CADERNO LIVRE – O que realmente importa na vida?

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Por Pérola Ferraz

 

A felicidade é, sem dúvida, um tema muito importante, já que as pessoas realmente gostam de pensar sobre ela. Por isso, o assunto de que iremos tratar hoje é bem diferente do que tratamos em dias anteriores. Hoje falaremos de FELICIDADE! Mas será que eu sou a pessoa mais indicada para falar de felicidade? Quando perguntaram a um filósofo se ele era dono da sabedoria, ele sabiamente respondeu: Eu sou amigo da sabedoria, eu sou amigo da Sofia. Assim penso em relação à felicidade: não sou a dona da felicidade, mas quero ser amiga dela. Quero ter uma vida plena e ter a certeza de que os caminhos que escolhi me levaram à realização. No entanto, é muito importante não confundir felicidade com euforia. Felicidade não é ficar dando gargalhadas o tempo todo, ter muitos amigos no Facebook, muitos seguidores no Instagram, várias curtidas ou umas fotos de “família feliz” nessas redes sociais. Felicidade é um projeto e terá os seus altos e baixos. Todavia, é preciso perceber se estou construindo algo que tornará a minha vida algo significativo. A felicidade não pode ser estabelecida apenas como uma meta de futuro, visto que deve ser cotidiana, mostrando um caminho para que eu possa atingir os meus objetivos. Sendo assim, não podemos pensar que só seremos felizes após o término da quarentena ou que a felicidade só será completa quando eu emagrecer alguns quilos ou quando comprar um carro ou um apartamento. Felicidade não é o ponto final, e sim, o caminho que eu estou percorrendo. Está na disposição para estabelecer metas diárias e chegar onde eu quero.

Outro ponto muito importante para se alcançar a felicidade é o protagonismo emocional. Ninguém será feliz se supuser que isso depende de outro indivíduo, o que consiste em ter o equilíbrio das próprias emoções, mesmo com os acontecimentos externos que nos afetam e com o isolamento social do momento. Então, preciso tentar agir como os filósofos, principalmente os estoianos. Para muitos deles, a paz interna é algo que depende única e exclusivamente de nós mesmos, isto é, não depender da ação do outro para ser feliz e, também, não dar a ele o poder de destruir o seu dia ou a sua vida. Ninguém tem este poder!

Aristóteles já dizia que o ser humano é um ser social, político e que depende do convívio em sociedade. Apesar disso, é importante esclarecer que ele não pode depender da oscilação emocional  de outros indivíduos. Você já parou para pensar e se perguntar: quem sou eu? O que eu realmente quero? Já pensou que todas essas respostas estão com você e que seus planos são seus, e não da sua família, dos seus amigos, das suas redes sociais. Nem mesmo o mais amargo seguidor ou o mais doce amigo virtual serão responsáveis pela concretização dos seus sonhos ou responsáveis pelas suas realizações.

A felicidade é, em primeiro lugar, o desejo de ser feliz e, em segundo, a capacidade de considerar isso possível. É claro que nós não somos onipotentes, característica que atribuímos a Deus, mas entre a onipotência e a impotência, existe o caminho entre aquilo que eu desejo: o que Maquiavel chamou de “fortuna”.

A felicidade pode ter um padrão, que foi estabelecido pelo indivíduo. Então, é indispensável tomar uma decisão interna, não reforçando pensamentos negativos ou deixando a nossa vida à mercê da vontade dos outros. É imprescindível escolher cuidadosamente as pessoas que realmente queremos para fazer parte da nossa história e sermos protagonistas da nossa vida.

A felicidade, então, como já dizia um filósofo francês, não pode nascer de um projeto externo. Ela é, na maioria das vezes, construída por nós mesmos, exceto em doenças como a depressão, em que a pessoa necessita de ajuda especializada.

 

  • Camila Pérola Ferraz é professora de História e vice diretora da escola SAB