DIA DO PROFESSOR – Onde o ensino ainda é encontro

8

Neste Dia dos Professores, dados sobre o uso de smartphones em sala de aula reacendem um valor essencial sobre a força da presença e do diálogo no aprendizado

@caroline_leidiane

Entre a pressa das redes sociais, os olhos fixos nas telas e a rotina acelerada, o papel do professor resiste como ponto de encontro entre presença e aprendizagem. O debate sobre o uso de smartphones nas escolas ganha novo fôlego com os dados de uma pesquisa que apontam: a restrição ao uso do aparelho aumentou a atenção dos alunos durante as aulas, mas também ocasionou mais tédio e ansiedade.

Em tempos tão conectados, o resultado reacende uma antiga questão: o que realmente mantém o aluno atento: a tecnologia ou o vínculo humano?

Celebrado hoje, o Dia do Professor é uma convocação à reflexão sobre o papel do educador em tempos de transformações rápidas, em que a tecnologia ocupa crescente espaço na vida dos alunos e na rotina das escolas.

Neste ano, a data ganha um novo tom com a divulgação de uma pesquisa da Frente Parlamentar Mista da Educação, em parceria com o Equidade.info, que mostrou que 88% dos estudantes afirmaram prestar mais atenção nas aulas após o veto ao uso dos smartphones nas escolas.

Para o professor Alberto Martins Cesário, que atua há 17 anos no Ensino Fundamental da rede municipal, a efeméride é uma oportunidade de repensar a prática docente.

“O Dia dos Professores sempre foi, para mim, mais do que uma data comemorativa. É um momento de pausa, de pensar na caminhada até aqui e no que ainda precisamos construir. Cada ano na educação traz desafios diferentes, e neste momento, com mudanças como o veto ao uso de celulares em sala, essa reflexão se torna ainda mais urgente”, afirma.

A pesquisa revelou que a proibição do uso de aparelhos eletrônicos em sala contribuiu para a melhora da atenção dos estudantes e reduziu a ocorrência de conflitos virtuais, mas também trouxe desafios, como o aumento do tédio e da ansiedade em parte dos alunos. Alberto percebeu de perto os efeitos da mudança.

“A atenção dos alunos começa a se reorganizar. No início, muitos ainda olhavam para a mochila, como se o aparelho estivesse ali, à espera deles. Aos poucos, essa ansiedade foi diminuindo, e o foco nas aulas passou a aumentar de forma perceptível”, conta.

O professor, que leciona para uma turma de 5º ano, diz que a ausência do celular tem favorecido o diálogo e a cooperação entre os estudantes.

“Depois que discutimos em sala sobre o uso do celular, notei uma mudança: surgiram mais conversas entre eles, mais cooperação e mais interesse nas atividades. Quando o celular deixa de ser o centro das atenções, o espaço para o diálogo e para o aprendizado se amplia”, observa.

Segundo a pesquisa, 65% dos professores relataram diminuição do bullying virtual após a proibição, enquanto apenas 41% dos alunos perceberam essa redução. Para Alberto, essa diferença de percepção reflete os distintos pontos de vista dentro da escola.

“Nós, professores, temos uma visão mais ampla do comportamento coletivo. Quando o celular sai de cena, esse tipo de conflito dá uma trégua e a gente nota. Mas os alunos, principalmente os mais novos, muitas vezes não identificam algumas práticas como bullying, ou não percebem quando o ambiente melhora”, explica.

Ele defende que a escola invista em projetos de educação emocional e espaços de escuta ativa.

“Precisamos ensinar as crianças a reconhecer seus sentimentos, a entender o impacto das palavras, dentro e fora das telas. Se os alunos compreenderem melhor o que é o bullying, vão perceber com mais clareza quando ele está presente”, salienta.

O desafio, segundo o educador, vai além da proibição do celular, pois é preciso reinventar o ambiente escolar para que ele siga sendo um espaço de convivência e aprendizagem significativa.

“O celular virou, para muitos alunos, uma espécie de ‘muleta emocional’. Eles recorrem a ele no tédio, na ansiedade, no desconforto social. Quando esse apoio é tirado, é necessário oferecer alternativas. A escola inteira precisa se mobilizar para tornar os espaços mais vivos e acolhedores”, sugere.

Entre as estratégias, ele cita o embarque em dinâmicas, como brincadeiras, jogos de tabuleiro e atividades coletivas durante os intervalos, além de momentos de escuta e protagonismo estudantil.

“Mais do que ‘tirar o celular’, precisamos ensinar a lidar com o vazio, com o silêncio, com o tempo livre — coisas tão essenciais e tão escassas hoje”, completa.

Mesmo com a limitação do uso de aparelhos, Alberto acredita que a tecnologia pode continuar sendo aliada do ensino, desde que usada com propósito.

“Podemos pensar em momentos específicos de uso orientado, como nas aulas de informática ou em projetos integrados. A diferença é que agora o uso precisa ser consciente e com intenção pedagógica, e não apenas automático ou disperso”, propõe.

Além disso, em celebração à data, o educador reforça a importância do reconhecimento e do cuidado com quem ensina.

“Ser professor, hoje, é um ato de coragem diária. A gente ensina, acolhe, media conflitos, lida com mudanças, muitas vezes com poucos recursos e pouco reconhecimento. Mas seguimos, porque acreditamos. Acreditamos que cada criança tem potência, que cada sala de aula é uma sementeira, que cada gesto nosso pode transformar”, ilustra.

E conclui com um lembrete que extrapola o debate sobre o uso ou não dos smartphones.

“Nenhuma tecnologia substitui o vínculo humano. O que marca um aluno para sempre é como ele se sentiu na escola. Isso depende de nós, professores — dos nossos gestos, da nossa presença, da nossa escuta. Que nunca percamos isso de vista”, finaliza.

As palavras de Alberto ecoam como parabéns coletivo aos professores que, mesmo diante das transformações do ensino, seguem cultivando a sensibilidade do olhar atento, da escuta generosa e a coragem de acreditar que ensinar ainda é um dos atos mais nobres que existem.