
‘Aquele que diz sim, aquele que diz não’, chega ao palco do Teatro Municipal de São José do Rio Preto com entrada gratuita


@caroline_leidiane
O Teatro Municipal “Humberto Sinibaldi Neto”, em São José do Rio Preto, recebe na próxima terça-feira (18), às 20h, 28 estudantes do IFSP Votuporanga para a encenação de “Aquele que diz sim, aquele que diz não”.
A peça, escrita por Bertolt Brecht em 1930, integra o ciclo das obras didáticas do dramaturgo alemão e foi escolhida por dialogar diretamente com o caráter formativo que orienta o teatro-escola desenvolvido no campus desde 2017.
Professor de Língua Portuguesa e Espanhol há mais de 35 anos, além de ator e diretor, Eduardo César Catanozi assina a direção geral do espetáculo. Ele explica que Brecht concebeu essas peças como instrumentos de aprendizagem, com foco na prática teatral e no pensamento crítico. Por isso, a obra se adequa ao perfil dos jovens atores do IFSP. Segundo ele, o dramaturgo “não buscava produzir teatro para espectadores, mas teatro para ser praticado”, priorizando o processo pedagógico e a formação dos próprios estudantes.
O enredo conta a história de um menino que se junta a uma expedição perigosa para buscar remédios para sua mãe doente. Ao adoecer no caminho, sua permanência é questionada, e o coletivo debate se deve mantê-lo ou abandoná-lo em nome da missão.
Para Catanozi, a história instiga reflexões que ultrapassam o dilema moral e desafiam os alunos a pensarem sobre quem define as regras e por quê.
“A peça incentiva o aluno a não aceitar regras ‘porque sempre foi assim’, mas a analisá-las à luz da ética, da justiça, da solidariedade e da necessidade cotidiana. Para os alunos, isso revela que a arte não é só entretenimento, mas um espaço de transformação social, de tomada de consciência e de exercício de cidadania”, explana o diretor.
As escolhas cênicas também seguem as propostas brechtianas, com elementos simples e funcionais. Todos os objetos e estruturas usadas no cenário foram retirados do Laboratório de Edificações, ambiente com o qual os estudantes já estão familiarizados. O processo de ressignificação desses materiais fez parte da experiência, aproximando prática técnica e criação artística.
“Em vez de cenários realistas e efeitos grandiosos, Brecht defendia a utilização de objetos cotidianos utilizados de forma representativa, não imitativa”, explica Eduardo.
A diretora musical Anna Isabel Nassar Bautista da Rocha conduz a trilha executada ao vivo, com composições próprias inspiradas na ópera homônima de Kurt Weill. A montagem conta ainda com a participação de outros dois professores-músicos Ivair F. de Amorim (acordeão) e Domício M. S. Junior (contrabaixo), além dos alunos convidados Maria Fernanda G. Brigati (violino) e João Fernando F. Parreira (voz), reforçando o caráter colaborativo do projeto.
Para além da dimensão artística, o teatro tem se mostrado uma ferramenta efetiva no desenvolvimento de competências socioemocionais entre os alunos das áreas técnicas. Ao lidar com negociações de cena, desafios corporais, conflitos dramatúrgicos e exposição ao público, os jovens ampliam autoconfiança, escuta ativa, cooperação e comunicação assertiva, habilidades essenciais tanto para a vida quanto para a atuação profissional.
“Sinto que é um projeto de escola em que os alunos gostam de estudar, pois sabem que estão recebendo educação de excelente qualidade, mas de uma maneira afetiva e humanizada”, observa Catanozi.
O processo de montagem, segundo o diretor, foi marcado por entrega e compreensão madura dos alunos.
“Essa turma de alunos se entregou bastante ao jogo cênico. Tudo o que eu propunha a eles, entendiam o porquê e desenvolviam as cenas sem nenhum tipo de trava. Algumas cenas exigem a integração de acrobacias, e eles executam com muito brilhantismo. Por outro lado, ao longo do processo, eles também iam propondo cenas que faziam muito sentido no contexto, compreenderam a dinâmica do fazer teatral. Nas apresentações ao público, me surpreenderam muito: atuaram como veteranos! Claro que sempre há certa apreensão antes do início do espetáculo, mas isso ocorre mesmo com atores bastante experientes: faz parte do jogo!”, conta o diretor sobre os bastidores.
A recepção do público nas apresentações anteriores — no anfiteatro do IFSP e na 14ª Mostra Deco D’Antônio — tem sido de surpresa e reflexão, contrapondo debates e interpretações que se prolongam para além do teatro. Para os estudantes, esse contato direto com a plateia reforça o aprendizado e evidencia a força dialógica da arte.
“O público tem respondido muito bem, especialmente ao impacto visual do espetáculo, que costuma provocar surpresa e reflexão. Como o sentido da peça não é literal, muitos espectadores saem comentando e tentando elaborar suas próprias interpretações, o que é sempre muito rico. Para os alunos, essa experiência também é extremamente formativa: eles têm a chance de conversar com o público, ouvir impressões e perceber como suas escolhas em cena reverberam”, destaca Eduardo.
Em oito anos de existência, o projeto de teatro escolar do IFSP de Votuporanga cresceu e tornou-se parte da identidade do campus, reunindo professores de diferentes áreas e parceiros externos, como a Prefeitura Municipal de Votuporanga, por meio das secretarias de Cultura e Educação. Segundo o diretor, “é um trabalho que se constrói com muitas mãos”. Em São José do Rio Preto, a apresentação contou com a colaboração da Cia. Fábrica de Sonhos.
“Sempre me emociono e acredito cada vez mais que a arte e o ofício de professor ainda valem muito a pena! E agradeço, de coração, a todos os professores, alunos e apoiadores que embarcaram conosco nessa jornada! E meus agradecimentos mais do que especiais a esses alunos-atores maravilhosos do 3º ano de Edificações 2025! Brilhem muito nos palcos do mundo!”, reconhece Eduardo.
SERVIÇO
Espetáculo “Aquele que diz sim, aquele que diz não” do IFSP Votuporanga
Data: terça-feira (18), às 20h
Local: Teatro Municipal “Humberto Sinibaldi Neto”, fica na av. Brigadeiro Faria Lima, nº 5381, São José do Rio Preto
Entrada gratuita, sem necessidade de retirada antecipada de ingressos
Classificação indicativa não recomendado para menores de 12 anos




