De malas prontas

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Embora nunca tenha tido contato direto com experiências internacionais, Sofia enxerga no intercâmbio uma oportunidade de crescimento pessoal, acadêmico e cultural. (foto arquivo pessoal)

Aos 15 anos, estudante de Votuporanga conquista vaga em programa de intercâmbio internacional e inspira colegas com dedicação e fé

 

Sofia Santos Pereira estava na sala de aulas da Escola Park Residencial Colinas quando recebeu uma notícia que mudaria a sua vida. (foto arquivo pessoal)

@caroline_leidiane

No início de setembro, a rotina da Escola Park Residencial Colinas, em Votuporanga, foi interrompida por uma notícia que mudaria o rumo da vida de uma aluna. A adolescente Sofia Santos Pereira, de 15 anos, estava em aula quando o diretor, a coordenadora e algumas professoras entraram na sala para anunciar que ela havia sido selecionada para participar do “Prontos Pro Mundo”. O programa é uma iniciativa do Governo do Estado de São Paulo que leva estudantes da rede pública para intercâmbio no Canadá, Reino Unido, Austrália e Nova Zelândia.

A cena foi de emoção coletiva.

“Fiquei super emocionada, foi um sentimento incrível! Na hora fiquei trêmula de tanta alegria, abracei as pessoas que estavam ali e comemoramos juntos”, recorda Sofia, que ainda foi conduzida pela direção da escola para compartilhar a notícia com os demais alunos.

O gesto teve o propósito claro de mostrar que dedicação e disciplina podem abrir portas para experiências que antes pareciam distantes.

 

Dedicação que vem de casa

A trajetória da adolescente até esse momento foi construída com disciplina, apoio familiar e fé.

“Sempre procurei me dedicar aos estudos com seriedade, por entender que é algo importante para a minha vida. Além disso, sempre fui motivada pelos meus pais nesse sentido. Minha relação com os estudos tem muito a ver com a minha estrutura familiar, com os meus valores”, conta.

Foi em 2024, durante a realização da avaliação Saresp (Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo), aplicada a todos os alunos do 9º ano da rede estadual, que a estudante começou a trilhar o caminho do intercâmbio.

A boa nota, somada às atividades na plataforma digital “Speak”, garantiu a classificação para a etapa seguinte: a prova de proficiência em inglês, aplicada em agosto deste ano.

A preparação exigiu organização e força de vontade.

“Quando soube que fui classificada para a avaliação de proficiência em língua inglesa, procurei me preparar da melhor forma possível, assistindo vídeos na internet e exercitando conversação através de aplicativos. E acima de tudo, por ser cristã, orei a Deus pedindo sua vontade sobre a minha vida. Acredito que Ele está no controle da minha vida e sabe o que é melhor para mim sempre”, afirma Sofia.

A fé, como ela ressalta, é tão presente quanto os livros e cadernos. Para a jovem, a confiança em Deus foi parte essencial do processo. Ao mesmo tempo, a influência dos pais foi determinante para criar uma relação saudável e comprometida com a educação.

“Meus pais sempre souberam do meu sonho de conhecer o Canadá, me deram total apoio, conversaram bastante comigo para que eu fizesse a minha parte, mas que, acima de tudo, entregasse meus sonhos a Deus em oração”, relembra.

 

Sonhos e desafios

Embora nunca tenha tido contato direto com experiências internacionais, Sofia enxerga no intercâmbio uma oportunidade única para crescer pessoal, acadêmica e culturalmente.

“Meus objetivos nesse intercâmbio são muito simples: quero aprofundar o meu conhecimento da língua inglesa e melhorar a prática da conversação. Além disso, pretendo conhecer a cultura local através do contato com os moradores, ouvindo suas histórias e observando os elementos culturais deles”, explica.

Ela também demonstra maturidade ao reconhecer os desafios que estão por vir, como clima, idioma, cultura e a distância da família.

“Acredito que vou enfrentar todos esses desafios, contudo, estou me preparando da melhor forma possível. Em relação ao clima, terei que lidar no dia a dia; quanto ao idioma, tenho tentado me preparar estudando mais a língua, assistindo alguns vídeos, praticando a conversação com pessoas fluentes; em relação à cultura, tenho procurado ler algumas coisas, assistido vídeos de brasileiros que moram no Canadá, com o objetivo de facilitar a minha adaptação; e em relação à saudade da família, penso que vai acontecer, é inevitável, somos muito unidos, mas vamos nos falar sempre que possível por vídeo chamada e mensagens”, explana Sofia.

A consciência de que a experiência vai muito além das aulas de inglês e das viagens turísticas faz parte da sua preparação. Para a adolescente, estar em outro país será também uma lição sobre autonomia, resiliência e convivência.

 

O programa ‘Prontos Pro Mundo’

Criado pelo Governo do Estado de São Paulo, o “Prontos Pro Mundo” é voltado a alunos da rede pública que se destacam no desempenho escolar e apresentam bom resultado em avaliações como o Saresp. Além de identificar talentos, o programa busca incentivar a continuidade dos estudos e ampliar horizontes através da vivência em outro país.

A seleção envolve etapas rigorosas, como performance, participação em plataformas de aprendizagem e uma prova de proficiência em língua inglesa. Para muitos jovens, o programa representa a primeira oportunidade de contato direto com outra cultura.

O intercâmbio tem duração de três meses e é totalmente custeado pelo governo, que cobre despesas como passagens, visto, seguro-viagem, traslados e hospedagem. Durante a estadia, os estudantes vivem com famílias previamente selecionadas e ainda recebem uma bolsa-auxílio para gastos pessoais.

No caso de Sofia, a oportunidade também desperta um compromisso com a comunidade. Ao retornar ao Brasil, ela cogita a possibilidade de multiplicar o aprendizado.

“Assim que voltar, pretendo compartilhar minhas experiências com outros alunos para que sejam encorajados a se dedicarem ainda mais aos estudos, percebendo que eles também podem desfrutar de experiências parecidas com a minha. Além disso, penso em utilizar meus conhecimentos da língua inglesa para auxiliar pessoas que tenham interesse em aprender esse idioma”, projeta.

 

Inspiração para outros jovens

A conquista de Sofia não é apenas individual, mas coletiva e virou motivo de celebração em Votuporanga, com mensagens de incentivo vindas de amigos, familiares e professores.

“Desde que saiu o resultado, minha família, amigos e equipe escolar têm comemorado comigo e enviado mensagens de carinho e felicitações. Alguns amigos se colocaram à disposição, inclusive, para treinar conversação comigo”, conta.

Diante desse cenário, ela faz questão de deixar uma mensagem para outros estudantes que também sonham com um intercâmbio.

“Que continuem encarando os estudos com seriedade, no dia a dia, frequentando regularmente as aulas, separando tempo para revisar os conteúdos e realizar as tarefas escolares, para que tenham um bom desempenho na avaliação Saresp, garantindo a classificação para a avaliação de proficiência. Esse é o caminho a ser percorrido. Hoje posso dizer com segurança que o sonho pode se tornar realidade”, afirma a jovem que embarca no próximo ano rumo a uma nova etapa da vida.

Com sua determinação, fé e serenidade, Sofia carrega para o Canadá não apenas um passaporte, mas também uma história que inspira e mostra que, para realizar sonhos, é preciso acreditar, estudar e se preparar para um futuro que está logo ali.