Expressão na pele

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Quadro assinado por Vino Moraes. Em entrevista, ele diz não ser um profundo conhecedor de arte, mas tenta criar segundo a sua linguagem em desenhos. (foto arquivo pessoal)

O tatuador e artista plástico Vino Moraes começou a tatuar aos 25 anos. Há dez anos na área, ele não tem um estilo de tatuagem definido, mas gosta de enxergar a pele como um quadro em branco, que aos poucos vai se assemelhando a uma obra de arte colorida em aquarela

 

O casal de tatuadores Vino Moraes e sua esposa, Nilwellen Andreu. Ambos dividem o mesmo estúdio em Votuporanga. (foto arquivo pessoal)

 

Obra de arte assinada por Vino Moraes, que afirma se sentir bem à vontade pintando em quadros por ser algo íntimo. (foto arquivo pessoal)

 

@leidiane_vicente

 

A arte de marcar o corpo por meio da tatuagem já data mais de mil anos, mas a técnica utilizada atualmente com aparelho elétrico é de 1891. Foi o americano Samuel O´Reilly quem desenvolveu a máquina, baseada na tecnologia rotativa da caneta de impressão autográfica do inventor e empresário Thomas Edison.

Após o feito, a tatuagem ganhou popularidade no Ocidente, principalmente entre os soldados, marinheiros e pilotos da Segunda Guerra Mundial. Já no Brasil, a tatuagem elétrica desembarcou em meados dos anos 1960, na cidade portuária de Santos.

De lá para cá, a visão cultural de injetar pigmento sob a pele variou entre divergentes opiniões, palco de preconceito e criminalização ou estética e personalidade.

Após a massificação da Internet, com o aumento de usuários nas redes sociais e a disseminação de informações sobre o tema, a tatuagem conquistou nova roupagem. Hoje, existem tatuadores e tatuados em diversas camadas das populações da Terra, sem distinções. As ilustrações estilizadas alternam-se entre símbolos, frases, desenhos artísticos ou ornamentais, tudo conforme preferência individual.

Há dez anos atuando como tatuador e artista plástico, o votuporanguense Vino Moraes tem seu próprio estúdio na cidade. Apesar disso, se desloca para diversas capitais do País imprimindo arte em paulistanos, mineiros, goianos e florianopolitanos. Neste ano, ele faz as malas para tatuar pela primeira vez na Europa.

A história dele com a tatuagem começou aos 19 anos, quando um amigo o levou até o tatuador Lincoln Marques de Lima, que realizava desenhos diferenciados. Após fazer a primeira tattoo, acabou se interessando pelo processo. A amizade com o profissional resultou, com o passar do tempo, em aprendizado e experiência.

“Antes de tatuar eu era técnico em manutenção de notebooks, cheguei até a dar aulas de manutenção em uma escola técnica. Fui iniciar os meus estudos de desenho para tatuar aos 25 anos, em 2014, mas foi só de 26 para 27 anos que consegui ter algum retorno financeiro”, relata Vino sobre o início da carreira que contou muito com o apoio da esposa, a também tatuadora Nilwellen Andreu.

A relação com as artes plásticas começou no período em que morou em São Paulo, onde seu amigo Lincoln havia se mudado há algum tempo e firmado carreira, unindo o estúdio de tatuagem ao ateliê de pintura.

“Com ele, tive a oportunidade de entender os processos, como esticar telas e fazer o preparo da lona para receber o pigmento. Sempre fui observador e lá não foi diferente. Ele também me cedia o material para estudar e me explicava algumas técnicas”, relembra o tatuador sobre a aurora da aventura nas artes.

De volta à Votuporanga, Vino juntamente com a esposa, idealizaram o estúdio que contou com o projeto do arquiteto e urbanista Walter Gonçalves Junior, irmão gêmeo do tatuador.

Foi neste local, entre tatuagens e obras de arte, que os quadros assinados por ele começaram a ganhar visibilidade.

“Nunca tive intenção de comercializar, mas um grande amigo Guilherme Melhado me convenceu a fazer quatro obras para o escritório dele. Isso foi muito importante, porque a partir desse momento começaram a aparecer pessoas interessadas em comprar”, menciona Vino sobre a relevância do incentivo para a divulgação do trabalho.

Embora seja um profissional consolidado, tanto na tatuagem quanto nas obras de arte, ele desabafa que viver disso no Brasil é complicado.

“A nossa vantagem é ter a liberdade de trabalhar onde e quando quiser e a desvantagem é a incerteza de qualquer um que decide ser autônomo”, confessa ele sobre as dificuldades de ser um artista independente.

Com estilo artístico envolvido pela faceta da aquarela, Vino começou a tatuar pelos caminhos das tatuagens orientais e considera que passou por todos os outros, contudo não denomina nenhum para chamar de seu.

“Hoje, eu não me preocupo muito em dar um nome para o meu estilo, acho que ele está sempre mudando”, destaca ele sobre a criatividade das tattoos que são sempre autorais.

O processo de desenvolvimento do desenho que será tatuado é totalmente em diálogo com o cliente, realizado através de alguma referência visual ou de uma metamorfose de pensamentos.

“Depois disso, eu crio uma arte para ele, faço uma ilustração em aquarela para representar a ideia. Sempre pensando no melhor encaixe para a região onde vai ser a tattoo. A ilustração fica como um presente para o cliente no final do processo”, explica Vino sobre a personalização do serviço.

A tatuagem ultrapassou as barreiras das idades, classes sociais e níveis intelectuais. Além disso, é uma aliada na cobertura de cicatrizes e na reconstrução da aréola de pessoas que fizeram procedimentos, como a realização da mastectomia. Essas técnicas por meio da pigmentação da pele são perspectivas que não estão, necessariamente, ligadas ao estilo de vida, mas no sentido de salvar a autoestima de alguém.

É significativo ressaltar que escolher tatuar o corpo deve ter como critério a responsabilidade.

“Procure um bom profissional, alguém que tenha respeito pela profissão e por você”, sugere o tatuador Vino Moraes.