O medo de ser infectado ou em ter algum familiar infectado pelo novo coronavírus, ou até mesmo o isolamento social, pode contribuir no desencadeamento de transtornos mentais como a depressão e a síndrome do pânico.
Andrea Anciaes
Impossível não notar o quanto a pandemia de Coronavírus (COVID-19) mergulhou grande parte das pessoas na incerteza e as constantes notícias sobre o vírus que assola o país e o mundo podem parecer implacáveis. E tão importante quanto cuidar da saúde física, é manter o equilíbrio emocional.
O vírus já está entre nós, as medidas de confinamento já foram determinadas e não há mais como ignorar essa situação.
Preocupar-se com as notícias é de fato hoje comum e até mesmo desejável para estarmos em segurança, mas, para muitas pessoas, isso pode piorar os problemas já existentes. É muito para absorver e para aqueles que já possuem predisposição para depressão e síndrome do pânico se torna cada dia mais complicado.
Medo de perder o controle e se tornar incapaz de suportar tantas incertezas são características comuns de muitos transtornos de ansiedade.
Diante disso, é mais do que compreensível que muitas pessoas com ansiedade e depressão estejam enfrentando desafios nesse momento de pandemia e quarentena e o pior de tudo é que essas pessoas muitas vezes passam despercebidas por medo e até vergonha de expor seus sentimentos diante disso tudo!
Surtos de doenças infecciosas, como o atual Coronavírus, trazem sim temor para muitos, afetando e prejudicando diretamente a condição física. E a necessidade de isolamento acaba ampliando o problema.
Diante do exposto acima, existem muitas coisas que podemos fazer para apoiar e gerenciar nosso bem-estar e manter o equilíbrio das emoções durante o período de quarentena. Assim sendo, tanto quanto nos preocuparmos com nossa saúde física, precisamos aprender a lidar com os nossos sentimentos, emoções e medos durante esse período de afastamento social.
Pelos próximos tempos, passaremos muito tempo em casa e a maioria de nossas atividades sociais regulares não estarão mais disponíveis ou acessíveis.
Tentar enxergar a quarentena do Coronavírus como um período diferente em nossas vidas, não necessariamente ruim, pode facilitar e muito, a passagem desse período! Quando aceitamos a vida como ela é, torna-se muito menos doloroso aguentarmos esses momentos difíceis.
Evitem julgar as pessoas e não façam apontamentos sobre quem é o responsável pela disseminação da doença porque isso prejudica ainda mais as pessoas com sintomas de depressão e pânico.
Procurem determinar um limite para a quantidade de tempo que você passa lendo ou assistindo coisas que não estão fazendo você se sentir melhor, tome muito cuidado com “teorias da conspiração”. Elas estão mais fortes do que nunca! Procure fazer outras atividades como assistir filmes e séries, ler livros ou qualquer outra atividade que lhes proporcionem prazer e não desrespeite os limites da quarentena.
Mantenha contato com amigos e familiares através de mensagens de carinho para as pessoas, pergunte sobre como elas estão, coisas do dia a dia, afinal em tempos de proibição de contato físico, as demonstrações de afeto devem ser mais criativas! Vale ressaltar que é muito importante aprender o que é necessário sobre a prevenção da doença e seguir em frente dentro na maior normalidade possível.
“Sintomas psiquiátricos já existentes desencadeiam crises de ansiedade e depressão”, garante psicóloga
Simone Silva Freitas (psicóloga clínica)
“Durante a pandemia, a saúde mental da população brasileira, sem dúvida, sofreu um grande impacto. O medo do contágio, a necessidade de distanciamento social, a instabilidade política, a perda econômica, o home-office, a solidão e o próprio convívio familiar em tempo integral são alguns fatores que contribuíram para piorar sintomas psiquiátricos já existentes ou desencadear crises de ansiedade e depressão. Para ilustrar o problema cito uma pesquisa da UERJ realizada com 1460 pessoas de 23 estados brasileiros que aplicou em dois momentos questionários online (em Março de 2020 e em Abril de 2020). Nesse período, a prevalência de pessoas com estresse agudo foi de 6,9% para 9,7%, nos 2 momentos de coleta; a depressão foi de 4,2% para 8,0% e crises agudas de ansiedade foram de 8,7% para 14,9%. Isso mostra o que percebo em minha prática clínica. Num projeto voluntário que faço parte nesse período percebi desde jovens até idosos apresentarem sintomas graves de ansiedade, depressão e até sintomas psicóticos. Muitos desses começaram a desencadear sintomas após a pandemia.”
- Simone Silva Freitas é Psicóloga Clínica, Mestre em Psicologia, Professora da Universidade Estácio de Sá- RJ e Coordenadora do CETTAO (Clínica de Estudos e Tratamento em Transtornos alimentares e Obesidade)
A pandemia do Coronavírus irá passar e precisamos entender que nós continuaremos. Cuide de você para que os danos sejam mínimos, físicos e mentais.
E não se esqueça: juntos atravessaremos esse momento da melhor forma possível!
- Andrea Anciaes é Bióloga e reside em Votuporanga