Família buscou ritual para curar gripe de menina que morreu queimada, diz advogado 

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Menina teria morrido em ritual, diz Polícia Civil de Minas Gerais - Foto: Reprodução/Redes Sociais

Mãe, tia e avós da criança foram presos temporariamente na quarta-feira passada em Frutal/MG.


Uma gripe persistente foi o que levou uma família de Frutal/MG, a buscar o auxílio de um líder espiritual para curar Maria Fernanda Camargo, de 5 anos, que morreu após ter seu corpo quase totalmente queimado em um ritual, segundo o advogado José Rodrigo de Almeida. O episódio, que aconteceu no dia 24 de março, é investigado pela Polícia Civil mineira e levou à prisão temporária da mãe, tia e avós da criança na quarta-feira passada. O líder espiritual responsável pelo ritual também foi preso na operação, batizada de ‘Incorporação da Verdade’. 

De acordo com Almeida, que defende apenas os parentes de Maria Fernanda, a morte da criança foi um acidente, e a família não tinha intenção de machucar a menina. Segundo ele, a família estaria sendo vítima de preconceito religioso. 

— Ritual de invocação de espírito maligno, sacrifício humano, nada disso aconteceu. O que aconteceu foi o seguinte: em 2021, no ápice da pandemia, o tio e a tia da criança estavam intubados no hospital com Covid. Alguém na cidade falou que esse homem podia fazer um trabalho espiritual de cura. Eles realmente melhoraram depois e atribuíram a melhora ao trabalho. 

Assim, após Maria Fernanda ter desenvolvido uma gripe persistente, com episódios de febre, tosse e dor de garganta constantes, a família decidiu recorrer ao líder espiritual para curar a jovem. O ritual aconteceu na casa dos avós, simpatizantes da umbanda. 

Segundo a versão do advogado da família, o médium teria feito a benção combinada. Depois, a tia e a mãe de Maria Fernanda deixaram o aposento em que o ritual se realizava e, quando retornaram, o líder espiritual havia incorporado uma nova entidade. Ele, então, pediu uma bacia e um álcool com ervas usado em cerimônias de cura. 

— Quando ele passou o álcool na cabeça da menina, a mãe disse: álcool não — afirmou o advogado. 

O líquido inflamável teria sido espalhado pelos cabelos, ombros e mãos da menina. A proximidade com uma vela teria provocado o início do fogo, que rapidamente tomou conta do corpo de Maria Fernanda. A mãe teria se jogado sobre a filha para apagar as chamas e acabou com queimaduras de 1º e 2º grau quando sua calça jeans foi incendiada. Os avós extinguiram as chamas da criança com auxílio de um tapete. 

A primeira versão apresentada pela família era que a menina tinha se ferido em um acidente na churrasqueira da casa dos avós — o que, de acordo com Almeida, havia ocorrido com uma prima de Maria Fernanda anos atrás. A motivação para a mentira, segundo o advogado, era evitar o preconceito religioso. A família contou a verdade após o líder espiritual ter dado sua versão dos fatos. 

De acordo com o delegado Murilo Antonini, a participação dos familiares da vítima é investigada como um possível caso de homicídio com dolo eventual, que ocorre quando os agentes do crime assumem os riscos de cometê-lo através de suas ações: 

— O dolo eventual deles é no sentido de que tinham o dever de agir. Eles ficaram passivos vendo aquele espetáculo de horror — diz o delegado. 

Para o advogado, as ações da família mostram que eles agiram para proteger a menina. 

Já a participação do líder espiritual está sendo entendida pela Polícia Civil como um caso de homicídio doloso. No depoimento prestado nesta quarta-feira, o homem disse não se recordar dos momentos que antecederam a morte da menina. 

— É impossível um homem médio achar que o álcool em contato com uma vela acessa não vai sofrer combustão. A motivação dele não sabemos — afirmou ainda Antonini, antes de apontar que novos fatos podem alterar a linha de investigação da polícia. 

*Informações/oglobo