Filme votuporanguense é indicado em quatro categorias no FICC

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Bastidores da gravação do longa-metragem ‘Fôlego’. (foto arquivo pessoal)

Produzido pela Cine Haven e Produtora Lemos por meio da Lei Paulo Gustavo, o longa ‘Fôlego’ chega ao Festival Internacional de Cinema Cristão com indicações que enfatizam a força do audiovisual feito longe dos grandes centros

‘Fôlego’, longa produzido em Votuporanga, foi indicado ao FICC nas categorias Melhor Direção, Melhor Audiodescrição e Libras, Melhor Atriz e Melhor Produção.

 

 

@caroline_leidiane

Há projetos que nascem no interior, mas carregam uma vocação natural para atravessar distâncias. “Fôlego”, longa-metragem realizado em Votuporanga com audiodescrição e Libras, é um deles. Após sua estreia no ano passado, o filme chega hoje (15) à 9ª edição do FICC (Festival Internacional de Cinema Cristão), em São Paulo, com quatro indicações que ampliam a sua travessia.

As nomeações de Melhor Direção (Rogerio Lemos), Melhor Audiodescrição e Libras (Fabiana Saraiva), Melhor Atriz (Carolina Cardinale) e Melhor Produção (Dayane Lemos) evidenciam não apenas o alcance do projeto, mas também a potência da produção independente quando encontra apoio, pertinência temática e mãos experientes.

Com 1h22 min de duração, o filme narra a trajetória de uma mulher que, vivendo em uma chácara e submetida a agressões do marido, decide denunciá-lo e enfrentar a reconstrução da própria vida. Entre o primeiro emprego, o aluguel e a solidão emocional após anos de convivência abusiva, ela precisa inventar novas formas de existir fora daquilo que um dia julgou proteção.

Construída pelo trio Rogério, Ronaldo e Dayane Lemos, a narrativa reflete a urgência de temas que atravessam o cotidiano de milhares de mulheres brasileiras e que, ao ganharem as telas, reafirmam o compromisso social do cinema.

Produzir “Fôlego” em Votuporanga foi, para a equipe, uma experiência que ultrapassou o simples fazer cinematográfico. A Lei Paulo Gustavo, segundo os realizadores, foi decisiva para que a cidade recebesse um longa de produção local.

“A Lei de incentivo é essencial para produtoras independentes a fazer cinema. Somos gratos à Secretaria de Cultura e Turismo de Votuporanga por realizar um edital, e agora a cidade pode colher os frutos. A ideia surgiu da provocação da Dayane Lemos para os irmãos Ronaldo e Rogerio: ‘vocês fazem cinema no Brasil inteiro, por que não fazer cinema na cidade em que crescemos?’ E o tema, queríamos que fosse relevante para a sociedade.” explicam.

A indicação ao FICC simboliza, para a equipe, a confirmação de que o cinema do interior dialoga com o país e conquista novos públicos.

“Nós, como produtores de cinema, ficamos felizes pelo reconhecimento do trabalho de todos os atores e da equipe técnica. Muitas pessoas acham que, por Votuporanga ser no interior, não há cinema, e queremos mostrar que cinema em Votuporanga existe e está alcançando novos ares”, afirmam.

Entre as nomeações, a categoria de Melhor Produção destaca o trabalho de Dayane Lemos, que conduziu um processo desafiador.

“Produzir em Votuporanga foi diferente do que é a nossa cidade. Muitas pessoas, no começo, ficaram desconfiadas, mas, com o passar do tempo, notaram o profissionalismo da equipe. E ver atores de Votuporanga tendo oportunidade de atuar é sempre muito bom”, diz ela.

Na disputa por Melhor Direção, Rogerio Lemos ressalta o entrosamento entre equipe e elenco.

“Eu, Rogerio, enxergo como um complemento ao trabalho desenvolvido. Foi muito bom dirigir essa equipe. Carolina Cardinale é uma excelente atriz e se entregou ao papel. A nossa intérprete Fabiana Saraiva, além de ser CODA (filha de pais surdos), entende a comunidade surda como poucas pessoas, tem uma sensibilidade e fez um excelente trabalho”, observa.

Com a exibição marcada dentro de uma programação que inclui première, mostra artística, performances e cerimônia de premiação, o longa-metragem chega a São Paulo carregando expectativas, sobretudo pela potência do tema.

“Fôlego é um tema de extrema importância, e todos que assistem entendem uma situação que, infelizmente, várias mulheres passam. Levar o filme a São Paulo só demonstra como o tema deve, sim, ser trabalhado. E é mais atual do que gostaríamos.” comenta a equipe.

A presença de “Fôlego” no festival também aponta para os próximos movimentos da produtora.

“Impactam o desejo de construir cinema. Votuporanga fica a 540 km da capital, mas nós temos uma secretária de Cultura, Janaina Silva, que abraçou o audiovisual. De dois anos para cá, foram produzidas mais de 15 obras de ficção, entre curtas, médias, longas e documentários. Queremos que Votuporanga seja reconhecida pelo Estado de São Paulo como uma cidade que pode participar do ‘São Paulo Film Commission’, um polo de cinema onde outras produtoras possam vir produzir cinema no município, valorizando os artistas locais, a equipe técnica e os atores”, projetam.

Entre locações que vão de clínicas veterinárias a parques, passando pelo plenário da Câmara Municipal e estradas vicinais, o filme se moldou à paisagem votuporanguense, incorporando a cidade como perpasse narrativo.

“Fôlego” confirma que a produção cinematográfica independente feita longe dos grandes centros pode alcançar excelência, mobilizar profissionais, abrir caminhos e, em contrapartida, reverberar histórias pertinentes a novos olhares e interpretações.