GASTRONOMIA – A fuga do Juvenal II – o sequestro da prole

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Juarez Duarte Paes Jr.

Dez anos se passaram e o Juvenal deixou há muito de ser um leitãozinho rosado e fofinho, agora adulto, se tornou um porco grande e forte, casou com Florisbela, uma ex- leitoazinha também linda, fofinha e rosada, que agora é a mãe da prole que formaram.

Belinha, a primogênita, uma “aborrecente” típica, a “rebelde sem causa”, querendo colocar as “asinhas”, ou melhor, o “focinho” de fora, a irmã mais velha que quer cuidar e mandar nos irmãos Otacílio de 3, Nhonc de 2 e Melody de apenas 1 aninho, mas, do seu jeito mandona acaba não conseguindo muito dos menores, que são verdadeiras espoletas.

Clovinho, agora com 18 anos, Clarinha com 15 e Francisco, já adulto e casado com 26, continuam morando com os pais, todos trabalhando no velho sítio que teve sua área ampliada com o passar dos anos em consequência do aumento da produção agrícola e de produtos oriundos daquela abençoada terra, que são comercializados e distribuídos em estabelecimentos como supermercados, mercadinhos, sacolões, quitandas, armazéns e restaurantes, já tendo atingido o status de fazenda, já que possui mais de 7 alqueires totalmente produtivos.

Dali saem produtos derivados do milho como o curau, a pamonha, farinha, broas, bolos, biscoitos, grãos assados com mel e mostarda e caramelizados, polenta pronta para fritar, tortilhas e a novidade no mercado: Carppaccio de polenta.

Da horta orgânica todo o tipo de verdura: alface americana, crespa, lisa, roxa, além de almeirão, rúcula, couve, bertália, espinafre, endívia, hortelã, cebolinha, salsinha, manjericão, salsão, manjerona, alho poró, sálvia, orégano, entre outros.

Dos rebanhos as carnes nobres como cordeiro, lombo e pernil suínos, picanha, mignon, noix (ancho), cortes de frango, de pato e avestruz, além de derivados como hambúrguer artesanal, stakes, almôndegas, além da manteiga especial, nata fresca, queijo minas frescal, moçarela, queijo prato, ricota, coalhada, iogurte e leite homogeneizado e pasteurizado.

Uma família empenhada e focada na empresa que se tornou, capitaneada por seu Gumercindo e dona Jucelina, se tornaram uma potência calçada em valores e princípios de união, honestidade, respeito, trabalho e muito amor.

Depois do susto passado há dez anos, Juvenal se firmou definitivamente como membro da família, criado praticamente dentro de casa se tornou um animal especial, carinhoso e nitidamente grato e assim permaneceu, mesmo após a união com Florisbela e a chegada dos filhotes.

No final da tarde de uma sexta-feira Juvenal entrou na cozinha, onde dona Jucelina preparava o jantar, aos roncos e gritos para chamar a atenção, ao que Jucelina indagou do apavorado suíno: -Qué qui foi Juvenar, sentô no brazero, ispetô a pata no inspinho?

Mas, Juvenal em atitude que mais parecia a de um cão, corria para porta e voltava para dentro como se solicitasse que o seguisse, ao que Jucelina percebeu e atendeu seguindo o tenso animal.

Ao chegar a “residência” do Juvenal (onde passava com a família a maior parte do dia), percebeu que nenhum dos filhos se encontrava, tudo estava revirado e Florisbela emitia um som triste, misturado com preocupação e perplexidade. Peraí Juvenar que vou chamá a turma!

Em pouco tempo ali estavam todos Gumercindo, Francisco, Clovinho e Clarinha, que não perderam tempo e se espalharam pela propriedade a procurar os filhotes, exceto Clovinho, que foi cutucado por Juvenal que pedia para que o seguisse. O que assim fez o rapaz que seguiu o suíno para além das terras e enveredou pela mata, por onde caminharam por toda a madrugada.

Até que chegaram a uma clareira, na qual dava para se avistar uma caminhonete com um baú de grade repleta de porcos jovens e leitõezinhos, que furtaram por toda a região com o intuito de comercializá-los a preço baixo.

Mal havia acabado de amanhecer, os ladrões ainda dormiam e logo Clovinho pensou num plano: primeiro entrou em contato pelo celular com Francisco dando sua localização e pedindo que este avisasse a polícia, ao que Francisco atendeu, mas, recomendou que esperasse pela chegada das autoridades e nada tentasse, sob o risco dos elementos se encontrarem armados.

Juvenal ansioso se mantinha inquieto, pois, identificava o choro dos seus menores e  que apesar dos apelos de Clovinho insistia em querer partir para o resgate, no entanto, com muito custo, o rapaz conteve o ímpeto do pai que precisava salvar sua prole.

Até que um dos homens acordou incomodado com o forte som emitido pelos sequestrados disparou sua espingarda, dando um tiro para o alto, berrando: -fiquem quietos ou vou começar a abater os chorões! E lá de dentro do baú-prisão, acostumada ao contato humano, Belinha resolveu que era a hora de tomar uma atitude e começou a forçar a grade presa por um cadeado, no que foi seguida pelos mais fortes do grupo, causando um reboliço entre os sequestradores, que pediam ao único armado para disparar contra os filhotes.

Ao perceber o movimento de ataque Juvenal disparou em direção ao atirador, que já apontava o rifle para a portinhola, onde Belinha seria a primeira a ser atingida, e, numa disparada louca atingiu em cheio o “pigsniper”, lançando-o contra uma árvore, deixando-o desacordado, e em ato contínuo, cego e furioso investiu contra os outros dois bandidos, que perderam os sentidos com o forte impacto da cabeça daquele porco pai enfurecido.

Aproveitando o momento Clovinho imobilizou os meliantes e tentou acalmar os porquinhos até que os policiais chegassem, evitando assim que se dispersassem com a abertura da portinhola do baú.

Passado o maior susto de suas vidas, a família Juvenal voltou a sua velha rotina, porém, com uma dose extra de atenção a sua prole!

 

JUVENAL FURIOSO:

 

 

Você vai precisar de: 1,5 kg de paleta suína desossado em cubos; -suco de dois limões; -100 ml de vinho tinto; -1 colher de cafezinho de noz-moscada; -1 colher de cafezinho de páprica picante; -1 colher de cafezinho de gengibre em pó; -6 dentes de alho amassados; -2 cebolas grandes cortadas em quatro partes; -2 pimentas de cheiro picadas grosseiramente; -1 xícara de cebolinha picadinha; -2 tomates em cubinhos sem semente; -2 colheres de sopa de manteiga animal; -sal e p. calabresa.

 

Preparo: Tempere a paleta com o suco de limão, o vinho, a noz-moscada, a páprica, o gengibre, sal, pimenta calabresa, metade do alho, tampe, leve para a geladeira e deixe lá por 2 horas. Numa panela de pressão, aqueça a manteiga doure o alho, junte a cebola, o tomate e a pimenta de cheiro, refogue, junte a carne temperada, refogue, acrescente 200 ml de água, deixe ferver, feche a panela e deixe na pressão por 20 minutos, tire a pressão, destampe a panela e leve de volta ao fogo baixo para reduzir e apurar por mais 15 minutos. Sirva com arroz branco ou com uma massa al dente.