Escola Sarah Arnoldi Barbosa encerra trabalho semestral pioneiro com grande evento para toda a comunidade
Os alunos que participaram do teatro na Culminância das Eletivas
A equipe de professores e diretores da escola Sarah Arnoldi Barbosa
Alan Porto Vieira
A escola Sarah Arnoldi Barbosa, que fica na rua Rio Grande, na Vila Paes, é uma escola diferenciada. Uma das pioneiras no Estado de São Paulo, ela repete algumas estratégias de estudo em período integral que tiveram sucesso no nordeste, adaptadas para a localidade. Na última sexta-feira (14) aconteceu a culminância das eletivas, termo um tanto misterioso para quem é de fora, mas que os alunos e professores repetem com naturalidade absoluta.
As eletivas são junções de matérias aplicadas em sala de aula, e constam na grade curricular da escola, mas com alguns diferenciais. Ao invés de um professor explicando algum tema tradicional, como português, matemática ou história, dois professores de matérias aparentemente distintas estão presentes. Ao invés de aulas expositivas, os próprios alunos são estimulados a buscarem o conhecimento e montarem projetos sobre os temas propostos. E, no fim, ao invés de uma prova escrita, há a apresentação de um trabalho, e estes trabalhos foram apresentados na sexta-feira, no Parque da Cultura, para os pais, alunos das outras eletivas, e aberto para toda a população.
A coordenadora Viviani Rodante explica o processo: “o tema da eletiva é sempre relacionado com o sonho dos alunos. É feita uma pesquisa no início de cada semestre para que a gente fique por dentro do sonho profissional e pessoal deles, para que sejam desenvolvidos os temas onde eles se sintam pertencentes e com expectativas para o futuro”.
A culminância das eletivas foi uma festa. Todos os projetos ficaram expostos no primeiro andar do Centro de Informações Turísticas do Parque da Cultura, e a sala de cinema recebeu peças de teatro e vídeos feitos pelos alunos. Todos eles bastante familiarizados com termos como protagonismo, transdisciplinaridade, aliás é perceptível que os alunos do SAB criaram quase como um dialeto próprio, uma cultura a parte, um português mais formal e educado, com uso de pronomes e palavras pouco utilizadas. Mas tudo com bastante naturalidade.
Os professores Fábio Zarpelão e Sonia Secco, de língua portuguesa, se uniram na eletiva de teatro. “Nosso projeto se chama SAB Em Cena do Ler ao Ser. A gente trabalha com teatro voltado para oratória, para que eles aprendam a viver em sociedade e em trabalhar bem com isso”, conta a professora Sônia.
“Se eles não tiverem uma postura pra aprender a lidar com os próprios sentimentos pra poderem expor suas ideias, eles não vão pra lugar nenhum. E o teatro vai trabalhar postura, respiração, e segurança de vida. Em qualquer profissão eles vão passar por entrevista de emprego, por situações que eles terão que expor suas ideias. Não é necessariamente pra formar atores, a ideia do teatro na escola é formar bons profissionais, independente da carreira que ele escolha”, explica Sônia.
O professor Fábio comenta sobre outro benefício das eletivas, o enriquecimento do repertório cultural do aluno. “Não podemos dizer que após esses trabalhos os alunos terão o mesmo repertório cultural que tinham no início”, diz, e cita os autores explorados, como José Antônio da Silva, um pintor de Rio Preto, além de Drummond e Ziraldo. “Todos esses trabalhos mostram para eles a possibilidade de sair de um lugar muito comum, muito pequeno, muito discreto, e, com um trabalho bem feito, assumir uma proporção e uma dimensão bastante interessante”.
As eletivas unem também matérias totalmente distintas. O professor de história Vagner Lopes se uniu com o professor de química para produzir corantes naturais e estudar sobre pré-história e pinturas rupestres. Além das artes, camisetas foram produzidas utilizando a técnica de tie-dye. A professora Juliana Silva, de língua portuguesa, se uniu com o professor Wilson de geografia num projeto de meio ambiente, com produção de textos e apresentação de trabalhos: “nosso projeto se chama Fala Aí Ecocidadão, o objetivo é conscientizar a população sobre práticas para que não denigram o meio ambiente”.
“Nossa exposição mostra, por exemplo, o tempo de decomposição de cada matéria prima. Os alunos expõem para os pais sobre como ser um ecocidadão, que atitudes devemos ter, como aproveitar os materiais na escola, papel por exemplo. Então eles gravaram vídeos, fizeram paródias, produziram textos, enfim, várias produções para conscientizar a população”, disse a professora Juliana.
Antes de entrarem na escola, os professores passam não somente pelas provas normais de admissão, mas também por entrevistas e seleções muito mais apuradas. A ideia é formar um ambiente escolar de alta performance, com alunos preparados para altos desempenhos. Para Isabel Bertolo, diretora do SAB, essa seleção dos professores torna tudo muito mais agradável. “Liderar uma equipe que já vem com o perfil do Projeto Escola Integral é muito mais fácil, porque o professor quando entra no programa já entra sabendo o perfil que ele tem que ter, as características, as qualidades para nele atuar”, ela comenta.
Isabel Bertolo é veterana nesse tipo de educação integral, já tendo trabalhado em escolas do tipo em ocasiões anteriores. Uma diretora premiada que está há um ano no SAB. Ela explica qual o perfil de professores que procura: “professores que tenham prazer em ensinar com amor, com dedicação e exclusividade”.
Os alunos também tem que se adaptar. É o que diz a estudante Aléxsia de Lucas, hoje no oitavo ano. “Já estudei em quatro escolas, e nas outras era mais visado o conhecimento intelectual. Quando cheguei no SAB foi um baque muito grande porque eles não tratavam só do que você tinha que aprender, eles tinham matérias novas em que você tinha que se tornar protagonista. Tem as eletivas, tem os clubes juvenis que é a gente que dá aula, não tem professor na sala. Tem projeto de vida, que é um professor que te ajuda você a chegar no seu sonho de trabalho, ou de viagens, qualquer sonho. Tem os tutores que a gente escolhe no começo do ano, é como um professor de projeto de vida, mas com ele você pode se abrir mesmo, ele só dá aula pra você, o que você fala pra ele é só com ele e com mais ninguém. Você pode expor seus problemas e ele vai te ajudar a achar uma solução”.
O aluno Davi Casquel, também no oitavo ano, chegou na escola a dois anos atrás. Ele se considera um pouco fechado, e relata alguns problemas de adaptação no início, em se enturmar e fazer novos amigos. Sua eletiva? Teatro, justamente por essa característica.
“Os professores me ajudaram muito no começo, eu não me esqueço de uma professora, que se chama Maria Joana, ela me ajudou muito em relação ao pessoal, em amizades, e em várias outras coisas. Muitas matérias na minha escola anterior que eu não aprendi, aqui eu aprendi e comecei a gostar”, conta Davi.
No final, o resultado são estudantes muito mais responsáveis e preparados. A coordenadora Viviani Rodante comenta o desempenho de seus alunos: “a escola é de ensino fundamental 2, até o nono ano. Se tivéssemos ensino médio, o trabalho seria a favor do vestibular. Como não temos, o trabalho acaba sendo voltado para as bolsas, tanto pro concurso de melhor estudante, tanto pra instituto federal e ETEC. No ano passado, dos 105 alunos que encerraram o nono ano, 47 foram pro IF. das 10 bolsas oferecidas nas escolas particulares da cidade para melhor estudante, 6 foram do SAB. Nós temos 52 alunos na ETEC. Pelos nossos cálculos somente 10 ou 12 alunos não conseguiram a escola que pleiteavam”.
Os resultados são claros e numericamente comprováveis. Há uma revolução silenciosa acontecendo no SAB de Votuporanga, e pela primeira vez esse método e ensino de alto rendimento foi apresentado para a população. Em dezembro tem mais, e ficaremos de olho.