do cartão, juntamente com o cheque especial, é uma modalidade de crédito emergencial, muito acessada em momentos de dificuldade.

A quantidade de brasileiros que se consideram muito endividados tem crescido em ritmo acelerado. No segundo semestre de 2022, o problema atingiu 4 em cada 10 brasileiros, segundo pesquisa da empresa de inteligência analítica Boa Vista e tem como base entrevistas feitas com 1,5 mil pessoas. É o pior resultado desde 2019.

No segundo semestre de 2022, 42% da população se considerava muito endividada. Em 2021, o índice foi de 32%. Em 2023 o endividamento crescerá em um ritmo mais lento, segundo Bruna Allemann, educadora financeira da fintech Acordo Certo. Para ela, o aumento do endividamento é causado pelo avanço da inflação, redução do poder de compra e crédito mais caro.

Desenrola

O programa de refinanciamento de pequenas dívidas, o Desenrola, terá recursos dos bancos e garantia contra calote oferecida pelo Tesouro Nacional. O modelo ainda está sendo finalizado, mas as discussões indicam que o governo pode constituir fundo de até R$ 20 bilhões para o programa. 

O Desenrola deve vai priorizar um grupo de 36 milhões de brasileiros inadimplentes e deve ter um aplicativo próprio para que as pessoas endividadas consigam pactuar novas condições de pagamento com os bancos. 

Números da Serasa indicam que 70,1 milhões de brasileiros estão inadimplentes. Os segmentos que mais concentram dívidas são bancos e cartões de crédito (29,6%), contas de água e luz (21,5%), empresas varejistas (11,3%).