Federação Paulista de Futebol reage ao governo e diz que proibição “foge de qualquer conceito médico e científico”

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A pausa vai, inicialmente, de 15 a 30 de março, e integra uma série de ações para conter a propagação do novo coronavírus.


A Federação Paulista de Futebol (FPF) reagiu nesta terça-feira (16), com palavras duras à manutenção da paralisação de duas semanas no Campeonato Paulista, anunciada pelo governo estadual na semana passada e mantida após reuniões nesta segunda. A pausa vai, inicialmente, de 15 a 30 de março, e integra uma série de ações para conter a propagação do novo coronavírus. 

Em nota, a Federação Paulista explicitou os argumentos que usou para tentar derrubar a decisão, questionou os critérios do governo estadual e afirmou que os argumentos para manter a paralisação “fogem de qualquer conceito médico e científico”. 

Nesta terça-feira, a Federação vai se reunir com os clubes para debater o que fazer com os jogos previstos para o período da paralisação. Uma possibilidade é passá-los para outros Estados – Minas Gerais, porém, já avisou que não vai aceitar. 

Veja, na íntegra, a nota da Federação Paulista: 

“A Federação Paulista de Futebol comunica que se reuniu nesta segunda-feira (15) pela manhã com o Governo do Estado de São Paulo e, à noite, com o Ministério Público Estadual para tratar da paralisação do esporte na Fase Emergencial. 

Nos dois encontros, a FPF apresentou um estudo e uma proposta baseada em critérios médicos e científicos, que embasavam o pedido de liberação parcial do futebol neste período, com menos jogos, menos pessoas envolvidas, testes antes e depois de cada partida e uma “bolha de segurança” para atletas e comissões técnicas. Para conhecimento público, abaixo listamos os argumentos:

1- Assim como os restaurantes, que estão impedidos de receber clientes em seus salões e têm funcionado com sistema de delivery, o futebol segue sem público nos estádios, entregando ao torcedor, na sua casa, os jogos por meio de transmissões. No entanto, o futebol é a atividade econômica que possui um rigoroso e inédito protocolo de saúde, com testagens semanais de seus colaboradores e acompanhamento médico diário. Com a paralisação, mais de 3.000 atletas, membros de comissões técnicas e funcionários das agremiações param de ter esse controle médico; 

2- O rígido controle faz com que o futebol tenha uma taxa de positividade de 2,2% —15 vezes inferior à taxa do Estado de São Paulo e menor do que a metade do que o número recomendado pela OMS para controle da pandemia (5%). E, como a grande maioria dos atletas que contraíram COVID-19 são assintomáticos, esta testagem ativa permite identificar e isolar imediatamente o profissional, evitando a contaminação de mais pessoas; 

3- Na apresentação de quinta-feira (11/3), em que anunciou a Fase Emergencial, o Governo do Estado de São Paulo utilizou um slide em que citou como exemplo países que adotaram medidas restritivas. Em nenhum dos países listados pelo Governo, o futebol foi paralisado na segunda onda de COVID-19, o que demonstra que não há qualquer referência científica internacional que embase a decisão de paralisação do futebol para combate à doença; 

4- A partir do anúncio da paralisação do futebol, a FPF estudou alternativas e elaborou, com base em dados científicos, um protocolo ainda mais rigoroso para proteger atletas, comissões técnicas, árbitros e os profissionais do futebol. O documento prevê a redução de 56% da quantidade de partidas disputadas no período da Fase Emergencial, com a suspensão temporária da Série A3 e parcial da Série A2 do Campeonato Paulista —a Série A1 teria seus 24 jogos realizados. Para assegurar ainda maior segurança aos profissionais, o novo protocolo criava novamente o conceito de “Bolha de Segurança”, com todas as delegações testadas e isoladas em hotéis ou centros de treinamento até o fim deste período. Sem qualquer contato externo, os clubes se deslocariam apenas para os estádios (totalmente desinfetados) e retornariam para seus alojamentos, com testagens antes e depois das partidas. Além disso, o número de profissionais de operação de jogo nos estádios seria reduzido em 70%, com um esforço coletivo de comunicação para conscientizar torcedores da necessidade do isolamento social. 

A FPF esclarece que, embora todas as medidas tenham sido bem recebidas pelo Governo de São Paulo e pelo Ministério Público, o pleito foi rejeitado sob argumentos que fogem de qualquer conceito médico e científico já visto mundialmente no combate à COVID-19. Nesta tarde (16), a FPF e os clubes das Séries A1, A2 e A3 se reunirão novamente para discutir as medidas que serão tomadas, garantindo a conclusão das competições em suas datas programadas.” 

Também em nota, o Ministério Público Estadual explicou por que referendou a paralisação do campeonato. 

“Em reunião realizada nesta segunda-feira (15/3) entre representantes da Federação Paulista de Futebol e membros do gabinete de crise da covid-19 do MPSP, a instituição reiterou que os altos índices de ocupação dos leitos de UTI em todo o Estado e a maior transmissibilidade das novas variantes do coronavírus exigem, para o enfrentamento da pandemia, a menor circulação de pessoas possível. Assim, o MPSP, orientado pelos médicos que integram o gabinete de crise, mantém a sua recomendação, acatada pelo governo estadual, no sentido de suspender os jogos de futebol e as atividades religiosas de caráter coletivo.”