Irmãs Sagracianas – Da vocação à vida religiosa de fé e caridade 

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Profissão temporária/ votos simples de Irmã Lua Puebla Costa

Em Votuporanga/SP, seis irmãs vivem em votos evangélicos: na pobreza, na castidade e na obediência. Seguem a Cristo para caracterizar-se com Ele, em sua pessoa pobre, casta e obediente. O jornal Diário de Votuporanga conversou com a irmã Eliane Tofaneli que conta como vivem.


“Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três; porém o maior destes é o amor.” (Coríntios)
“Se buscarmos na História a tradição da vida religiosa conventual feminina, veremos que a instalação de conventos e instituições religiosas femininas em terras de missões, caracteriza-se como uma conquista e como uma maior abertura para a atuação
das freiras nas instituições conventuais católicas em relação à rígida hierarquia da
Igreja, que há muito tempo, desde a institucionalização de casas conventuais femininas
católicas no século II, compunha em suas regras os costumes e leis que restringiam a
liberdade das mulheres para atuarem fora dos muros conventuais.” (SALISBURY, 1995;
RESENDE, 1999).
A religiosidade e a fé acompanharam o desbravamento do território brasileiro desde a época do período colonial. Vale ressaltar que durante esse período, a religião católica era oficial em todo o território.
O trabalho junto aos desvalidos foi uma das várias formas de atuação praticada pela Igreja e seus membros.
“Diversas ordens religiosas femininas foram criadas para prestar assistência aos necessitados. Na primeira era cristã, até o ano 500, uma das primeiras ordens de mulheres que trabalhavam junto aos desvalidos foram as diaconisas e as viúvas, mais tarde integraram-se as presbiterianas, as canônicas e as irmãs de caridade (DONAHUE,
1993).”
Há vários termos para identificar a vida religiosa e diferenciar as funções de cada religioso e religiosa. Para a vida religiosa feminina há três nomes: freira, irmã e madre.
Freira é o feminino de frei, que vem do latim frater, que significa “irmão”, portanto freira é o mesmo que irmã. Podemos usar um ou outro para a mesma mulher “consagrada”.
A freira ou irmã pertence a uma congregação ou ordem religiosa e professa os votos de castidade, pobreza e obediência. Vivendo vida fraterna em comunidade, dedica-se a oração e ao serviço aos irmãos, de acordo com o carisma e a missão de sua congregação ou instituto religioso.
Madre”, do latim mater, em português significa “mãe”. Madre é o título dado à irmã religiosa coordenadora de uma comunidade de irmãs ou de uma ordem ou congregação religiosa. Sua missão é cuidar de suas irmãs, principalmente para manter a fidelidade ao carisma e missão da congregação.
Antes de uma jovem se tornar freira (ou irmã) em uma comunidade religiosa, é preciso que ela tenha claro o chamado de Deus para essa vocação. São Paulo diz que “os dons e os chamados de Deus (vocação) são irrevogáveis” (Rom 11,29).
Aqui em Votuporanga as irmãs do Instituto Missionário Irmãos e Irmãs Sagracianas é atualmente formado por 6 freiras e trabalham em vários apostolados:
O jornal Diário de Votuporanga conversou com a irmã Eliane Tofaneli que pode contar um pouco sobre a vida de uma freira, acompanhe:
Votos perpétuo: Madre Dulcinéia Ap. Orlandeli

DV: Como é a vida de uma freira?

“A vida de uma religiosa consagrada é regrada. É fundamental à disciplina, pois é ligada a um carisma, a uma espiritualidade e missão. Tem como pilares centrais que chamamos de votos evangélicos: pobreza, castidade e obediência.  Seguir a Cristo é caracterizar-se com Ele, em sua pessoa pobre, casta e obediente. Obediente até a morte de cruz. A vida de uma religiosa consagrada é um retirar-se do mundo, é responder a um chamado de Deus, onde muitos não entendem, mas somente aquele que é chamado sabe a razão pela qual quer lutar. A vida religiosa consagrada é um ritmo intenso de oração, trabalho e vida fraterna. Seu cerne é a vida fraterna, pois é nela que compreendemos, ajudamos e amamos o irmão, conheceremos ele e participaremos de suas fragilidades e vitórias. A vida religiosa consagrada é acordar em oração, oferecer seu dia, consagrar sua vida. Exige ações de tarefas diárias para ofertar pequenos e grandes trabalhos, ” tudo deves ofertar e a tudo tens o dever de amar.” pontua.
DV: Quais são os requisitos necessários para se tornar uma freira?
“Os requisitos são os mesmos de Cristo quando nos convoca: Se alguém quer vir após mim, renuncie a si mesmo, tome sua cruz e siga-me.” (Mt 16,24). Deve haver um chamado, disponibilidade para esse mesmo chamado, ter a coragem, a entrega é deixar tudo. Amar a oração,  ter a percepção que o mundo não lhe basta, ter o desejo constante da caridade. Estar disposto (a) a enfrentar todo tipo de privação, humilhação por amor aos irmãos e ao Cristo que por nós morreu.”
DV: Quais são os votos mais comuns professados por uma freira?
“Compromissos ou votos evangélicos: pobreza, castidade e obediência. A pobreza é não ter bens nenhum, é colocar tudo em comum, pois vive -se em comunidade. É ser pobre e não miserável, é ter o necessário e não o supérfluo para viver. Castidade: é buscar a todo instante a pureza de mente, corpo e ações. É transcender tudo, é voltar todo seu desejo aos desejos de Deus. Sem obediência não se cumpre ou se vive o que Deus deseja a nós, a obediência a nossos fundadores ou superiores é fundamental pois, estes para nós representa a boca de Deus. Deus que nos orienta, nos aconselha, nos forma, nos molda e nos envia.”
DV: Ao todo em quantas freiras vocês são aqui no município?
“Como somos um Instituto novo estamos em duas irmãs de votos perpétuos, um juniorista, um postular em formação e dois aspirantes em formação externa.”
DV: Assim como algumas ordens de padres, vocês fazem voto de pobreza?
“Sim. Como religiosas consagradas, pertencentes a um instituto de carácter religioso, também escolhemos viver o voto de pobreza, ter somente o necessário para viver.”
DV: Quais as maiores dificuldades enfrentadas na pandemia nos trabalhos em prol da caridade? Quem quiser colaborar com doações como proceder?
“A dificuldade maior foi a de “ficar em casa” (risos), afinal foi difícil para toda a nação. Essa pandemia reprimiu famílias em todos os sentidos humanos, como não falar de dificuldades?  Passamos por ela também, no sentido de não estar onde deveríamos estar: aconselhando, ouvindo, controlando, levando um sorriso, uma prece, tendo uma conversa, partilhando em uma mesa de café, um almoço, uma janta. Formando liderança, catequisando, palestrando, redirecionando casais, preparando encontros formativos, encontros de jovens, de discernimento vocacionais, visitando asilos sendo os filhos e filhas dos abandonados pelos mesmos. Foram tantas privações! Graças ao bom Deus não nos faltou o alimento e nenhuma conta deixamos de pagar porque temos o povo que acredita no trabalho frutífero do religioso e a gratidão desses é estar sempre auxiliando-nos em nossas necessidades nesta pandemia. A vida religiosa consagrada também precisa executar trabalhos para sua sustentabilidade e manter-se no seu necessário, nós irmãs Sagracianas começamos pintar imagens religiosas, confeccionar terços, trabalhos artesanais, para futuras vendas on-line e também entramos em parceria na venda de pães, beliscão, roscas onde o Danilo Camargo nos conheceu. Fazemos brigadeiros artesanais, vendemos on-line e também nas ruas, com todas as precauções e nisso tudo Deus nos deu algo mais, a possibilidade de ouvir as pessoas, rezar por elas. Muitas vezes choramos com elas ouvindo a dor da perda de seus entes queridos que faleceram, tantas histórias dolorosas, tantos risos em meio a choros, assim foi e está sendo essa pandemia, estamos com o povo e nosso trabalho; diferente, mas o que não está diferente agora? Você nos perguntou como podem colaborar? Ajude-nos no que podem, temos nossas delícias caseiras, encontrem-nos nas ruas e comprem, experimentem torne-se um auxiliador (a) Sagraciano (a). “Consagre ao Senhor tudo o que você faz, e os seus planos serão bem-sucedidos.” (Provérbios 16,3)
DV: Abrimos espaço para que deixem aqui uma mensagem de fé e esperança para este momento difícil de pandemia onde as pessoas necessitam tanto de uma “palavra”:
“Podemos dizer com clareza que a palavra chave para esse momento pandêmico é esperar. A espera leva-nos a buscar vários motivos para ter novas expectativas, tentar novamente, retomar, reestruturar, com a espera Deus nos dá o poder de usar nossas virtudes mais escondidas que não imaginávamos, nós recriamos situações, temos o dom de adaptarmos a tudo. O ser humano é fantástico, portanto é a maior realização de Deus. Esse mesmo Deus espera em nós, e a palavra espera tem uma força sublime pois ela carrega a esperança. Andando por essas ruas de Votuporanga podemos ver, perceber no rosto de nossos irmãos, a dor, o desespero, uma agonia atônica, com certeza vimos o Cristo desfigurado, flagelado por uma pandemia atroz. E veio essa pergunta a nós: O que esperar?  Posso dizer à todos meus irmãos, podemos esperar muito mais ações de amor demonstradas ao longo desses dois anos de pandemia, pessoas se solidarizando, fazendo refeições, fastfood e entregando lanches para famílias sem alimentos, pessoas fazendo vaquinha para ajudar outras famílias a pagar contas, comprar cestas básicas, famílias enlutas recebendo orações nos portões de suas casas, vítimas do Covid recebendo orações nos muros de hospitais, famílias acolhendo outras famílias com partilhas de roupas, alimentos e empréstimos porque o provedor da casa perdeu seu trabalho e tantas outras ações de solidariedade, tantas outras feitas no anonimato. Esses são os efeitos da palavra caridade ao qual chamamos de amor. Sim irmãos, vimos inúmeras cenas de horror, mas também inúmeras de amor. Esperar, esperar que você e eu tomemos uma atitude certa com tudo isso. Esperar sim! Esperar que depois de tanto horror vivido ressuscitemos, pois temos um Deus que espera em nós e nós também esperamos Nele, pois Ele não falha no amor, pois também diante da dor e do horror Ele também deu para todos nós sua resposta de amor. Esperemos irmãos a paz de Cristo ressuscitado entre nós. Nossas orações ternas por todos. Deus os abençoe sempre!”
(Madre Dulcinéia Ap. Orlandeli- Madre fundadora geral)
As freiras escolhem uma vida dedicada a fazer o bem para as outras pessoas, rezam por aqueles que precisam, dão uma palavra de apoio para os necessitados e estão sempre prontas para cumprir a sua missão de boa vontade com os demais. Como uma escolha tão bonita de vida nada mais justo do que homenagear as freiras com uma mensagem especial de fé e esperança dedicadas a todas elas.
“Não tenho ouro nem prata, mas trago o que de mais precioso me foi dado: Jesus Cristo!”
(Papa Francisco)
Votos perpétuo da Irmã Eliane Tofaneli
Acolhida da posse de Dom Moacir na diocese de Votuporanga
Por Andrea Anciaes