Ativação do aparelho foi realizada nesta quinta-feira, um mês depois do procedimento. Desde a inauguração do programa, em março, já foram realizados 32 procedimentos, sendo 20 em adultos e 12 em crianças.
Emoção, surpresa e um pouquinho de choro. Foi assim que o pequeno Gael Torciano, de 1 ano e 4 meses, ouviu pela primeira vez na manhã desta quinta-feira, 31, um mês depois de realizar procedimento de implante coclear no Hospital da Criança e Maternidade (HCM) de Rio Preto.
Gael nasceu com perda da audição profunda nos dois ouvidos e é o paciente mais novo a participar do Programa de Implante Coclear da Fundação Faculdade de Medicina (Funfarme) de Rio Preto, mantedora do HCM. Agora, Gael terá vida normal.
Desde a inauguração do programa, em março deste ano, já foram realizados 32 procedimentos, sendo 20 em adultos e 12 em crianças. “Em dezembro de 2022 fomos habilitados para realizar o implante coclear, em pessoas com perda de audição profunda e, em março deste ano, iniciamos os procedimentos, algo inédito no noroeste paulista”, afirma o diretor executivo da Funfarme, Dr. Jorge Fares.
A mãe de Gael, a auxiliar de departamento pessoal Janaína Torciano, percebeu que o filho não escutava assim que saiu da maternidade. Isso porque ele não respondia a estímulos auditivos, como cachorros latindo e pessoas falando alto. Aos três meses foi constatada a deficiência auditiva e a família, que é de Penápolis, começou a buscar tratamento.
“Foi meu primeiro contato com a deficiência auditiva na vida. Busquei um otorrino em Marília, que me orientou quanto as possibilidades de tratamento, ao mesmo tempo que comecei a pesquisar mais sobre a deficiência, acreditando que teria que lidar com isso a vida toda. Foi então que uma amiga viu uma reportagem na TV falando do implante coclear da Funfarme e fiz o cadastro no site. Em menos de três meses, meu filho já estava apto a realizar a operação”, afirma Janaína.
Segundo o Dr. Luciano Maniglia, otorrinolaringologista do HCM responsável pelo procedimento, para que a criança não sinta os impactos da surdez, é ideal realizar o implante até os seis anos de idade, sendo que o melhor resultado se dá até os dois anos.
“Agora, Gael terá um desenvolvimento escolar e social dentro da normalidade e poderá desenvolver a fala. O procedimento dará qualidade de vida também à família, já que ele precisará de menos cuidados”, explica o médico.
“Gael foi um bebê prematuro e chegou até o HCM com diagnóstico de perda de audição profunda. Prontamente nossa equipe realizou todos os atendimentos e exames necessários e, em menos de três meses, ele já estava apto a realizar o procedimento, tudo custeado pelo SUS”, afirma o diretor administrativo do HCM, Dr. Antônio Soares.
Ativação
O procedimento possui duas etapas. A primeira é a implantação de um dispositivo na cóclea, órgão responsável pela função auditiva, que foi realizado no dia 27 de julho. Após a cicatrização, cerca de um mês depois, o aparelho é ativado.
A fonoaudióloga do Hospital da Criança e Maternidade (HCM) Érica Picoli destaca que a ativação de Gael foi feita de maneira diferenciada, pois além de não ouvir, ele também não fala. Nesses casos, são enviados estímulos ao nervo auditivo da criança, que são regulados na hora. Junto a isso, é realizado a análise das respostas comportamentais do pequeno.
“A ativação do implante coclear na criança é sempre mais desafiadora e necessita da experiência do fonoaudiólogo audiologista. Somente assim é possível entender se o aparelho está ajustado”, afirma.
Gael começou a ativação agitado, assustado e sem entender o que estava acontecendo. Foi quando ele ouviu a voz da mãe Janaína pela primeira vez que ele se acalmou. “A gente sempre imagina esse momento de todas as formas, mas nunca está preparado. Estou muito emocionada”, afirmou.
Segundo o Dr. Luciano Maniglia, Gael passará por fonoterapia para que aprenda a ouvir. “Costumo dizer que a cirurgia é o passo mais simples de todo o processo. Como ele nunca ouviu antes, precisará ser ensinado. É um processo de adaptação comum, inclusive para pessoas que perderam a audição ao longo da vida”, finaliza.
O que é o implante coclear
Implante coclear é um dispositivo eletrônico (eletrodo) colocado dentro do ouvido, na cóclea, que vai estimular o nervo auditivo, levando sinais auditivos para o cérebro. O implante coclear consiste em duas unidades: a interna, que é colocada na cóclea através de cirurgia, e a unidade externa, que é o processador, que capta o estímulo sonoro e encaminha para a unidade interna, estimulando o nervo auditivo, fazendo com que o indivíduo ouça o som.
Em dezembro de 2022 a Funfarme foi habilitada para realizar o implante coclear e em março de 2023 iniciou os procedimentos. É possível se cadastrar no site do Hospital de Base (www.hospitaldebase.com.br) para participar do programa, que é gratuito, para qualquer paciente que tenha perda auditiva severa ou profunda, cujo aparelho auditivo convencional já não surte efeito.
A faixa etária abrange desde crianças até idosos. Basta preencher os dados do cadastro, submeter o exame comprobatório da perda auditiva, para que a equipe multiprofissional do HB avalie e entre em contato para que o paciente possa realizar o implante coclear.