Sem segurança privada, sucessivos furtos e arrombamentos desencadearam o fechamento da unidade que apresenta pontos de desabamentos e acúmulo de água, motivo de preocupação durante uma epidemia de dengue. Empresário do ramo de reciclagem automotiva que atua no espaço há oito anos, procurou a Justiça.
Jorge Honorio
jorgehonoriojornalista@gmail.com
O Ecotudo Sul, criado pela Saev Ambiental, autarquia da Prefeitura de Votuporanga/SP, pioneiro na coleta de resíduos domiciliares e exemplo nacional de cuidado com o meio ambiente na última década, atualmente está fechado para o grande público, recebendo em horários determinados os carregamentos de pneus descartados, inclusive, por municípios vizinhos.
O motivo do fechamento, conforme noticiado pelo Diário, no início de fevereiro, é o avanço deliberado de criminosos sobre o espaço, após o final do contrato com uma empresa de segurança que mantinha operações no local.
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Nesta quarta-feira (26.fev), a reportagem teve acesso ao local e, o espaço de arquitetura que remete aos primórdios do município, hoje é apenas uma sombra devastada e esquecida.
Apesar da grama roçada e uma aparente normalidade, do portão da unidade para dentro a realidade é diferente. Exatamente o que conta o empresário do setor de reciclagem automotiva, Adilson Donizete Gomes da Silva, que afirmou ter contrato com a administração há pelo menos oito anos e que de uma hora para outra foi ‘abandonado no local sem maiores explicações’.
“Eu estou por aqui, por meio de contrato de oferta pública, há oito anos pelo menos, e, isso nunca tinha acontecido. Eu trabalho reciclando peças automotivas, a gente separa esse material, prensa e depois vende, destinando corretamente cada tipo. É um ramo de atuação e aqui tenho equipamentos e o fruto do meu trabalho, mas está insustentável. Para você ter uma ideia, eu não posso trabalhar porque roubaram a fiação da minha prensa, que está lá parada por falta de energia”, explica em tom de desabafo.
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“Aqui já flagrei ladrão roubando aqui dentro, correu lá para fora e da rua ainda ficou discutindo comigo. Ele vem aqui roubar e o errado sou eu. A Polícia veio aí, mas não encontrou ele. Todo mundo sabe quem é, mas não adianta prender, ele sai da delegacia primeiro que eu. Tenho quatro boletins de ocorrência relatando os casos aqui. Sem o contrato de segurança por parte da gestão, eu estou pagando um agente do meu bolso e sou obrigado a pagar até o vencimento deste contrato que é no final de março”, emenda o empresário.
“Coloquei uma câmera de monitoramento no teto do galpão, pois foram lá e cortaram, roubaram o fio da câmera. Até o freezer que colocavam pequenos animais mortos para o descarte correto foi roubado. Isso daqui não está certo, é revoltante e inacreditável”, explica Adilson.
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“Até por isso, já contactei meu advogado e vamos acionar a Justiça. Precisa resolver isso daqui, precisa de uma atenção. Enquanto isso, estarei por aqui, cumprindo fielmente o contrato que acordamos, pagando segurança do meu bolso, fazendo as coisas da melhor maneira possível”, encerra.
Caminhando pelo local, as marcas da criminalidade são evidentes e desde a portaria, com vidros quebrados na porta. Fios pendurados denotam os alvos dos ladrões: cobre e outros metais de valor. Em um dos pontos, um transformador de energia no chão demonstra que ele foi derrubado, provavelmente por ladrões, que procuravam por metais valiosos.
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Em cada espaço uma porta vandalizada, arrombada, os acessos danificados pela frente deixam claro que visitantes não autorizados violaram o espaço à procura de algo de valor. Contudo, uma breve observada nas cercas do amplo local nos mostra os buracos utilizados pelos criminosos, em um deles que dá para a Avenida Hernani de Mattos Nabuco, foi criado uma espécie de ‘batente’ na tela, um portal, possivelmente para evitar machucados no arame, além do enrosco na travessia dos produtos furtados, como por exemplo, um aparelho de televisão abandonado na grama, próximo do buraco de acesso.
De volta a área construída, entre um prédio e outro, parte de um teto desabou, comprometendo as estruturas próximas. Sinais de abandono, vandalismo, escombros amontoados que nos remetem a um cenário comumente visto em guerras.
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Ao longe, atrás dos barracões, há um monte considerável de lixo de variados tipos, onde não é possível precisar inicialmente as condições ou riscos agregados.
Acúmulo de água e risco de dengue
Em meio a epidemia de dengue, onde Votuporanga ultrapassa 2,3 mil casos confirmado e uma morte, o local é abundante em possibilidades de focos para criação do mosquito Aedes aegypti. Lixos variados, como por exemplo, pedaços de mesas de plástico, partes de aparelhos de TV, garrafas de plástico e outros, descartados ao relento tem em seus vãos verdadeiras cubas para o armazenamento de água das chuvas, tão comuns para o período.
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Já em um dos galpões, onde ficam armazenados uma grande quantidade de pneus, o cenário é duplamente preocupante: o teto está desabando em duas extremidades e os buracos se tornaram entradas de água das chuvas que caem exatamente no espaço onde fica os pneus.
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Ecotudo: iniciativa premiada e reconhecida
O Ecotudo recebeu em 2010 a menção honrosa do Prêmio Cempre (Compromisso Empresarial para Reciclagem) entregue em São Paulo por representantes do instituto e do Ministério do Meio Ambiente. O projeto foi apresentado na Feira e Seminário Internacional do Meio Ambiente (Fimai), no encontro dos municípios com o Desenvolvimento Sustentável: Pequenos Negócios, Qualidade Ambiental Urbana e Erradicação da Miséria realizado em Brasília e na Conferência Rio+20.
A revista Com Ciência, produzida em São Paulo com foco em meio ambiente que é distribuída em todo o Brasil, fez uma reportagem sobre o Ecotudo afirmando que o projeto inova o conceito de ecopontos e mostra caminhos para um dos maiores problemas ambientais do passado. O projeto também já conquistou destaque em veículos locais, regionais e nacionais.
O que diz a Prefeitura de Votuporanga?
Procurada pela reportagem, a Prefeitura informou, por meio da Saev Ambiental, “que o Ecotudo Sul foi alvo de furto e danos ao Patrimônio Público, sendo furtados diversos itens, entre eles, cabos elétricos. Neste momento, a Autarquia trabalha para a retomada de 100% do atendimento. Atualmente o Ecotudo Sul recebe apenas pneus, com o horário de atendimento de segunda a sexta-feira, das 7h às 10h30 e das 13h às 16h30. Assim que os demais serviços retomarem suas atividades será enviado um comunicado para toda a comunidade.”
A Saev Ambiental ressaltou que, além do Ecotudo Sul, existem outras unidades operando todos os dias das 7h às 19h sendo:
- Ecotudo Norte, localizado na Av. Sete, 2440, paralela à Av. Jerônimo Figueira da Costa, no bairro Distrito Industrial I.
- Ecotudo Oeste, localizado no Alto da vicinal Nelson Bolotário (popularmente conhecida como Subida da Morte).
- Ecotudo Leste, localizado na Av. Nasser Marão, 4815, no bairro São Cosme.