Do tatame à arbitragem

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No Mundial da TWKSF, em Araraquara, o professor André Castanheira e a atleta Rafa Batista celebraram mais uma etapa de dedicação e conquistas no Kung Fu. (foto arquivo pessoal)

Entre os dias 23 e 26 de outubro, Araraquara sediou o Mundial da TWKSF, reunindo mestres e atletas de diferentes países. Pela primeira vez, o professor da Fênix Artes Marciais, André Castanheira, atuou como árbitro, experiência que ampliou seu olhar sobre o ensino, a técnica e a essência do Kung Fu

 


Rafa Batista, 23 anos, mestranda em Letras e professora de Kung Fu, conquistou a medalha de bronze na categoria de bastão. (foto arquivo pessoal)

 

@caroline_leidiane

Depois de tantos anos competindo, André Castanheira experimentou um novo papel no Mundial da TWKSF (The World Kuo Shu Federation), realizado entre os dias 23 e 26 de outubro, em Araraquara. Representando a Associação Punhos Unidos e a família Li Hon Ki, sob a liderança da Mestre Renata Balestrini, o professor da Fênix Artes Marciais viveu pela primeira vez a experiência de atuar como árbitro em uma competição internacional de formas (tao lus) — uma transição que, segundo ele, transformou profundamente sua percepção sobre o Kung Fu e o próprio ensino.

“Para atuar como árbitro no campeonato mundial, recebemos uma formação pelo Instituto Li Wing Kay de Arte e Cultura Chinesa, em um encontro com Mestres de outras escolas, de todo o Brasil. Aprendemos sobre os critérios de avaliação das competições e estudamos técnicas e performances de atletas em disputa. Quando chegou a data do Mundial, estávamos todos afiados. Ver o nível de preparo das delegações de diferentes países amplia muito a visão sobre o Kung Fu e nos motiva a seguir treinando para estarmos entre os melhores do mundo”, conta o Sifu.

A vivência, segundo André, reforçou a certeza de que a Fênix Artes Marciais está no caminho certo.

“Fazer parte da seleção brasileira foi um ótimo sinalizador de que nosso sistema é reconhecido em todo o mundo e de que a Fênix está entre as grandes escolas de Kung Fu do país”, afirma.

Discípulo da Mestre Renata Balestrini desde 2004, André credita à convivência com ela a base de sua trajetória dentro e fora do tatame.

“Foi onde me encontrei e onde até hoje tenho a oportunidade de estar sempre em crescimento, melhorando enquanto ser humano. A filosofia da nossa casa está toda pautada em valores de humildade, confiança, honra, lealdade, coragem e respeito. Minha Mestre sempre me ensinou que não desistimos de ninguém. Não crescemos sozinhos e estamos em constante evolução. Dentro da escola aprendemos a abrir mão do ego para encontrar nosso maior potencial e praticar a empatia, compreendendo o outro sem julgamento”, diz.

Para o Sifu, eventos como o Mundial da TWKSF cumprem um papel fundamental na preservação e renovação do Kung Fu tradicional.

“Cada estilo ali representado carrega consigo a história de grandes Mestres e toda a cultura de um povo milenar. As escolas de Kung Fu são verdadeiros santuários culturais, que através da tradição oral vem mantendo vivos os valores e símbolos da cultura, bem como o legado dos Mestre ancestrais”, observa.

Entre os nomes da Fênix que brilharam em Araraquara está Rafa de Carvalho Batista, 23 anos, mestranda em Letras e professora de Kung Fu, que acaba de conquistar a medalha de bronze na categoria de bastão.

A ligação de Rafa com a arte marcial começou cedo, ainda na adolescência. Constância e dedicação, ela diz, são o caminho do aperfeiçoamento.

“Participar do Mundial da TWKSF foi uma experiência incrível. Foram meses superando limitações, trabalhando o mental e lidando com a responsabilidade de representar a escola e o país. A medalha representa muito mais do que o pódio em si, é o reflexo de todo o processo”, conta Rafa, que vê no treino um espaço de transformação e autoconhecimento.

Os motivos para celebrar não pararam por aí: a Sifu Lia, de Londrina, garantiu a medalha de prata na categoria de lança, e o Sifu Lucas, de Bauru, conquistou o quarto lugar no mundial de facão e a medalha de ouro na categoria de outras armas no torneio internacional realizado logo após o Mundial.

Com mais de duas décadas dedicadas às artes marciais, André Castanheira acumula experiências em campeonatos nacionais e internacionais. Esteve, em 2010, no 8º Zhengzhou International Championship, na província de Henan, na China, (Templo Shaolin), onde conquistou o segundo lugar entre 16 países.

Agora, ao estrear como árbitro, ele afirma carregar novos aprendizados e uma visão renovada sobre o ensino.

“Essa experiência me trouxe um olhar mais crítico e técnico sobre a nossa arte. Enxergo novas possibilidades de aperfeiçoamento das técnicas e do treinamento que ofereço aos alunos”, finaliza.

Encerrado o campeonato, ficam as experiências acumuladas e a certeza de que o verdadeiro resultado não se mede apenas em medalhas. O aprendizado técnico, o amadurecimento pessoal e a troca entre culturas seguem ecoando como o legado mais valioso da jornada na arte marcial.