Se você for assistir o Coringa, que estreou ontem no Cine Votuporanga, peço para que tenha algo em mente: este não é um filme fácil de digerir. Desde o trailer final ficou nítido que você encontrará uma temática pesada e que coloca em oposição a todo tempo o fato do personagem ser um palhaço, mas viver uma vida sem nenhuma alegria.
A nova produção da Warner Bros conta a trajetória de Arthur Fleck (nome do personagem antes de se tornar o Coringa), um homem que sofre com alguns problemas psicológicos e leva uma vida difícil. Ele mora com sua mãe em um apartamento pequeno e sem qualquer luxo, trabalha em um lugar que não o valoriza, conta com pouquíssima ajuda do governo para seus tratamentos e carrega o sonho de ser reconhecido – tanto por ele mesmo, que diz durante o filme que nunca havia entendido o que era sua existência, quanto pelos outros.
A grande questão é que no início do filme você consegue sentir empatia por Arthur, interpretado pelo brilhante Joaquin Phoenix, e começa a se questionar: “Será que eu deveria estar sentindo isso? Será que as outras pessoas também estão pensando da mesma forma?”, criando uma paranoia na cabeça de quem está vendo. Talvez essa tenha sido a intenção e o primeiro desafio do longa, levar o público a simpatizar com alguém que é um grande vilão dos quadrinhos da DC e do cinema.
Para que toda essa perspectiva seja criada, Joaquin precisou (além de perder 24 quilos para o papel) viver o homem que ri quando tem vontade de chorar – e o fez de forma impecável. É possível entender exatamente o que o personagem está sentindo só pelo seu olhar ou um pequeno movimento de sua boca. Será que o Oscar vem? Entretanto, suas atitudes continuam completamente incalculáveis como as do Coringa de Batman: O Cavaleiro das Trevas, vivido por Heath Leadger. Esse aspecto mantém o espectador ainda mais preso à narrativa, pois cria uma tensão de saber que a qualquer momento ele poderá cometer uma loucura, mas sem conseguir prever quando será – e você torce para que ele não siga por esse caminho.
O personagem Arthur Fleck em cena de Coringa, filme que estrela Joaquin Phoenix. (Reprodução/Warner Bros.)
Arthur já tem uma vida difícil, mas seu ápice ocorre em um dia em que tudo parece estar desmoronando. Ou seja, uma série de acontecimentos ruins resulta em uma grande tragédia cometida pelo personagem, que até se assusta com sua própria ação. A partir desse momento de insanidade, o personagem começa a revelar o Coringa amedrontador que existe dentro de si. Ele se sente muito mais vivo e seguro, como se finalmente tivesse controle sobre sua vida. Depois desse ponto do filme, quase todas as relações de empatia criadas com o personagem são perdidas a cada cena e já não há como enxergá-lo da mesma forma que no início.
Essa mudança não acontece pela violência brutal e realista que o longa apresenta, mas pela forma com a qual Arthur começa a pensar e agir. Sua liberdade causa medo em quem está ao seu redor, tanto na sala de cinema quanto na trama. É incrível como o longa constrói alguém tão assustador sem precisar apelar para a representação de um monstro ou mostrar um herói para fazer uma contraposição, como o Batman. Por conta disso, é bem possível que você saia do cinema com a sensação de que encontrará um Coringa a cada esquina. Realmente perturbador! A dica é: não tenha medo e coloque um sorriso no rosto. O filme já está em cartaz em Votuporanga!
Direção: Todd Phillips
Duração: 122 minutos
Recomendação: 16 anos
País: Estados Unidos
Ano: 2019
CINE VOTUPORANGA:
Malévola 2 – Dona do Mal – diariamente às 19h – dublado – em 3D digital
Coringa – diariamente às 21h – dublado – em 2D digital – no domingo dia 03/11 às 17h terá sessão legendada do coringa.