Vanessa Sorechio de Oliveira, 34, é de Votuporanga, filha do casal Dagoberto de Oliveira e Marlene Sorechio. Ela reside a 7 meses em Nova York (EUA), na Ilha de Manhattan; ela foi transferida de São Paulo pelo Bank Of América onde trabalha na área comercial há mais de 10 anos.
Em conversa com o Diário na manhã de ontem ela conta que desde que voltou do Brasil após o Carnaval começou a sua quarentena em virtude da pandemia do coronavírus. “Eu entrei no meu apartamento no dia 1º de março e não sai mais. Basicamente a quarentena aqui está da seguinte forma, entramos oficialmente isolamento há algumas semanas, mais ou menos quando a Europa entrou. Nova York está com um número de casos muito grande e eu particularmente estou evitando sair de casa, neste mês eu sai duas vezes, no dia do meu aniversario, 7 de março para jantar e outro dia para ir ao Parque, sempre respeitando o distanciamento social, se você entrar em nenhum local fechado manter distancia de 2 metros de qualquer outra pessoa. Estas foram as minha únicas saidinhas. A parte de comida estou pegando tudo por delivery, acabo cozinhando também, um pouco pela questão de gastos. Estou evitando sair porque se ficar doente sozinha aqui é uma situação muito complicada. O sistema de saúde dos Estados Unidos não é tão fácil, apesar de ter uma estrutura muito forte de atendimento aqui em Nova York, onde atualmente acontece um surto muito grande”, explica.
“Nesta semana, na segunda-feira (30) chegou o Comfort Shappe aqui em Nova York e ele já se encontra ancorado aqui no Porto. A ideia deste navio hospital é mover as pessoas para vagar mais leitos para as pessoas que precisam ser atendidas por conta do coronavírus. Todas as estruturas de eventos ao redor estão virando hospitais. Eu acho que isso está muito parecido com o que está sendo realizado em São Paulo. Os casos aqui estão aumentando drasticamente nos últimos dias e é esperado que aumentem ainda mais nas próximas semanas. Então é assim, eu tenho tentado não sair de casa a não ser por coisas muito emergenciais, toda vez que saio, mesmo que seja até a portaria, tomo todos os cuidados de tirar as roupas, chinelos, desinfeto caixas, embalagens, fechaduras, tudo pra gente tentar não ficar doente”, completa.
“Basicamente não estamos totalmente proibidos de sair a exemplo da Europa onde você toma uma multa, mas eles estão reforçando a mensagem de evitar sair de casa, somente em lugares abertos. Todos os bares, restaurantes, lojas, tudo se encontra fechado e agora as lojas das grandes marcas estão sendo fechadas com tapumes em suas portas por que existem riscos de saques”, ilustra.
“Quanto ao abastecimento eu ainda não havia sentido muito; o que acontece é que às vezes você procura um produto e não acha, tem vezes que você encontra e acha outro, isso está muito parecido com outros países. Eu tenho conversado com amigos em Londres, na França e outros lugares e está muito parecida essa situação. Então numa semana não tem massa, na outra você não acha arroz, mas você acha cuscuz, na outra você acha massa, mas não tem farinha. Existe sim uma variação de falta de produtos, mas não necessariamente um desabastecimento, comemos normalmente, mas estamos nos adaptando”.
“O delivery é uma coisa cultural aqui, é muito comum pedirmos em supermercados, existe um aplicativo da Amazon que conseguimos pedir tudo, só que atualmente não conseguimos achar janelas de horários para delivery. Tem semanas que não consigo nenhum horário de delivery e ainda ontem (31) os entregadores pediram um day off, não propriamente uma greve, mas por questões de saúde eles estão se posicionando que estão com medo de ficar circulando, ficar em contato com outras pessoas, com medo de ficarem doentes”.
“Tenho visto cada vez mais pessoas trabalhando nas ruas. Elas estão ficando doentes, funcionários da saúde, bombeiros e policiais. No geral é um sentimento assustador, todos estão com medo”.
“Aqui, como no Brasil, se você tem sintomas leves é para você ficar em casa se cuidando e ir para um hospital somente se tiver uma piora significativa. Isso porque os hospitais estão abarrotados. Eles recebem chamadas o dia inteiro. Então se você estiver só com uma gripe mesmo, que é comum aqui agora por causa do inverno, eles pedem para você não ir a um hospital, porque corre o risco de se contaminar com o coronavírus e ficar mais debilitado mais do que já estava”.
“Eu acho que a indicação tem sido muito parecida em todos os países, principalmente por essa questão de estar tudo fechado. Inicialmente a quarentena aqui vai até 30 de abril e poderá ser postergado de acordo com o que vai acontecer; o Trump disse que ia até a Páscoa, mas ele já estendeu até final de abril e, logico, vai ter esse impacto na economia, mas não tem muito o que fazer neste momento, temos que prezar pelas nossas vidas.”
“Nova York é uma cidade que sempre esteve abarrotado de gente todo o tempo, chega a ser exaustivo porque você não consegue andar nas ruas, e agora estão todas vazias, poucos carros, pouquíssimas pessoas, que geralmente estão carregando sacolas ou carrinhos de entrega, fazendo o somente o necessário para sobrevivência, e no geral está todo mundo trabalhando nas atividades que são possíveis cobrir de casa. Assim como eu, a grande maioria do banco, só se estiver afastado por um motivo de saúde ou qualquer outra circunstância”.
“O mundo está junto nessa situação muito difícil, então todos temos que ficar em casa, ainda não sabemos a reação deste vírus, se deixará sequelas, se a recuperação vai trazer imunidade, aparentemente pelo que temos visto não. Mas ele pode daqui algum tempo ficar mais forte, mais mortal. Temos que nos isolar e tentar manter a sanidade neste momento. Eu moro num apartamento de 40 metros em Manhattan, no meio da Ilha. As casas ficam somente nos subúrbios, lugares mais afastados onde se tem mais metros quadrados, mas tudo questões de valores dos custos dos aluguéis. Então eu moro aqui na Ilha e acabo vivendo nessa muvuca diária.”
“Uma coisa interessante. Nova York é uma das cidades mais barulhentas do mundo (até estou ouvindo uma sirene aqui agora, é uma ambulância), e agora esta cidade está muito silenciosa, ouvimos de vez em quando uma sirene, geralmente de ambulância ou bombeiro socorrendo alguém”.
“A minha mensagem a todos de Votuporanga é que fiquem em casa, se cuidem, mantenham a saúde e a sanidade mental. Não esta fácil, vocês ainda tem espaço, tive que me adaptar em 40 metros, casa, trabalho, academia e bar. Vai dar tudo certo, nós vamos passar isso de boa, o importante é ter saúde, o resto depois à gente resolve, beijo a todos.”