Gordura no fígado: causas e prevenção da doença silenciosa que afeta 30% dos brasileiros

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Esteatose hepática: má alimentação pode contribuir para acúmulo de gordura no fígado - Foto: Janice Lin/Unsplash

A esteatose hepática atinge quase um terço da população do Brasil. Médica explica que hábitos não saudáveis são determinantes para o surgimento da doença.


De acordo com pesquisa divulgada pelo Instituto Brasileiro do Fígado em novembro de 2021, a população brasileira apresenta uma grande incidência de gordura no fígado: cerca de 30% dos habitantes do país sofrem com a doença. Mas o que é, afinal, a esteatose hepática e qual é a melhor forma de se prevenir?

A hepatologista Mirella Medeiros explica que a esteatose é o acúmulo de gordura no fígado, o que causa uma inflamação no órgão. Da mesma forma que as células de gordura podem se alojar no coração ou no tecido adiposo, elas também podem chegar ao sistema hepático. A diferença, no entanto, é que esta é uma doença silenciosa.

“O paciente com esteatose hepática não apresenta nenhum sintoma, diferentemente do que acontece com outras doenças. Não tem queixa de dor de cabeça, dores abdominais, vômitos. É completamente assintomática”, esclarece a médica.

O diagnóstico ocorre, muitas vezes, de forma incidental, quando o paciente realiza exames investigando outra condição ou durante check-ups de rotina. Nesse caso, é necessário realizar exames específicos para estabelecer em qual grau a esteatose está presente no organismo, através de ultrassonografias e hepatogramas.

Como prevenir a gordura no fígado?

De acordo com Mirella, a maioria dos casos é proveniente de má alimentação, sedentarismo e excesso do consumo de bebidas alcoólicas. Algumas comidas especialmente gordurosas, como as industrializados e os refrigerantes, causam o aumento da adiposidade no sistema hepático, mas não são se limitam ao órgão. A gordura pode se acumular também em outras partes do corpo, e geralmente vem acompanhada de aumento nas taxas de colesterol, glicose e triglicerídeos no sangue.

“O que se tem comprovação científica para a prevenção e a melhora é exercício físico pelo menos cinco vezes por semana, além de evitar o consumo exagerado de bebidas alcoólicas e tomar cuidado com a alimentação. A orientação é mesclar os exercícios aeróbicos com musculação, mas o importante é a regularidade das atividades na rotina. Se o diagnóstico for de um grau leve, é possível reverter o quadro”, esclarece a hepatologista.

O que fazer depois do diagnóstico?

Nos casos mais leves, as mudanças nos hábitos de vida são o tratamento indicado para quem tem gordura no fígado. Em casos mais graves, quando a inflamação demora vários anos para ser descoberta, a doença pode evoluir para uma cirrose hepática e, em situações raras, para um câncer no fígado. Isso acontece porque a inflamação gera uma fibrose, uma espécie de cicatriz no órgão, o que começa a comprometer as funções hepáticas.

“É preciso acompanhar de perto com um médico, para ver se a doença está evoluindo rápido. Também precisamos verificar se há o aparecimento de algum nódulo no fígado, o que pode ser uma suspeita para câncer”, explica Mirella.

Os pacientes que apresentam esteatose hepática devem fazer acompanhamento com um especialista em uma frequência recomendada de 6 a 12 meses. Com novos exames de imagem e análises das enzimas hepáticas, é possível monitorar o avanço ou a regressão da doença, e a partir daí continuar com o tratamento adequado.

Quais são as restrições alimentares?

A hepatologista explica que, embora seja importante implementar uma dieta saudável, não há necessidade de cortar completamente certos tipos de alimentos para aqueles pacientes que apresentam grau leve de esteatose.

“Não dá para se alimentar de pizza todos os dias, mas o paciente não é proibido de ingerir gorduras e nem precisa parar de consumir bebidas alcoólicas. Tudo deve ser feito com moderação”, finaliza.

*Com informações do OGlobo