Avanço da variante Delta atinge até Israel e põe em xeque planos de reabertura pelo mundo

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País poderá exigir quarentena de pessoas que tiveram contato com infectados e retomou uso de máscaras em determinados locais; realização de finais da Euro 2020 é questionada por autoridades sanitárias.


O avanço da variante Delta do novo coronavírus pelo mundo, apontada como mais letal e mais contagiosa por autoridades de saúde, vem provocando uma explosão no número de novos casos em vários países e pondo em xeque os planos de retomada até em nações onde a vacinação está avançada, como Israel, que começaram a reimpor medidas restritivas. O órgão de prevenção de doenças da União Europeia (UE) indicou nesta quarta que, até o fim de agosto, 90% dos novos casos de Covid-19 no bloco poderão ser causados pela variante Delta.

Em Israel, país que já vacinou com duas doses quase dois terços da população e que praticamente não observava mais medidas de restrição de contato, foram registrados na segunda e terça-feira  mais de 100 novos casos diários. O novo surto ocorreu em sua maioria no sistema educacional da cidade de Binyamina-Giv’at Ada, no Norte. A área foi colocada no alerta laranja, o que indica um contágio “moderado” — é a primeira vez que a classificação é usada desde abril.

Por causa das infecções, o governo apertou o cerco especialmente em pontos de chegada do exterior, como aeroportos e postos de fronteira, e poderá impor uma quarentena obrigatória de 14 dias para quem esteve em contato com pessoas contaminadas. A medida vale inclusive para aqueles que já foram vacinados. Máscaras voltam a ser obrigatórias em aeroportos, postos de fronteira e instalações médicas — restrições de viagem a países como o Brasil, Argentina e México seguem em vigor.

Estudantes em escolas com casos de Covid-19 precisarão ficar em quarentena, e os pais serão obrigados a pagar multa de 5 mil shekels (R$ 7,6 mil) caso o isolamento seja violado. Ao mesmo tempo, as autoridades fazem um apelo para que os mais jovens sejam vacinados — as doses da Pfizer estão disponíveis a pessoas entre 12 e 15 anos desde o mês passado.

Mais agressiva

Na segunda-feira, a Organização Mundial da Saúde (OMS) afirmou que a variante Delta, que caminha para se tornar a predominante no planeta, espalha-se mais rapidamente e é mais letal que as demais variantes. Segundo o Centro Europeu de Prevenção e Controle de Enfermidades (ECDC), essa variante deve representar 90% de todos os novos casos na UE até o final de agosto. Países como a Noruega apresentam as mesmas projeções para as próximas semanas.

Na Rússia, a variante é apontada como responsável por uma forte elevação no número de casos em Moscou: foram mais de 9 mil infecções diárias nos dias 18 e 19 de junho, chegando a 6.534 nesta quarta. A capital russa registrou nesta quarta-feira 548 mortes, o maior número para um só dia desde fevereiro. Os contágios estão “em alta em todas as regiões da Rússia” e há uma “disseminação explosiva da doença”, alertou a vice-primeira-ministra da Saúde, Tatiana Golikova.

— A situação se tornou explosiva,  e continuará difícil — disse o prefeito de Moscou, Serguei Sobianin.

Apesar de as vacinas serem eficazes contra a variante — no caso da Pfizer, a eficácia é de 88%, contra 97% para evitar casos sintomáticos da versão “original” da doença ou 93% no caso da variante Alfa — existe a possibilidade de infecção mesmo entre pessoas imunizadas.  Na prática, isso significou uma mudança nos planos de retomada em muitos países que já visavam o retorno de turistas e da plena atividade econômica já no final do primeiro semestre.

É o caso de Portugal, que teve quase 1,5 mil novos casos na terça-feira, maior número desde fevereiro, um aumento que coincide com a reabertura a turistas vindos de países como o Reino Unido, onde a variante Delta prevalece. Para conter os novos casos no país, o governo português tenta aumentar o percentual da população plenamente vacinada, hoje em 30%.

Também por causa do aumento de casos, o Reino Unido adiou em quatro semanas a reabertura completa do país. Na terça-feira, a média de novas infecções ficou em torno de 10 mil, oito mil a mais do que a média de um mês atrás. As autoridades afirmam que 99% dos casos são relacionados à variante Delta. Mesmo assim, o premier Boris Johnson disse, na semana passada, estar confiante de que a reabertura, agora prevista para o dia 19 de julho, vai ocorrer como previsto.

Mas fora do Reino Unido há preocupação com o ritmo das infecções no país. Nesta quarta-feira, a chanceler alemã, Angela Merkel, defendeu que os países da UE  imponham uma quarentena de 14 dias a todos passageiros vindos de cidades britânicas, como ocorre na Alemanha. Em discurso ao Parlamento, ela disse que “a pandemia ainda não acabou. Ainda estamos pisando em gelo fino”.

Alertas esportivos

Autoridades sanitárias e mesmo lideranças europeias também questionam os planos do Reino Unido de abrir os estádios para até 60 mil pessoas para as semifinais e a final da Euro 2020, previstas para julho. O premier italiano, Mario Draghi,  defendeu uma mudança de local, mas a Uefa, a instituição que comanda o futebol no continente, disse “não ter planos” para levar os jogos a outros países.

Outro evento esportivo que preocupa são os Jogos Olímpicos de Tóquio, que começam daqui a 30 dias. A capital japonesa deixou de lado o estado de emergência, mas especialistas alertam que o cenário pode mudar com o fim de algumas restrições e a chegada de milhares de atletas, treinadores e jornalistas ao país. Todos estarão sujeitos a testes diários e regras dentro da Vila Olímpica e de arenas esportivas — os (poucos) espectadores não poderão falar alto, beber álcool ou confraternizar com outros torcedores. Apenas pessoas com residência no Japão podem comprar ingressos.

Na Austrália, um dos locais no mundo onde a pandemia está mais sob controle, foram impostas medidas locais de controle em Sydney, incluindo o uso de máscaras em locais fechados, para conter o avanço de casos da variante Delta, localizados em áreas de grande movimento da cidade. Esse cenário levou a Nova Zelândia a elevar o nível de alerta, ainda mais depois de um turista australiano testar positivo depois de passar o fim de semana no país. Desde abril, viajantes entre os dois países não precisam mais se submeter a quarentenas obrigatórias.

*Com informações do oglobo