Autismo x pandemia: psicóloga dá dicas sobre as crianças

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Quebra da rotina pode causar estresse e irritabilidade em crianças autistas; especialista explica como acompanhar casos em casa.


Que a pandemia do Coronavírus alterou o cotidiano e as rotinas da população, principalmente por conta do isolamento social, não é mais novidade. Porém, existe um grupo específico para o qual essa mudança, do ‘dia para a noite’, teve um impacto muito maior: as famílias com pessoas diagnosticadas com o Transtorno do Espectro Autista (TEA).

O TEA é um transtorno de neurodesenvolvimento, caracterizado por três áreas do desenvolvimento humano: linguagem, habilidades socioemocionais e atenção compartilhada. Atualmente, a prevalência do diagnóstico é um a cada 54 crianças.

A existência de uma rotina é crucial na vida de um autista. Diariamente, famílias de crianças e adolescentes portadores de Transtorno do Espectro Autista encaram enormes desafios para amenizar o cenário e promover o desenvolvimento de seus filhos.

Pensando neste público, a psicóloga do SanSaúde, Tainan Roberta Martins de Oliveira, explicou que o isolamento social trouxe prejuízos no desenvolvimento, com aumento da ansiedade, piora na rotina em geral, inclusive a do sono, aumento no uso de eletrônicos e nível de irritabilidade. Essas consequências estão relacionadas a falta da socialização e rotina de terapias.

Rotinas são importantes

Tainan destacou que a rotina é importante na vida de qualquer criança, seja com desenvolvimento típico ou atípico. “Os pequenos com TEA se organizam melhor com a rotina porque as coisas são mais previsíveis e elas sabem antecipadamente o que irá acontecer. Transformações repentinas no cotidiano podem provocar alterações emocionais e comportamentais, ou seja, a criança ou adolescente fica mais agitada, ansiosa e agressiva”, disse.

Para auxiliar neste processo, é importante a família manter uma rotina muito bem estabelecida com a criança (ajuda na previsibilidade do dia), estabelecendo regras claras e objetivas. “Mostre o que pode ou não fazer em casa, ajudando a eliminar comportamentos inadequados e mantenha as orientações e atividades oferecidas pelos profissionais que acompanham o pequeno”, frisou a psicóloga.

Dicas

Uma dica essencial é fazer com que aquela interação social seja prazerosa para a criança, que precisa estar motivada dentro da atividade. Seguem algumas sugestões de brincadeiras divertidas e que contribuem para o desenvolvimento:

– Brincadeiras sensório social (pega-pega, cócega, jogar a criança pra cima..): São atividades que aumentam a interação social, desenvolve o contato visual e engajamento social, além de ser muito divertido.

– Bolhas de sabão: As crianças ficam encantadas com as bolhas, através delas podemos desenvolver contato visual, imitação, também conseguimos trabalhar conceitos espaciais (alto, baixo) entre outros.

– Massinha de modelar, Slime, areias: São ótimas para desenvolver a parte sensorial, pois são texturas diferentes, além de trabalhar a imaginação, use e abuse da sua criatividade.

Sintomas

Para que o diagnóstico seja ainda mais precoce, a psicóloga ressaltou algumas perguntas:

– Contato Visual: Quando chamo a criança pelo nome ela olha de primeira? De 10x que a chamo, quantas vezes ela olha? Quando aponto um objeto ela direciona o olhar?

– Interesse restrito ou estereotipado: A criança utiliza o brinquedo/objeto de forma funcional? Quando encontra uma fonte de interesse faz de forma repetitiva?

– Seguimento de comandos: A criança segue comandos sejam eles rotineiros ou comandos novos que não fazem parte da sua rotina?

– Atrasos da fala e Comunicação não verbal: A criança tem atrasos na fala? A criança utiliza a comunicação não verbal de forma adequada? por exemplo: apontar para o objeto que ela deseja. Geralmente a criança com o espectro também tem atrasos na comunicação não verbal e não à utilizam de forma adequada.

– Imitação: A criança imita ações de adultos ou outras crianças com ou sem objetos? A imitação é um repertório importante para novas aprendizagens, a criança com TEA tende a fazer menos imitação e geralmente ela ignora aquilo que eu estou mostrando e faz do seu próprio jeito.

Tainan frisou que, muitas vezes, a criança pode fazer determinados comportamentos, porém apresentam menos do que o esperado para sua faixa etária. “Isso não significa uma incapacidade, apenas uma pontuação menor nos marcadores de desenvolvimento. O diagnóstico é feito por profissionais médicos neurologistas ou psiquiatras, com base no Manual Diagnóstico e Estatístico de transtornos mentais”, explicou.

Tratamento

O tratamento consiste em formar novas conexões neuronais, ou seja, estimular novas aprendizagens. “Existem alguns métodos comprovados com sua eficácia cientificamente, um deles é o ABA (Applied Behavior Analysis, na sigla em inglês) cujo o objetivo é potencializar comportamentos adequados e eliminar atitudes inadequadas, promovendo um desenvolvimento cognitivo. Há também outras técnicas como TEACCH e PECs, que utilizam figuras e imagens para criança se comunicar e se organizar dentro da rotina”, afirmou.

Tainan reforçou a importância da equipe multidisciplinar, com fonoaudiólogo, terapeutas ocupacionais, psicólogos e fisioterapeutas.