Um Barco Chamado Educação: Esperança em Meio às Tempestades 

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Alberto Martins Cesário, professor e escritor - Foto: Reprodução

Alberto Martins Cesário, professor e escritor 

Imagine um barco navegando em águas revoltas, sem bússola, sem direção, com seus marinheiros tentando, de todas as formas, mantê-lo flutuando. Esse barco é o Brasil, e seus marinheiros, somos nós, professores. Nossa bússola? A educação. Porém, quando a educação é ignorada, nos tornamos marinheiros sem rumo, lutando contra as marés de desvalorização, falta de recursos e políticas públicas inconsistentes. 

Hoje, quero conversar com você, colega de profissão, e com todos que acreditam que a educação é a força que move uma nação. Quero refletir sobre o nosso papel, os desafios que enfrentamos e, mais importante, por que ainda vale a pena acreditar e lutar. 

Nossa sala de aula é nosso convés principal nesta embarcação. Lembro-me da primeira vez que entrei em uma sala de aula. O coração batia acelerado, as mãos suavam, mas lá estava eu, de pé, diante de pequenos olhares curiosos. Eles não sabiam, mas eu também estava aprendendo. Aprendendo a ensinar, a ouvir, a mediar sonhos e a lidar com realidades tão diversas. 

Naquele momento, percebi que a sala de aula é muito mais que um espaço físico. É um laboratório de cidadania, um lugar onde formamos não só leitores, escritores ou matemáticos, mas seres humanos capazes de transformar o mundo. 

Mas, convenhamos, os desafios são imensos. Como navegar em um sistema que, muitas vezes, parece não valorizar o que fazemos? 

Esses são os desafios de ser marinheiro na educação brasileira, um país, meu caro leitor, que parece gostar de testar a paciência dos professores. Salários baixos, turmas superlotadas, falta de materiais básicos e uma infraestrutura que, em muitos casos, deixa a desejar. É difícil não desanimar, não é? 

Para quem está nos anos iniciais do ensino fundamental, a realidade é ainda mais complexa. Nessa etapa, somos responsáveis por apresentar o mundo às crianças, alfabetizá-las e mostrar que aprender pode ser divertido e transformador. No entanto, como fazer isso quando temos que dividir nossa atenção entre 30, 40 ou até 50 alunos em uma única sala? 

E o que dizer das formações continuadas que, na teoria, deveriam nos apoiar, mas que muitas vezes se resumem a palestras descontextualizadas, sem considerar a realidade de cada escola? 

Daí a importância de acreditar, professor tem disso, sempre acreditando em uma realidade melhor. E eu, apesar de tudo, continuo acreditando. E sabe por quê? Porque a educação tem um poder único: ela transforma vidas. 

Quantos de nós já não vimos aquele aluno que chegou à escola desacreditado, talvez negligenciado pela família ou pela sociedade, mas que, ao longo dos anos, foi ganhando confiança, aprendendo e se descobrindo? Quantas histórias de superação não carregamos em nossos corações? 

Ser professor é plantar sementes. Nem sempre vemos os frutos, é verdade, mas eles estão lá, crescendo, muitas vezes silenciosamente. 

Mas quero deixar aqui uma crítica construtiva: precisamos de bússolas melhores. Não podemos ignorar que a educação brasileira precisa de mudanças estruturais. Investir nos professores, nas escolas e, principalmente, nas crianças deveria ser prioridade máxima de qualquer governo. 

É urgente valorizar os professores, não digo apenas com salários dignos, mas com respeito e reconhecimento. Somos profissionais essenciais, e isso precisa ser refletido em políticas públicas consistentes, só assim reestruturamos o sistema, pois não adianta encher as salas de crianças se não houver qualidade no ensino. Precisamos de turmas menores, materiais didáticos adequados e infraestrutura decente. Sem falar nas formações continuadas, elas devem ser eficazes, chega de teoria desconectada, precisamos de formações que considerem nossa realidade, que nos ofereçam ferramentas práticas e que respeitem nosso tempo. 

Sei que não é fácil, mas temos que ter forças para continuar remando. Quantas vezes não pensamos em desistir, em buscar outra profissão, em abandonar esse barco que parece estar afundando? Mas, colegas, precisamos lembrar que somos nós que fazemos a diferença. 

Quando ensinamos uma criança a ler, a contar, a se expressar, estamos construindo um futuro melhor. Cada pequena conquista em sala de aula é um passo para um Brasil mais justo, mais humano. 

E não estamos sozinhos. Somos uma comunidade de marinheiros. E, juntos, podemos remar contra qualquer tempestade. 

Por fim, quero deixar um convite. Vamos olhar para a nossa profissão com o respeito e a esperança que ela merece. Vamos cobrar mudanças, sim, mas sem perder a fé no poder transformador da educação. 

E você, que não é professor, mas que está lendo este texto, pergunte-se: como posso contribuir para valorizar a educação no Brasil? Como posso apoiar os marinheiros deste barco chamado futuro? 

Ser professor no Brasil é um ato de resistência, de coragem, de amor. E, enquanto houver crianças sonhando, aprendendo e crescendo, continuaremos remando, porque acreditamos que vale a pena. 

Então, colega, levante-se. Ajuste suas velas. Lembre-se: um barco à deriva só encontra o rumo se seus marinheiros persistirem. A educação é nossa bússola, e você é parte fundamental dessa jornada. 

Juntos, podemos levar este barco para águas mais calmas, por um Brasil que valoriza seus professores e acredita na educação.

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