Atacante seguiu vinculado ao Timão mesmo sem jogar.
Há exatos dois meses, em 9 de junho, Corinthians e Jô emitiram notas oficiais anunciando que, em comum acordo, o atacante estava de saída do clube. Porém, mesmo afastado do dia a dia alvinegro, o jogador seguiu com contrato ativo com o Timão.
A situação pode ter novidades nesta terça-feira: o clube protocolou no sistema da CBF um pré-registro com a rescisão do atleta e agora espera a formalização do término do vínculo – que depende de assinatura das partes. Mas por que demorou tanto?
Ao longo desses dois meses, dirigentes do Corinthians e representantes de Jô vinham mantendo conversas a fim de alinhar as condições para a rescisão contratual. O principal empecilho era uma dívida do clube com o atacante referente à primeira passagem dele pelo Timão.
O valor é mantido em sigilo. Quando voltou ao Corinthians, no meio de 2020, o atleta concordou em diluir o montante que tinha a receber ao longo dos três anos e meio de contrato. Agora, com a rescisão antecipada do vínculo, o acordo precisou ser repactuado, e a diretoria alvinegra conseguiu parcelar o pagamento.
Essa não foi a única pendência financeira do Corinthians relacionada a Jô. A diretoria alvinegra ainda tem que negociar com o Nagoya Grampus a quitação de 2,6 milhões de dólares (cerca de R$ 13,3 milhões na cotação atual) a título de indenização após condenação pela Fifa e pela Corte Arbitral do Esporte (CAS). Isso segue pendente, mas não influencia na rescisão.
Sem chance de recorrer a instâncias superiores, o Timão tenta ao menos alongar o pagamento para não comprometer seu fluxo de caixa e também evitar o “transfer ban” – punição imposta pela Fifa, na qual o clube fica impedido de registrar novos jogadores.
A condenação é relacionada a Jô, mas o Corinthians entrou no caso como parte solidária e deve arcar sozinho com o débito.
Aos 35 anos, Jô tem vontade de seguir jogando, mas vê o tempo jogar contra ele. Isso porque a janela de transferências para clubes brasileiros fecha na próxima semana.
A última partida do centroavante foi em 26 de maio. A saída do Corinthians aconteceu cerca de duas semanas depois, após o veterano ser flagrado se divertindo em um samba ao mesmo tempo em que o time jogava.
Recentemente, Jô reativou sua conta no Instagram e republicou uma postagem que lembrava que ele ainda estava vinculado ao Timão. Na última segunda, ele escreveu uma mensagem direcionada ao clube e à sua torcida:
“Quero agradecer aos torcedores do Corinthians pelas milhares de mensagem, sou grato e sempre vou agradecer por tudo, tanto aos torcedores quanto ao Corinthians. Obrigado!”
Campeão paulista (2017) e bicampeão brasileiro (2005 e 2017), Jô disputou 284 jogos e marcou 65 gols com a camisa alvinegra.
Por que Jô e Corinthians foram condenados?
O atacante voltou para o Timão em junho de 2020, após duas temporadas no Japão.
Porém, Jô tinha vínculo com o Nagoya Grampus até o fim de 2021 e, meses antes de se transferir ao Corinthians, se desentendeu com os japoneses. O clube asiático alega ter havido abandono de emprego do atacante e, por isso, não só suspendeu os pagamentos a ele a partir de abril, como entrou com uma ação na Fifa pedindo uma indenização referente ao valor restante do contrato até dezembro.
O desentendimento de Jô com o Nagoya Grampus começou em fevereiro de 2020, quando o jogador machucou o joelho esquerdo.
“O treinador do Nagoya entendeu que o Jô tinha que ficar no Japão, mesmo com o clube fora para pré-temporada. Só que os fisioterapeutas e médicos viajaram com o time, estavam fora do país. O Jô entendeu que não iria se recuperar bem, precisava de uma fisioterapia que fizesse efeito e veio ao Brasil se tratar no Flamengo. Ele custeou a viagem para ter um tratamento melhor”, explicou Breno Tannuri, advogado do atleta.
Semanas depois, Jô voltou ao Japão com Cláudia, então esposa dele, mas não foi relacionado para as duas primeiras partidas da temporada. Na sequência, o campeonato local foi suspenso por conta da pandemia do novo coronavírus.
“Ele deixou os filhos no Brasil com os avós. Só que começou um “zum-zum-zum” de que os estrangeiros não poderiam sair do Japão. Quando falaram que seria fechada a fronteira, o Jô disse: “Eu preciso voltar”. Isso foi em abril. Então, eles voltaram ao Rio de Janeiro”, contou o advogado.
O Nagoya Grampus havia liberado os atletas para ficarem em casa, mas não para deixarem o Japão. Assim, semanas depois, Jô foi avisado pelo clube de que seu salário estava suspenso.
Segundo o advogado de Jô, o atacante respondeu essa notificação e explicou o motivo da volta ao Brasil. As alegações, porém, não foram suficientes para convencer os asiáticos.
“Ele tinha que receber entre o final de abril e o começo de maio um bônus de 1 milhão de dólares, previsto em contrato. O que acontece é que, quando ele fala para o tradutor, numa quinta à noite, que voltaria ao Japão na segunda-feira, os diretores mandam uma notificação para o Jô no dia 2 de maio falando que o contrato estava rescindido. Se ele volta para o Japão, o Nagoya teria que pagar os salários e essas luvas de 1 milhão de dólares”, revelou Tannuri.
O advogado de Jô concorda que o atacante poderia ser punido pela volta ao Brasil, mas alega que não havia justificativa para o rompimento de contrato. Breno Tannuri afirma que o atleta não perdeu treinamentos e nem havia motivo para tanta pressa, visto que o campeonato local só seria retomado no mês seguinte.
Após deixar o Nagoya, Jô assinou contrato de três anos e meio com o Corinthians. Por isso, a Fifa entende que o clube tem de ser solidário no pagamento da indenização.
*Com informações do ge