Por Antoninho Rapassi –
Costumeiramente reverencio este 2 de Outubro porque ele envolve um capítulo marcante na história do Brasil. E essa história começa em uma madrugada do dia 30 de Agosto de 1883, quando Dom Bosco, que viria a ser canonizado como santo da Igreja Católica, teve um estranho e iluminado sonho místico.
Fazendo a leitura das “Memórias Biográficas de São João Bosco” em seu XVI volume, vejo o que ele revelou durante a reunião da Congregação Salesiana realizada poucos dias após ter sonhado e de ter registrado todos os detalhes do profético e maravilhoso sonho. E escreveu assim:
“Por muitas milhas, percorremos uma enorme floresta virgem e inexplorada. Não só descortinava, ao longo das Cordilheiras, mas via até as cadeias de montanhas isoladas existentes naquelas planícies imensuráveis e as contemplava em todos os seus menores acidentes. Aquelas de Nova Granada, da Venezuela, das Três Guianas, as do Brasil, da Bolívia, até os últimos confins. Eu via as entranhas das montanhas e o fundo das planícies. Tinha sob os olhos as riquezas incomparáveis desses países, as quais um dia serão descobertas. Via numerosas minas de metais preciosos e de carvão fóssil, depósitos de petróleo abundantes que jamais já se viram em outros lugares. Mas isso não era tudo. Entre os paralelos 15 e 20 graus, havia um leito muito largo e muito extenso, que partia de um ponto onde se formava um lago. Então uma voz disse repetitivamente: “Quando escavarem as minas escondidas no meio desses montes, aparecerá aqui a Grande Civilização, a Terra Prometida, onde correrá leite e mel. Será uma riqueza inconcebível. E essas coisas acontecerão na terceira geração.” (sic)
O primeiro fato curioso e que precisa ser destacado aqui é que, em 1955 quando a área de Brasília foi aprovada, em consequência da Missão Militar do Marechal José Pessoa, a região da futura capital da República do Brasil está situada entre os paralelos 15º30´, e 16º03´, entre os rios Preto e Descoberto.
Tendo feito seus estudos preliminares em colégios católicos na cidade de Diamantina, Juscelino Kubitschek conhecia esse sonho-profecia e que tanta força espiritual lhe deu, quando se defrontou com a desafiante missão de construir a nova capital do Brasil, certo de estar enveredando sua vida no caminho da predestinação.
Sobre o argumento de que tudo aconteceria na terceira geração, se for considerado um período de 20 anos para cada geração, fica claro que a década dos anos 50 seria então, a mencionada “terceira geração”.
Decorridos quase 200 anos de intensos estudos e de heroicas missões militares, finalmente aprovou-se o quadrilátero de 14.400 quilômetros quadrados e distante 970 quilômetros do Rio de Janeiro, para então cumprir-se o dispositivo constitucional para erguer ali a nova capital da República.
Em 4 de Abril de 1955, na cidadezinha goiana de Jataí, ao inaugurar a sua campanha para a presidência da República, ao final do seu discurso o candidato foi aparteado por um jovem que a tudo ouviu e pronunciou a frase que mudou os destinos do Brasil Central. O jovem era Antônio Soares Neto e o que disse, foi:
“O senhor disse que, se eleito, vai cumprir a Constituição Brasileira. E quanto ao artigo quarto das Disposições Transitórias da Constituição, que diz expressamente sobre a transferência da capital do Brasil, para o Planalto Central?” E a resposta do candidato JK ao jovem de 27 anos foi assim: “Você me pegou nessa, mas eu garanto que, se for eleito transferirei a capital do Brasil, aqui para o Planalto Central”.
O povo entrou em delírio, aplaudiu, gritou e a notícia logo se espalhou. A pergunta marcou a vida do meu querido e saudoso amigo, Toniquinho! JK, naquele momento criava a meta-síntese do seu governo. E o Brasil virava a última página de um livro. A partir daí, tudo mudou e o nosso país começou a viver uma epopeia.
A epopeia do Brasil gigante. Mas, o que aconteceu no dia 2 de Outubro?
Foi neste dia, no ano de 1956 em que, pela primeira vez o presidente JK desceu numa pista improvisada no cerrado, aos trancos e barrancos, para conhecer o terreno onde, durante três anos e 10 meses ergueu a Capital da Esperança.
À tarde, antes de voltar para o Rio de Janeiro, escreveu estas palavras no livro de ouro:
“Deste Planalto Central, desta solidão que em breve se transformará em cérebro das altas decisões nacionais, lanço os olhos, mais uma vez sobre o amanhã do meu país e antevejo esta alvorada, com fé inquebrantável e uma confiança sem limites no seu grande destino.”
Juscelino Kubitschek, 2 de Outubro de 1956
Americana – 02 de Outubro de 2021