Idealizadora do Haras Antônio Dal Bem, localizado em Votuporanga, a fisioterapeuta e equoterapeuta Adriana Dal Bem explica o que é a terapia assistida por cavalos e como esse método tem transformado vidas
@leidiane_vicente
O cavalo é um animal que tem acompanhado a evolução do ser humano há milhares de anos. Ao longo desse tempo, ele foi utilizado como meio de transporte de pessoas e de cargas e, também, como agente terapêutico.
Em seu “Livro das Dietas”, o filósofo Hipócrates (460-377 a.C.), cita a equitação como forma de “regenerar a saúde e preservar o corpo de muitas doenças”.
Mas foi somente em 1954, na Noruega, que a fisioterapeuta Eilset Bodtker experimentou, pela primeira vez, a equitação terapêutica para crianças com deficiência.
No Brasil, a equoterapia, começou a dar os primeiros passos em 1989, em atividades equestres realizadas na Granja do Torto, em Brasília, atual sede da Associação Nacional de Equoterapia (ANDE).
Reconhecida em 1997 pelo Conselho Federal de Medicina do Brasil como método terapêutico, a equoterapia utiliza o cavalo dentro de uma abordagem interdisciplinar, nas áreas de saúde, educação e equitação. Buscando, assim, o desenvolvimento biopsicossocial de pessoas com deficiência e/ou necessidades especiais.
Localizado em Votuporanga, o Haras Antônio Dal Bem Clínica de Equoterapia atende, há 20 anos, crianças e adultos. Com uma equipe formada por fisioterapeuta, psicóloga, auxiliar guia e professora de equitação, o local, atualmente, conta com sete cavalos das raças o SRD (sem raça definida) e quarto de milha.
A fisioterapeuta e equoterapeuta Adriana Dal Bem, juntamente com seus pais, são os idealizadores do projeto. Ela conta que a equoterapia é um agente provedor de ganhos físicos e psicológicos.
“A equoterapia é uma atividade que exige a participação do corpo inteiro, contribuindo para o desenvolvimento da força muscular, do relaxamento, da conscientização do próprio corpo, aperfeiçoamento da coordenação motora e do equilíbrio”, explica ela sobre como este método tem ajudado crianças em casos de síndrome de down, transtorno do espectro autista, paralisia cerebral e síndrome de west, por exemplo.
O tratamento é feito por meio de três fases de desenvolvimento. A primeira é a Hipnoterapia, quando a criança ainda não consegue ficar em cima do cavalo. A segunda, caracterizada pela semiautonomia, é onde o aprendiz já consegue ficar montado no cavalo, mas ainda não o conduz, é chamada de Reeducação Equestre. Já a terceira, a Pré-esportiva, o praticante consegue fazer equitação e está aprendendo a guiar o cavalo sozinho. Pode, também, existir uma quarta, na qual algumas atividades de percurso e tambor são realizadas, é considerada como a fase Paraequestre. Importante salientar que em todas as etapas do processo os profissionais especializados estão presentes para auxiliar, desde as primeiras marchas até o avanço.
O programa de equoterapia do haras atende, no momento, em média 34 crianças, sendo elas do serviço particular ou de apadrinhamento. Este é a parte filantrópica mantida pelo próprio local e por pessoas que contribuem em leilões e cavalgadas promovidos pela casa.
Segundo Adriana, a idade mínima para ingressar na equoterapia é, em média, aos dois anos. A pré-avaliação é feita por um médico para fornecimento do encaminhamento e, em seguida, continua com a equipe do haras.
A equoterapia não é indicada em algumas situações, que são: instabilidade atlantoaxial, luxação ou subluxação articular, asma e alergia a pelos, crises convulsivas sem controle, hérnia de disco, doença degenerativa, epilepsia sem controle, deformidade no quadril e escoliose acima de 30 graus, a chamada escoliose severa.
Adriana salienta que a evolução de um praticante de equoterapia faz parte do trabalho desenvolvido por uma equipe multidisciplinar dentro e fora do haras, como fisioterapia, sessões de terapia com psicólogo e terapeuta ocupacional, educador físico e o apoio da família.
“Somos todos uma equipe, onde cada um vai plantando uma sementinha, nos engajando para fazer com que a criança melhore a cada dia”, diz ela sobre episódios que a impressionou, como um menino e uma menina que, após três anos de acompanhamento, começaram a andar.
A sensibilidade de realizar este trabalho fez a fisioterapeuta refletir sobre como a equoterapia tem proporcionado qualidade de desenvolvimento para crianças com diversos tipos de deficiências, tanto emocional, com a estruturação da linguagem verbal e corporal quanto funções neurológicas e cognitivas.
“O cavalo é muito benéfico ao ser humano, tanto fisicamente quanto psicologicamente. Eles possuem um movimento tridimensional, que é através deles que as crianças melhoram. Nós, terapeutas, somos apenas um elo: entre o cavalo, a criança e Deus”, analisa ela enquanto equoterapeuta há 20 anos.