Equilíbrio Emocional: a chave para professores resilientes

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Alberto Martins Cesário, professor e escritor - Foto: Reprodução

Alberto Martins Cesário, professor e escritor

Ser professor, especialmente nos anos iniciais do ensino fundamental, é um dos desafios mais complexos e, ao mesmo tempo, gratificantes que alguém pode escolher. No entanto, é inegável que esse trabalho carrega uma carga de desgaste emocional, psicológico e até físico. Cada aula, cada encontro com os alunos, cada desafio diário, se soma a uma história de dedicação que, muitas vezes, é ignorada. E é justamente sobre isso que quero refletir neste texto. Hoje, não vamos falar apenas sobre os desafios da profissão, mas também sobre algo que, para muitos de nós, tem sido um aliado fundamental para que a chama da paixão pela educação continue acesa: o apoio psicológico.

O que poucas pessoas sabem é que, enquanto educadores, somos os primeiros a lidar com os próprios traumas, dificuldades e até com as angústias das crianças que recebemos todos os dias. As crianças podem ser fontes imensas de alegria e aprendizagem, mas elas também trazem consigo as marcas de uma sociedade que, muitas vezes, as deixa para trás. E o professor, que deveria ser apenas o mediador do conhecimento, acaba, muitas vezes, absorvendo as dores que não são suas. Eu mesmo já vivi essa situação. Por mais que você seja apaixonado pela profissão, a constante sobrecarga emocional pode levar a momentos de exaustão profunda. É difícil ver uma criança lutar contra a pobreza, a violência doméstica, o bullying, e não sentir que isso te afeta também. Como lidar com isso sem deixar que as emoções te paralisem?

É nesse ponto que o apoio psicológico entra em cena. Não falo apenas do apoio psicológico no sentido da necessidade de acompanhamento terapêutico individual, mas de uma rede de suporte dentro da escola que seja capaz de dar ao professor as ferramentas necessárias para lidar com essas situações. E antes que alguém diga que isso é um exagero ou um luxo, faço um alerta: quando a saúde mental do professor está em risco, o impacto é direto no processo de ensino-aprendizagem. Um professor angustiado, ansioso ou estressado não consegue dar o melhor de si. Acredite: o efeito é instantâneo. E os alunos sentem isso.

A rotina de um professor causa desgaste emocional constante. Quem não é da área, ou não tem um professor na família, dificilmente compreende o nível de desgaste emocional e psicológico que a profissão exige. Às vezes, o dia do professor começa antes das aulas, com preparações, estudos e planejamentos que, muitas vezes, não são valorizados. Ao entrar na sala de aula, a expectativa é de que o aluno aprenda, que a criança se desenvolva e que o ambiente escolar seja um espaço de crescimento. Mas a realidade é que o ambiente escolar é, na maioria das vezes, o reflexo das condições sociais da comunidade em que está inserido. E é nesse cenário que o professor precisa agir.

Você já parou para pensar no quanto o professor precisa estar emocionalmente forte para lidar com tudo isso? Tem que ser um “super-herói” o tempo inteiro. Lidar com um aluno que chega atrasado porque não teve o que comer, com aquele outro que sofre bullying por causa de sua aparência, com outro que se recusa a estudar porque a desestrutura familiar é tamanha que a escola não tem sequer espaço para ser um porto seguro, é uma tarefa árdua e, muitas vezes, solitária.

Isso sem contar com o lado burocrático da profissão: reuniões, relatórios, e mais uma infinidade de tarefas que acabam consumindo a energia de quem só quer dar aula e fazer a diferença na vida de seus alunos. Com tantas responsabilidades, quem cuida da saúde mental do professor? Quem garante que ele tenha o apoio necessário para se manter firme diante de tantos desafios?

Por isso é muito importante uma rede de apoio na escola.

Se há algo que torna o trabalho de educador ainda mais difícil é a falta de uma rede de apoio estruturada dentro da escola. Muitos professores se sentem sozinhos no processo. É claro que o apoio dos colegas de profissão é fundamental, mas é preciso ir além. Falo de um suporte mais robusto, com profissionais da saúde mental dentro da escola, como psicólogos e assistentes sociais, que possam acompanhar tanto os alunos quanto os professores. Isso é vital. O professor que encontra um espaço dentro da escola onde ele possa ser ouvido, desabafar, receber orientações sobre como lidar com situações estressantes, tem mais condições de enfrentar os desafios da profissão com mais equilíbrio emocional.

A função do psicólogo escolar vai muito além de apenas lidar com as questões das crianças. Ele também deve ser uma referência para os professores, ajudando-os a identificar sinais de sobrecarga emocional e a desenvolver mecanismos de resiliência e autocuidado. Não estamos falando apenas de uma profissão voltada para os alunos, mas para o equilíbrio de toda a comunidade escolar.

Um dos motivos mais agravantes emocionalmente falando é a desvalorização do professor e a pressão externa.

Isso é outro fator que agrava o estado emocional dos professores é a constante desvalorização da profissão. O trabalho de educador é visto, por muitos, como uma vocação, algo que “deve ser feito por amor”. Isso é algo profundamente tóxico. Claro que a paixão pelo ensino é fundamental, mas ninguém vive de amor e esperança. O reconhecimento da profissão, em termos financeiros e institucionais, é um ponto crucial para que os professores se sintam valorizados. Infelizmente, isso está longe de ser uma realidade. O salário não é digno, as condições de trabalho muitas vezes são precárias, e a sociedade, em muitos casos, não reconhece o esforço de quem está moldando as futuras gerações.

A pressão externa é um fator que agrava ainda mais a saúde mental dos professores. Todos os dias, somos bombardeados por notícias sobre a crise da educação, cortes de orçamento, reformas mal planejadas. A sensação de impotência é constante. Como cobrar dedicação dos alunos se as condições de ensino são tão adversas? Como ser um exemplo de resiliência se a estrutura que temos é cada vez mais frágil?

Para muitos pode parecer algo simples, mas o apoio psicológico é mais do que um alívio para as tensões do dia a dia. Ele tem o poder de transformar a realidade dos professores. Quando há um suporte constante, quando o educador sente que pode contar com profissionais capacitados para ajudá-lo a lidar com suas emoções e estresses, a qualidade de seu trabalho tende a melhorar consideravelmente.

Há uma grande diferença entre um professor que tem condições de buscar ajuda e um que se sente pressionado a engolir suas angústias em silêncio. O primeiro encontra estratégias para lidar com as adversidades e para manter sua paixão pela educação viva, enquanto o segundo corre o risco de sucumbir à exaustão emocional. E, na maioria das vezes, essa exaustão leva à desistência da profissão, o que é uma perda irreparável para a educação e para a sociedade.

Quando o professor encontra um ambiente escolar que se preocupa com sua saúde mental, ele também acaba se tornando um profissional mais capacitado para lidar com os alunos e para perceber quando eles também precisam de ajuda. A saúde mental do professor não é apenas um benefício para ele mesmo, mas para todos à sua volta. É uma corrente de cuidado e apoio que impacta toda a comunidade escolar.

Convido você a refletir, pois chegamos ao final de mais um texto, e é com um olhar esperançoso que faço um apelo a todos os educadores: não desistam. Mesmo quando tudo parece difícil, mesmo quando as forças se esgotam, lembrem-se de que a mudança começa dentro de nós. O apoio psicológico não é um luxo, é uma necessidade. Não é vergonha procurar ajuda, e sim uma atitude de coragem e autocompaixão.

Aos gestores e autoridades educacionais, fica o apelo: que olhem com mais carinho para o bem-estar dos professores. Não podemos mais ignorar que a saúde mental dos educadores é uma prioridade. Uma escola que valoriza o professor como ser humano, que oferece suporte psicológico adequado, é uma escola que investe diretamente na qualidade da educação.

A educação é uma jornada longa e difícil, mas é também uma jornada transformadora. E para que essa transformação aconteça, é preciso cuidar de quem está na linha de frente, todos os dias, moldando o futuro. Porque, no final das contas, o trabalho do professor é o que torna possível todos os outros sonhos.

Até o próximo texto.